Dalzira Maria Aparecida, mais conhecida como dona Iyá, é um exemplo de superação. Aos 81 anos, ela defendeu sua tese “Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública” e se tornou doutora em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

Assista a entrevista na íntegra:

Antes disso, dona Iyá cursou o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que começou aos 47 anos. Também graduou-se em Relações Internacionais aos 63 anos. E fez mestrado com 72 anos. “É uma trajetória longa. Ela começa na área rural para vir para a área urbana e isso já é uma grande mudança. Porque do rural para a urbanização a gente tem que se recriar novamente”, disse.

Dona Iyá relatou muitas dificuldades em toda sua caminhada, como a necessidade de conciliar trabalho com estudos e no aprendizado dos conteúdos. Mas a maior barreira mais difícil que foi preciso superar foi o preconceito. 

“Foi muito trabalhoso. A compreensão dos professores e dos mestres para estar entendendo, acompanhar o mesmo nível das outras pessoas que fizeram o curso, que já é mais apropriada. Aquela pessoa que estudou na infância, que brincou com massinha e depois desenvolveu, eu creio que a coisa começa por aí. E quando a gente começa na fase adulta, além de enfrentar as dificuldades que se tem para estudar, tem também o preconceito de quem vai lidar com a gente e transmitir esse conhecimento. Essa parte foi a mais difícil”, contou.

Desafio

Dalzira é Iyalorixá do Candomblé. E a religião de matriz africana é um de seus temas de estudo, que inclui também educação, relações étnico-raciais, mulher negra e movimento negro. A doutora em educação afirmou que gostaria de ter tido mais tempo para estudar o tema por causa do momento que vive o país. 

“Eu gostaria que tivesse sido mais cedo para eu usufruir mais desse curso. Foi um tema que escolhi por conta do processo que a gente está enfrentando aqui no Brasil. […] eu  quis que fosse colocado em forma de entrevista. Entrevistei três mulheres negras, professoras que tivessem mais de dez anos de magistério. E elas que deram o tom da religião dentro da tese”, relatou.

Dona Iyá ressaltou que o maior desafio foi enfrentar o preconceito. Ela relatou que em alguns momentos vivia com jornada de até 12 horas de trabalho para ganhar um pouco mais com hora extra.  Foi preciso fazer cursos. Teve dificuldades com alimentação. Com sono. Lembrou que era muito trabalhoso, mas que tinha muita vontade de aprender. 

“Quando entrei na faculdade para fazer a primeira graduação foi muito difícil. Sofri muito preconceito de professoras que eu tinha na época que estava terminando o curso de Relações Internacionais. Uma das professoras de Direito Internacional Público eu tinha sete na primeira nota, que era semestral. No final do curso ela me tirou essa nota que eu já tinha adquirido e colocou na minha nota 0,00 e 0,00. Foi como se eu não tivesse ido nenhum dia para a aula. Essa foi uma coisa que me marcou muito. Mas eu fui pulando os obstáculos e a gente vai passando pomada nessa ferida, porque se não sara, pelo menos cria uma casca e fica mais leve”, relatou.

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