Não faria nenhum sentido um analista de futebol avaliar o time do Goiás pelo amistoso do último sábado (18), diante do Capital, do Distrito Federal. Há uma distância enorme no espaço que as duas equipes ocupam no futebol brasileiro. Mas faz todo sentido e cumpre um papel necessário o analista fazer a avaliação do material humano que o Goiás tem para disputar o Campeonato Brasileiro da Série A, porque não é difícil saber onde pode parar a equipe esmeraldina, se o elenco não for reforçado.

Durante a interminada primeira fase do Campeonato Goiano, o Goiás já demonstrava carência de qualidade na ala direita, esquerda, na criação do meio-campo e nos lados do ataque. Para as alas as opções pela direita são Pintado e Yago Rocha. Ambos possuem habilidade, mas ambos demonstram uma dificuldade para saber qual o papel de um ala num esquema tático.

Guardam posição quando precisam passar para dar opção do homem de meio-campo, responsável pela saída de bola, ter condição de sequenciar a jogada, vão ao ataque quando um dos atacantes estão abertos pela beirada do gramado, quando deveriam fazer a diagonal, ou apoiar a jogada por trás, ou por dentro. A todos estes desatinos junta-se ainda os cruzamentos de ambos, que são bolas chutadas em direção a área adversária. Tudo isto precisava ter sido corrigido na base, agora no profissional e durante a Série A é absolutamente inconcebível esta possibilidade.

Na esquerda a opção mais provável é o prata da casa Jefferson. Jogador habilidoso, que conhece a posição, mas que carece de maior vibração para ser titular numa equipe da dimensão do Goiás. Indiferente no jogo, se a bola vem onde está, faz o mais fácil com ela, não ousa agredir, não busca resolver. Fica ali apático, sem somar grande coisa. Este pode até entrar nos eixos com alguns puxões de orelha do técnico Ney Franco.

Sem ter mais no elenco Léo Sena, vendido ao Atlético Mineiro, Ney Franco fez uma alteração tática obrigatória. Não tendo um jogador de qualidade para fazer a saída da bola, ele colocou Sandro na cabeça da área, ao lado do Gilberto Júnior, para dar maior proteção ao sistema defensivo e funcionou.

O posicionamento ficou muito funcional e como treinamento de posição dos volantes e zaga, a peleja diante do Capital serviu e mostrou que assim o setor funciona. Mas aí aparece um outro grave problema. O Gringo Keko responsável pela busca da bola, para distribuir o jogo e armar a jogada lá na frente, não sabe fazer esta função. Também se trata de um jogador habilidoso, mas taticamente muito aquém do que um camisa 10 precisa saber, para jogar no Goiás. No ataque pelos lados, o clube ainda insiste com o Marcinho que está no elenco desde o ano passado e que até agora não deu conta, e com Mike, contratado no início do ano. O Mike pode dar o resultado esperado, o Marcinho já teve as chances necessárias e testemunhou com as atuação que não é jogador para resolver em um Campeonato Brasileiro. O Rafael Moura, no comando do ataque, dá conta do recado, desde que tenham jogadores competentes ao seu lado, sobretudo nas alas, para os cruzamentos e no meio para a criação.

O Goiás está com dinheiro em caixa e não é pouco. Entrou a parcela paga pelo Flamengo, pela transferência do Michael
para a Gávea, o pagamento de parte dos direitos econômicos do Léo Sena, vendidos ao Atlético Mineiro, e vai chegar a qualquer momento a parcela de clube formador do Arthur, negociado no futebol europeu. A alegação da diretoria é que as consequências da pandemia vão gerar uma situação de penúria nas finanças do mundo todo e os reflexos no Brasil são incalculáveis e isto é fato. O dinheiro será muito valorizado e isto também é fato. Assim o Goiás pretende deixar o dinheiro no caixa ao invés de investir na qualificação do time.

Já diz o ditado goiano de que “quem tem dó de angu, não cria cachorro” e sem jogadores de qualidade, por mais competente que seja o técnico Ney Franco, não conseguirá montar um time competitivo ao nível da Série A brasileira. O Goiás precisa contratar com urgência pelo menos um lateral para cada lado, um camisa 10 e um atacante que joga pelos lados, sob pena de correr sérios riscos de lutar contra o rebaixamento. Alguém pode perguntar, “e os jogadores que entraram em campo no segundo tempo contra o Capital, não ajudariam?” A resposta é: “Se os que são tidos como titulares geraram este comentário, imagina então aqueles considerados reservas?”