O alcoolismo é uma doença considerada progressiva e que atinge cerca de 13% da população. A Sociedade Brasileira de Alcoologia estima em 20 milhões o número de alcóolicos no Brasil. Além da possibilidade de abrir portas a outros vícios, a dependência de álcool se apresenta como causa de inúmeras enfermidades, com destaque para a cirrose, hipertensão arterial e alguns tipos de câncer.
O consumo abusivo de bebidas alcóolicas também implica em problemas como violência familiar ou urbana e acidentes de trânsito, entre outros, e responde por 30% das internações hospitalares e metade das internações psiquiátricas. “É, sem dúvida, uma questão de saúde pública. O importante é que há tratamento para o dependente e também para toda a família e este tratamento é gratuito”, declara Fernanda Costa Nunes, psicóloga da gerência de saúde mental da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Algumas unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) atendem alcoolistas e outros dependentes. São os chamados CAPs-Álcool e Drogas (CAPs-AD). Também há outras alternativas, conforme ressalta o psicólogo e coordenador do Grupo de Trabalho de Álcool e Drogas do Conselho Regional de Psicologia, Alfredo Santana. “Existem comunidades terapêuticas que realizam internações para desintoxicação e enfrentamento ao vício. Muitas com trabalhos sérios e de resultado, mas é preciso conhecer cada trabalho e se adequar às necessidades do paciente”, orienta.

Mudança de vida

Sebastiana Divina teve o primeiro contato com a bebida ainda na infância, antes mesmo dos 8 anos de idade. “Meu pai bebia e achava engraçado ver os filhos pequenos de fogo. Morávamos na roça e entendo que ele não fazia por maldade. Ele não imaginava que aquilo poderia ser um problema no futuro”, conta. Mas o álcool seguiu presente na vida de Sebastiana até 8 anos atrás, quando ela decidiu abandonar o vício. “Não foi fácil. O álcool se apresenta às famílias como algo quase inocente, mas ele é capaz de provocar estragos. É uma droga lícita e que pode, inclusive, levar à dependência de outras drogas”, avalia.
Atualmente, Sebastiana Divina coordena uma das unidades do Centro de Recuperação de Alcoólatras (Cerea), em Goiânia. A entidade trabalha no combate ao vício, tendo como princípio o resgate do ser humano, seus valores e dignidade. Neste 9 de dezembro, quando se comemora o Dia do Alcoólico Recuperado, ela faz o alerta: “Não existe um alcoólico ou alcoólatra recuperado. A luta contra o vício é permanente e devemos estar sempre vigilantes para não ter uma recaída”.

Limites

Praticamente todas as pessoas que conseguem superar o alcoolismo defendem que o melhor caminho para não se tornar um dependente é evitar o primeiro gole. E ele chega por motivos diversos: a experimentação entre amigos, na adolescência; para preencher a sensação de vazio provocada por alguma perda, seja ela sentimental ou material; como fuga por alguma frustração; ou simplesmente para comemorar algo, como agora, nas festas de fim de ano.
Embora haja incontáveis exemplos dos estragos provocados pelo alcoolismo, o psicólogo Alfredo Santana ressalta que não é necessária uma postura extremista de combate à bebida, mas sim o cuidado em seu consumo. “Demonizar o álcool não é o melhor caminho. Há pessoas que não bebem nada, outras que fazem o chamado uso social, aquelas que abusam e as que se tornam dependentes do álcool. O ideal é evitar a evolução nesses quatro estágios, mas o consumo moderado, com parcimônia, não é um problema e nem configura vício”, conclui.