Este debate sobre o retorno do público aos estádios, que tem gerado muito bate-boca, precisa ser muito bem pensado. A situação envolve duas questões: a esportiva e a de saúde. Como os dirigentes dos clubes de futebol pensam somente na questão esportiva, o que é natural, eles lutam pelo retorno do público, que cumpre dois papéis importantes no campeonato brasileiro: motiva o time da casa e é uma fonte a mais de arrecadação.
Por isto a maioria dos presidentes dos clubes e a própria CBF já disseram que só é possível o retorno do público aos jogos, se houver liberação das autoridades de saúde de todos os municípios nos quais tiver time na Série A.
Do ponto de vista esportivo a posição é correta. Não pode deixar que um time quando joga em casa tenha os torcedores empurrando a equipe com gritos e ainda uma fonte de renda a mais, com outros não tendo o mesmo direito e aí entra a questão da saúde.
A pandemia atingiu o Brasil com diferentes evoluções nos diferentes Estados. Em uns o pior já passou, em outros está ocorrendo o pico nas contaminações agora e em outros está iniciando a fase crítica. Esta diversidade na ação do vírus, impede que a mesma lei valha para todos os lugares, com a situação sendo diferente.
Embora seja a favor da liberação, de forma organizada e bem fiscalizada, com observação rígida das normas de segurança, com no máximo 30% da capacidade dos estádios, o que garante espaço para manutenção do distanciamento, não acredito que ela vá acontecer. Justamente porque entendo que a medida não pode ser padrão, com diferentes níveis pandêmicos.
Uma coisa que não concordo é com a justificativa que os supermercados, farmácias, aeroportos, transporte aéreo e coletivo e parte dos estabelecimentos comerciais receberam a liberação para funcionar, então o futebol tem de ter a liberação também. Estes serviços são essenciais e obrigam as autoridades a autorizar o risco. Não tem como a vida seguir sem o funcionamento das fornecedoras de alimentos, medicamentos, mobilidade.
Já o futebol não precisa do público para ser jogado. A questão não é aumentar os espaços de maior risco de contágio porque alguns destes espaços já existem, é tentar adequar o futebol dentro do novo normal, afinal cada hora as entidades científicas falam uma coisa em relação ao desenvolvimento da vacina contra o coronavírus e das perspectivas para o tratamento da doença, logo, ninguém sabe quando o antigo normal vai voltar, então precisamos nos adequar ao quadro atual, para seguir a vida.
Sou favorável ao retorno, mas nas localidades onde a curva das contaminações estiver em queda e não em todos os lugares, e por isto acho que a liberação não virá, e do ponto de vista da segurança esta é a medida mais adequada mesmo.