Neste domingo, dia de futebol, quando a bola rolar nos gramados brasileiros, vai rolar triste, sentida, sem graça. Vai rolar na obrigação de cumprir seu dever, mas, com certeza, junto ao ar comprimido que preenche seu interior, estarão reprimidas lágrimas de lamentação pela morte de João Rodrigues, que carinhosamente o futebol conheceu como Cocá, um dos maiores apaixonados pelo futebol de que já se teve notícia.

Quando apareceu no meio futebolístico goiano, nos anos 80, era um jovem torcedor do Goiás. Sardas no rosto e pelo corpo, logo se tornou conhecido por Cocá, lembrando a galinha pintadinha D’Angola. E foi como Cocá que ele foi abrindo seu espaço no mundo da bola. Intermediou contratos de publicidade para o Goiás, arrumou espaço no departamento social do Clube, na área de promoção da marca e relações institucionais, empresariou alguns jogadores e quando o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela quis fazer da Aparecidense um dos principais times do interior goiano, o chamou para pilotar o projeto. Cocá que já morava na cidade aceitou e a Aparecidense foi transformada nesta força inegável do futebol no nosso Estado.

Cocá nunca entrou em um projeto sem abraçá-lo com os braços da alma. Foi assim também com a Aparecidense. Como quem rompe um casamento para se entregar a outra paixão, ele abandonou o Goiás, para dedicar todo seu amor a Aparecidense. Se tornou a imagem, a cara do clube. Protestava, denunciava, brigava pela Aparecidense nestas ocasiões em que o apito faz o resultado (e este fez muito contra seu time). Pele clara, Cocá ficava vermelho e esbravejava com verbo duro. Ainda que não resolvesse (e não resolvia mesmo), ele não abria mão dá honradez de denunciar e protestar.

Era o montador do elenco. Dono de disposição extrema para o trabalho e inteligência rara, com orçamentos sempre pequenos, montou times competitivos.

Era tratável, carinhoso, dócil, bem humorado e apaixonado pelos amigos. Gostava de agradar, de fazer rir, de presentear, de encontrar e de conversar longos assuntos.
Fora da irritação contra as injustiças do futebol (cometidas pela própria bola, ou pela mesquinhez humana) era uma figura formidável. Se sabia de um amigo em dificuldade, ligava para oferecer ajuda, se sabia de uma conquista na vida de um amigo, ligava para parabenizar (sempre com bom humor).

Cocá foi paixão em tudo o que fez. Foi lealdade com todos com quem conviveu. Foi amizade com todos que se tornaram próximos. Foi amor à família, a vida e ao futebol. Cocá foi barulhento como a ave referência para o seu apelido, barulho que espalhava a alegria, irradiava luz nos sorrisos e espantava a tristeza e o ressentimento. A bola, por quem foi apaixonado, é misticamente silenciosa, para provocar o barulho naqueles que vibram com os lances a favor do seu time, ou bradam contra o que consideram injusto – nos gols então é barulho ensurdecedor. Quando rolar neste domingo, silenciosamente vai chorar pelo seu apaixonado. Já nós, os apaixonados pela amizade do Cocá, estamos aqui chorando barulhentos como ele, afinal a Covid-19 só nos deixou este direito.

Para a esposa Andréia Marta, a filha Maria Fernanda e o filho João Victor ficam, junto com a saudade, os bons exemplos, o amor incomparável e o orgulho por ter como chefe da família um homem único em companheirismo e proteção. Que fique também o consolo da fé inabalável que o Cocá tinha em Deus, para dar conforto aos seus corações.