No final do ano, o sentimento de compaixão está à flor da pele. Temos empatia pelo sofrimento do outro e desejamos sua superação. Contudo, quando precisamos estar atentos aos nossos medos, incertezas e inseguranças, muitas vezes não sabemos como acolher nossos sentimentos. Essa lacuna no âmbito das emoções pode ser um obstáculo para qualquer pessoa, mas, sobretudo, quando é necessário lidar com doenças importantes como o câncer.

Pacientes oncológicos estão expostos diariamente a desafios e emoções complexas: diante disto, a autocompaixão oferece ferramentas poderosas. O conceito se baseia na Mindfulness Psychology, que por sua vez está relacionada à prática da atenção plena ao presente, sem preocupação excessiva com o passado e com o futuro. A autocompaixão define que as pessoas devem tratar a si mesmas com atitudes semelhantes às que tratam outras pessoas em momentos de dificuldade. Distante do sentimento de autopiedade, não está relacionada à pena, mas à compreensão sobre a situação enfrentada associada ao desejo de cuidado e melhora. A autocompaixão é voltada ao próprio indivíduo, o que costuma ser difícil, pois é comum termos maior exigência e julgamento conosco.

Quem enfrenta o tratamento contra o câncer muitas vezes sente uma pressão externa para estar bem e feliz, sem que isso corresponda ao seu real estado interior. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer os momentos de felicidade e compreender que também é possível merecê-los. É preciso ter equilíbrio para ouvir as necessidades, compreender os próprios limites e permitir-se vivenciar as dores e as alegrias, com uma postura honesta a respeito de si próprio. Estudos realizados ao redor do mundo atestaram o poder deste comportamento na redução de depressão e estresse.

Praticar a autocompaixão é uma maneira de empoderar-se contra o câncer. Estar conectado consigo, ciente de sua condição e do que é necessário para seguir adiante é um importante elemento do processo de recuperação e algo realmente transformador. Pacientes empoderados estão mais fortalecidos, conhecem sua situação, seus direitos e têm condições de pedir ajuda e exigir o melhor para si. Em 2017, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA),  instituição que articula uma rede de 70 ONGs de apoio a pacientes com câncer de mama em todo o Brasil, mostrou que empoderar pacientes é uma forma revolucionária de combater a doença. Após um notável esforço que envolveu pacientes em todo o país, recebemos esse ano o anúncio de que tratamentos específicos para o câncer de mama metastático Her2 positivo, o trastuzumabe e o pertuzumabe, finalmente passarão a ser ofertados no SUS, mudando milhares de vidas. É essa força que vem de dentro para transformar e conectar que queremos ver crescendo em 2018. Nesse fim de ano, deixo o convite para que você exercite a empatia e a compaixão, pelo outro, e principalmente, por você.

*Maira Caleffi (foto) é presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA)