As novas tecnologias no ambiente escolar já são uma realidade. Isso inclui a inteligência artificial. O assunto foi tema da mesa “Dilemas da tecnologia na escola” no segundo dia do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca).

Nesse sentido, a sessão reuniu três especialistas no tema. Entre eles o pesquisador Cláudio Miceli de Farias, professor de Engenharia de Sistemas e Computação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo ele, não se deve “vilanizar” as novas tecnologias. “Como toda tecnologia, o ChatGPT é uma ferramenta e não deve ser mistificada como um oráculo”, explica o professor. 

De acordo com Miceli, uma inteligência artificial (IA) como o ChatGPT, por exemplo, se baseia em sistemas probabilísticos. Ou seja, existe a probabilidade de ela acertar ou não nas informações fornecidas. “O ChatGPT erra e muito, e o docente deve ser um curador do conteúdo [para os alunos]”, conclui. 

Já para a consultora de projetos de aprendizagem digital da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) Lúcia Dellagnelo, “nenhuma tecnologia é ruim ou boa, a questão é a intencionalidade de quem a usa”. Dellagnelo completa dizendo que “a tecnologia não deve ser um fim em si mesma”.

Além disso, especialistas entendem que não se deve supervalorizar a tecnologia, e sim debater sobre ela. “A política deve ser de educação digital e não de conectividade. A conectividade é um insumo”, afirma a consultora.

Ademais, segundo a coordenadora da Ação Educativa, Juliane Cintra, é tarefa do governo federal pensar políticas públicas para uma educação digital. Além disso, ela precisa ser abrangente a todas as minorias sociais possíveis. Para ela, as iniciativas desenvolvidas nas escolas deveriam ser consideradas na formulação de políticas públicas.

“É preciso partir das diferentes realidades, elaborações e necessidades relacionadas à tecnologia para compreender as desigualdades e construir processos de pertencimento”, pondera.

Tecnologia reduz desigualdades, porém…

O relatório da Unesco “A tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, deste ano, mensura a desigualdade tecnológica no mundo. Conforme o documento, 40% das escolas primárias (equivalente ao ensino fundamental 1) e 50% das escolas do primeiro nível da educação secundária (ensino fundamental 2) no mundo estão conectadas à internet. Outrossim, no caso das unidades de ensino do segundo nível do secundário (ensino médio), somente 65% das instituições possuem conectividade. Ou seja, grande parcela dos estudantes em todo o mundo segue sem acesso algum à internet.

Segundo Lúcia, existem pesquisas que indicam que a desigualdade tecnológica no Brasil está diminuindo. Isto é, mais escolas e estudantes possuem computadores e celulares, dessa maneira conteúdos educacionais disponíveis via internet tendem a ter mais acessos.

Porém, esses avanços devem passar por uma problematização. Miceli exemplifica essa necessidade através das aulas remotas durante a pandemia de Covid-19. “Ninguém durante a pandemia teve um ensino a distância, isso é uma falácia, o que houve foi um ensino digital emergencial, sem nenhuma metodologia definida”, afirma o professor.

Para Miceli, esse debate é essencial, pois o aluno vai utilizar as ferramentas tecnológicas disponíveis. É o que mostraram relatos de estudantes num vídeo apresentado durante a mesa. Por isso, segue o professor, a sugestão é que os educadores expliquem aos seus estudantes que “nas matérias criativas, o ser humano ainda é muito importante”.

Lúcia Dellagnelo concorda com essa visão e exemplifica isso através da metodologia de ensino aplicada na Finlândia. Segundo ela, os educadores do país nórdico acreditam que, em certas disciplinas, o ideal é priorizar a experiência humana e métodos analógicos de ensino.

Com informações da Jeduca

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 04 – Educação de Qualidade

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