Recentemente o Vila Nova perdeu uma dos seus colaboradores mais importantes, o ex-goleiro e ex-presidente do clube José Martinez. A vida deste baluarte, a partir do momento em que se viu adulto foi dividida entre as atividades empresariais, a família e o Vila Nova, e de acordo com ele o que tomava mais tempo era justamente o Vila Nova.

Embora tenha ocupado quase todos os cargos na diretoria vilanovense, Martinez tinha um zelo especial com a categoria de base. Foi por várias gestões diretor deste departamento e quando não estava dirigindo o mesmo, mantinha a presença. Seu pensamento era de que todos os bons times do Vila Nova tinham em jogadores formados no clube os principais destaques, e quando o Vila Nova não tinha jogadores da base na equipe principal, perdia a mística da camisa vermelha, a chamada raça colorada.

Graças a ele, grandes jogadores vilanovenses não deixaram o Clube antes da explosão no profissional. Um exemplo foi o volante Donizete, falecido em 2014, num acidente de carro, alguns anos após ter encerrado a carreira.

Donizete marcou época jogando no Vila, naquela safra de craques revelados pelo saudoso Paulinho Benga, que tinha ainda nomes como Luciano, Emerson, Claudio, Cléber, César, Wesley, Cacá e o maestro Tim, hoje nosso colega como comentarista do Sistema Sagres de Comunicação.

Naturalmente devo ter me esquecido de algum nome de tantos craques que o Vila Nova tinha naquela safra vinda da base. Antes de chegar a categoria dos juniores, o Donizete decidiu abandonar o futebol, por um aborrecimento que não sei qual foi. José Martinez foi a Nerópolis conversar com o Donizete, teve a colaboração do irmão dele, Evaldo que também jogou no Vila Nova – era zagueiro e convenceu o atleta a voltar – o Donizete voltou e deu excelente retorno para o Clube, escrevendo seu nome na história, como um dos maiores médios volantes que o Vila Mova teve em toda a sua trajetória de time de futebol.

A missão de Martinez neste episódio não foi somente ir a casa do Donizete, mas também procurar quem aborreceu o atleta e exigir respeito com a jovem promessa.

Esta história me foi contada pelo próprio Martinez e neste dia ele reclamava de jogadores talentosos da base, que anoiteciam no Vila Nova e amanheciam em outros times, sem se conhecer a razão da dispensa do atleta para assinar com outra equipe. Naquele dia ela falou também sobre a importância que a prata da casa sempre teve nos grandes times vilanovenses.

Neste momento o Vila Nova está precisando de alguém com a consciência e sabedoria do José Martinez. O Clube tem no seu elenco uma joia rara, vindo da base, o garoto Caíque. Atacante rápido, que joga pelo lado esquerdo, dono de muita velocidade e de grande habilidade. Tem ótima condição física e maturidade emocional, que o propicia fazer a diferença quando entra nos jogos. Sabe a hora de imprimir a velocidade, tem a coragem para tentar o drible necessário para realizar a jogada e visão de jogo pouco comum para atletas da sua idade.

Quando entrou no jogo diante do Ferroviário, ele sofreu um pênalti, não marcado pela árbitra pernambucana Débora Cecília. O Vila Nova perdeu o jogo, mas ele esteve entre os destaques em uma partida em que poucos vilanovenses deram conta de jogar.

Depois o Caíque sumiu das convocações e reapareceu no banco no jogo da segunda feira, 21, diante do Imperatriz, quando o Vila Nova venceu por 3 x 0. Caíque entrou no decorrer do jogo, quando o placar estava 1 x 0 para o Vila Nova e incendiou a partida marcando o segundo gol, numa jogada de habilidade, velocidade, ousadia e visão de atacante. Driblou o lateral Léo Rodrigues dentro da área, com a chamada caneta (bola por entre as pernas do adversário) e enfiando a bola por entre as pernas do zagueiro Xandão, na finalização, marcou o gol.

Após o jogo, na entrevista coletiva, o técnico Bolívar foi questionado porque o garoto tem sido preterido nas suas convocações e alterações durante os jogos e respondeu que o garoto está sendo “corrigido” para colaborar mais com a marcação.

As palavras do treinador não justificam e não podem dobrar quem entende de futebol. O Caíque é um atacante e um atacante raro, porque resolve. Mesmo assim auxilia na marcação, embora graças ao talento que tem, prefira marcar gols, ao invés de marcar os adversários.

O técnico Bolívar tem nas mãos um elenco de alto nível, capaz de levar o Vila Nova ao título da Série C. São boas opções para cada uma das posições. Neste elenco tem alguns jogadores que não estão correspondendo, o que é normal em qualquer plantel.

Um destes jogadores é o atacante Rodrigo Alves, que veio para o Vila Nova por indicação do técnico. Curiosamente, mesmo não tendo nenhum registro de colaboração para o crescimento do time, quando entra no decorrer do jogo, Rodrigo Alves tem entrado em todos os jogos. Ele também é atacante de lado, a exemplo do garoto Caíque.

Aí que entra a necessidade de um diretor vilanovense seguir o exemplo do José Martinez. O Caíque é um jogador do Vila Nova, com menos de 20 anos e dono de talento raro. Com certeza, bem cuidado, vai gerar muito dinheiro para o Clube.

Alguém da diretoria precisa dizer isto para o técnico Bolívar e mostrar que além de auxiliar o Vila Nova a ganhar o jogo, o que efetivamente não o ocorre com o Rodrigo Alves. Não dá para continuar vendo o patrimônio do Clube sendo preterido, em detrimento de um jogador que está de passagem pelo Clube, ainda mais com os aproveitamentos aqui já apresentados.