Neste domingo acontece a estreia do Atlético Clube Goianiense diante do Corinthians, um dos maiores clubes do país. Na segunda rodada é o São Paulo, outro gigante. O rubro negro está mais uma vez inserido em uma competição que não tem jogo fácil.
O companheiro Paulo Maskote escreveu um texto, que compartilha aqui neste espaço para que o torcedor tenha a dimensão da importante do desafio que bate à porta do clube, que é o único representante do estado na disputa.
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O dia 30 de maio de 2021 marca a décima segunda vez que o Dragão Goiano irá jogar a principal competição nacional de futebol do país, aquela onde jogam os maiores clubes e que dá acesso à Copa Libertadores da América, sua estreia foi em 1965 e a última participação em 2020.
O Atlético chega para a atual edição do Brasileirão após uma campanha marcante no ano anterior, e, ainda, vindo de uma Copa Sulamericana, à qual jogou o último jogo há menos de dez dias, em que terminou invicto e com vitórias históricas fora do país.
Em 2020 o Dragão goleou o campeão Flamengo e ganhou de todos times cariocas durante a competição. Nosso rubro negro encantou o Brasil com seu charmoso e tradicional Estádio Antônio Accioly, com seu amado e único Alambrado. O “mais querido dos goianos” venceu gigantes como o São Paulo bem ali, no nosso berço, no Bairro de Campinas. As expectativas não podiam ser melhores para esse ano não é ? Mas muita gente deve se perguntar, de onde vem esse Dragão ?
O Atlético é o clube mais antigo e tradicional da capital goiana, tem 84 anos, carrega a marca dos 211 anos do Bairro de Campinas, é um clube fruto de uma Comunidade, e sem dúvida é “o mais raiz dessa Série A”. O Dragão durante muito tempo foi mantido e, aliás, conquistou muito de seu patrimônio graças ao engajamento e apoio dos moradores campineiros e torcedores apaixonados.
A caminhada do Dragão em competições nacionais vem de longa data, e antes é importante lembrar que ao longo dos anos, a nome e o sistema de disputa do Brasileirão foram alterados incessantemente pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, até 1979, e CBF – Confederação Brasileira de Futebol, a partir de 1980). Em 1967 e 1968 por exemplo foram realizados dois Campeonatos, fórmula similar aos torneios Clausura e Apertura, muito utilizada pelos sul-americanos e também pelo México ao longo de suas histórias. Aproveitando cabe aqui uma curiosidade: a nomenclatura “Campeonato Brasileiro” só foi adotada oficialmente em 1989, sendo que nossa atual “Série A” já se chamou Taça Brasil, Taça Ouro, Copa União, Copa João Havelange… e por aí vai. Em 2010 a CBF reconhece oficialmente que todos esses Campeonatos tem o mesmo peso e são os Campeonatos Nacionais “da Série A” (Referências no Site Futbox).
E o Dragão começa a marcar sua trajetória nacional já em 1965, fica em 10º lugar no Campeonato Brasileiro, à época chamado de Taça Brasil, sendo eliminado pelo campeão mineiro, o Siderúrgica-MG, mas deixando a marca histórica de ter realizado o primeiro jogo de competição nacional da história do Mineirão, bem como o 1º gol de jogo interestadual do Estádio, gol do nosso craque Jair Porrete, que o juiz quis apontar como “gol contra” do zagueiro mas que todos que ali estavam registraram que o gol foi mesmo é do Dragão e do Jair. O campeão daquela edição foi nada mais, nada menos, que o Santos de Pelé, Pepe e Coutinho. Será que o nível da competição era alta ?
Em 1968 o Dragão volta a jogar o Brasileiro e dessa vez chega ainda mais longe, um 6º lugar, em uma competição em que o Dragão só foi parado pelo Cruzeiro-MG, um time recheado de campeões do mundo, com Tostão, Piazza, Raul e Dirceu Lopes, craques da Seleção Brasileira. Essa é a melhor colocação da história do Dragão em um Campeonato Brasileiro de Futebol da elite e foi a melhor campanha do futebol goiano em um Brasileirão por 37 anos, marca que só foi batida em 2005.
O rubro negro goiano ainda desfila seu futebol nos Campeonatos Nacionais de 1979, 1980, 1986 e 1987, e nesse período teve vitória sobre o Gremio de Renato Gaúcho, jogos memoráveis contra o Flamengo de Bebeto e Zico, com o Vasco da Gama de Romário e Roberto Dinamite e enfrentando o Santos de Serginho Chulapa. O Dragão mostrou ao Brasil todo o futebol de Valtair, Gilberto, Marçal, Fernando Almeida, Valdeir “ The Flash” e cia, teve públicos memoráveis no Serra Dourada e não se intimidou frente a nenhuma equipe.

Em 2010 após superar todo um período de jejuns (1991 a 2006 sem títulos), ver seu Estádio quase ser destruído, passar por divisão de acesso de campeonato estadual, e mil uma agruras… com a força e paixão de seu torcedor, dedicação de sus dirigentes e a aura histórica do Dragão Chinês… ressurge o Atlético para o Olimpo do Futebol, mais uma vez na série A. Por três anos consecutivos (2010, 2011 e 2012) o Dragão figura no Brasileirão fazendo bonito para todo país, com vitórias memoráveis, goleadas contra São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Flamengo, com direito à classificação histórica para Copa Sulamericana e tudo. Na memória atleticana os gols de Marcão, Juninho, Elias, Diogo Campos, Márcio, e tantos mais, nunca serão esquecidos.
Em 2017 ocorre nossa volta à Série A, o Dragão passa apertado mas não deixa de beliscar aquela vitória gostosa contra o campeão daquele ano, o Corinthians, calando um público de 40.000 pessoas na Arena do alvi negro em São Paulo, golaço de cabeça do zagueirão Gilvan. E se passamos por alguns maus bocados, e mesmo alguns rebaixamentos, isso só nos fez mais fortes para saber valorizar nosso retorno ao Brasileirão em 2020, celebrar a conquista de um 12º lugar concorrendo contra orçamentos milionários, de equipes com folhas salariais infinitamente maiores que a nossa. A festa em nosso Estado em 2020 foi atleticana, contra tudo e contra todos conquistamos nossa melhor colocação no formato de pontos corridos do Campeonato Brasileiro.
Finalizamos o Brasileirão 2020 com o torcedor orgulhoso, afinal né, primeira série A jogada em nosso estádio, rival rebaixado, classificação para competição internacional, uniformes alternativos que renderam elogios de norte a sul do país, um terceiro escudo que também encantou o Brasil todo… Sim, esse foi nosso Dragão em 2020 e essa é a aura de alegria e esperança que nos traz para mais uma edição em 2021. Vamos rumo a escrever mais uma linda página de nossa História.
Ps: Sobre a História do Campeonato Brasileiro de 1959 a 2020 recomendo : https://www.futbox.com/blog/campeonatos/a-historia-do-campeonato-brasileiro.
Paulo Winicius “Maskote” – Diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético Goianiense, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP, Sócio Proprietário do Atlético.