O diretor do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (IF-UFG), professor Lauro June Queiroz Maia, é um dos autores de artigo citado como referência científica para embasar a escolha do Prêmio Nobel de Física 2021. A publicação em questão, intitulada “Observation of Levy distribution and replica symmetry breaking in random lasers from a single set of measurements”*, foi veiculada na Scientific Reports, em 2016 (doi: 10.1038/srep27987).
Feito em colaboração científica entre a UFG e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o artigo traz um estudo do efeito de laser randômico em um material inovador, o borato de ítrio (YBO3) dopado com íons neodímio, que foi sintetizado no IF-UFG e explorado como plataforma fotônica para estudos de sistemas complexos.
Para isto, foi usado o modelo matemático proposto pelo Parisi, um dos ganhadores do Nobel de Física. A partir daí, foi observada boa correlação entre as medidas ópticas de emissão laser randômico, que inclusive permitem caracterizar outros sistemas lasers randômicos (nanolasers), o que inclui nanodispositivos baseados em plasmônica, cristais fotônicos e bio-derivados. A natureza estatística da emissão gerada nos lasers randômicos pode impactar em melhor resolução de microscópios, além de avanços inclusive na pesquisa do câncer.
“Neste artigo nós pudemos comprovar a teoria dele utilizando um sistema fotônico, um laser, e isso permitiu, além de comprovar, a utilização do modelo para explicar outros fenômenos físicos que acontecem em outros sistemas que ainda não havia explicações, e abrir perspectivas para uso em sistemas mais abrangentes e complexos”, explicou o professor Lauro Maia, em entrevista ao Sagres Sinal Aberto II desta quarta-feira (13).
Assista à entrevista na íntegra a seguir a partir de 00:13:00
Os vencedores do Nobel de Física deste ano foram escolhidos dentro do tema “For Groundbreaking Contributions to Our Understanding of Complex Physical Systems”. Os laureados são o físico italiano Giorgio Parisi (Sapienza Università di Roma), teórico dos sistemas complexos; o japonês Syukuro Manabe (Universidade de Princeton, Estados Unidos); e o alemão Klaus Hasselmann (Instituto Max Planck de Meteorologia, da Alemanha), que trabalham por um modelo físico do clima da Terra.
A escolha do Comitê Nobel de Física é baseada em um relatório conhecido como antecedentes científicos do Prêmio Nobel de Física 2021, com publicações científicas de alto impacto como referência. De acordo com o documento, o Nobel de Física deste ano se concentra na complexidade dos sistemas físicos das maiores escalas experimentadas por humanos, como o clima da Terra, às menores, como a estruturas microscópicas e dinâmicas que ainda são misteriosas, como o vidro.