Você sabia que, de 1º de janeiro de 2021 até agora, o Brasil despejou na natureza o equivalente a mais de 1,8 milhão de piscinas olímpicas com esgoto sem tratamento? Para que a conta fique ainda mais impressionante, são 4,5 trilhões de litros de resíduos líquidos domésticos e industriais que desaguaram em rios e no oceano. Todo esse material não contou com a remoção de impurezas que causam danos ambientais e à saúde humana.

Os números, no entanto, são do Instituto Trata Brasil. Só no ano de 2021, foram 5.522 piscinas olímpicas de esgoto sem nenhum tratamento despejados na natureza.

Naquele ano, de acordo com informações do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), cerca de 35 milhões de pessoas no Brasil não tinham acesso à rede tratada de esgoto. Nesse sentido, isso representa 15,8% da população do país.

A disponibilização dos números do SNIS, porém, ocorreu no ano passado. Conforme o Sistema Único de Saúde (SUS), também no ano da pesquisa, houve 128,9 mil internações por doenças de veiculação hídrica no Brasil.

Crescimento

A boa notícia, contudo, é que o percentual de domicílios brasileiros com acesso à coleta de lixo por serviços de limpeza e com conexão à rede geral de esgotamento sanitário cresceu.

O crescimento ocorreu entre os anos de 2016 e 2022. A constatação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua 2022). A divulgação ocorreu no último dia 16 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os 14% restantes estavam divididos, em 2022, entre as modalidades de coleta por meio de caçamba (6,2%), queima do lixo na propriedade (6,8%) e outro destino (0,9%). Este último, todavia, pode significar o depósito do lixo em terrenos baldios, ruas, rios etc.

Saneamento no campo e na cidade

Acúmulo de lixo no rio Pinheiros em São Paulo (Foto: Rovena Rosa/ABr)

Apesar da alta na coleta direta em domicílio, ainda havia diferenças regionais e entre o campo e a cidade em 2022. A Região Sudeste tinha o maior percentual de coleta diretamente pelo serviço de limpeza (92,4%), seguida pelo Centro-Oeste (90,7%) e Sul (89,6%). Já Nordeste e Norte tinham percentuais menores: 75% e 75,2%, respectivamente.

“Apesar de registrar o menor percentual de cobertura desse serviço, a Região Nordeste assinalou a maior expansão desse indicador. Em relação a 2016, houve expansão de 7,6 pontos percentuais. Em relação a 2019, houve expansão de 3,4 pontos percentuais”, afirma o pesquisador do IBGE Gustavo Fontes.

Além disso, na zona urbana, a coleta direta atendia a 93,8% das residências, enquanto na zona rural, esse percentual era de apenas 31,8% em 2022. “Nas áreas rurais do país, a queima na propriedade, é o principal destino [do lixo] em 51,2% dos domicílios. Ou seja, nos domicílios rurais pouco mais da metade do lixo é destinado sobretudo à queima”.

Ademais, a menor disparidade entre campo e cidade ocorria na Região Sul: 95,7% nas cidades e 47,6% no campo. Já a maior diferença se dava no Centro-Oeste: 96,9% na área urbana e 19,8% na área rural.

Esgoto

Em 2022, 98,2% dos domicílios tinham banheiro de uso exclusivo. A proporção de residências com conexão à rede geral de esgotamento sanitário cresceu de 66,8% em 2016 para 69,5% em 2022.

Esses percentuais incluem tanto os domicílios com acesso direto à rede coletora quanto aqueles que possuem fossa séptica conectada à rede de esgoto. Ainda havia no país, em 2022, 16,3% dos domicílios que usavam fossa sem conexão à rede e 14,1% que davam outro destino ao esgoto residencial. “São formas consideradas inadequadas: a fossa rudimentar, a vala e o esgotamento direto em rio, lago, córrego ou mar”, destaca Fontes.

Na zona urbana, eram 71,5% das residências com conexão à rede geral, 6,5% com ligação das fossas à rede, 13% com fossas não ligadas à rede e 9% com outros destinos ao esgoto. Enquanto que, na zona rural, a ligação à rede geral atingia apenas 4,4% das residências e as fossas com conexão à rede apareciam em 5% das casas. As fossas não ligadas às redes somavam 40,2% dos domicílios e os outros destinos, 50,5%.

O crescimento da conexão à rede coletora atingiu todas as regiões brasileiras. A exceção é o Sudeste, que passou de 89,2% em 2016 para 89,1% em 2022 (depois de passar por 88,1% em 2019). O maior avanço ocorreu no Norte, que passou de 19,5% (em 2016) para 31,1% (em 2022). No Nordeste, houve crescimento de 45,9% para 50,1% no período.

“Um destaque aqui é a Região Norte, onde apenas 31,1% dos domicílios tinham esgoto por rede geral ou por fossa séptica ligada à rede geral, enquanto fossa séptica não ligada à rede era de 33,4% e outro tipo de esgotamento 35,5%. Apesar de ser a região com menor acesso à rede geral, foi a região que, nesse período de 2016 a 2022, apresentou o maior crescimento dessa proporção, mas ainda assim é um percentual baixo, com menos de um terço dos domicílios com acesso à rede geral”, afirma Fontes.

Luz e água

Se, por um lado, houve ganhos no país em termos de acesso às coletas de lixo e de esgoto, o mesmo não pode se dizer para o acesso à rede geral de abastecimento de água. É que o percentual de residências nessa situação passou de 85,8% em 2016 para 85,5% em 2022.

“A gente observou que, ao longo do período de 2016 a 2022, não houve expansão do percentual de domicílios que possuíam rede geral como principal fonte de abastecimento de água”, afirma o pesquisador.

Portanto, ainda havia, em 2022, 14,5% de domicílios brasileiros que precisam recorrer a outras fontes para se abastecer com água potável. São elas: o uso de poço profundo ou artesiano (7,8%), poço raso ou cacimba (2,8%), fontes ou nascentes (2%) e outras formas (1,8%).

A região com menor abastecimento por rede geral era a Norte (60%), enquanto no Sudeste o percentual chegava a 91,8%. “Na Região Nordeste, o que se destaca é que 5,4% dos domicílios tinham outras formas de abastecimento de água como principal fonte, como, por exemplo, águas armazenadas em cisternas, tanques, água de rios, açudes ou caminhão-pipa”.

Na zona urbana, eram 93,3% dos domicílios abastecidos pela rede geral, enquanto nas zonas rurais eram 32%. No campo, também havia um destaque para os poços artesianos ou profundos (29,7%).

Entre os domicílios com acesso à rede geral no país, 88,2% deles eram abastecidos com água diariamente. Por outro lado, 5,3% tinham abastecimento de 4 a 6 dias na semana e 4,8%, de um a três dias.

A energia elétrica continuou com cobertura praticamente universal, com 99,8% das residências abastecidas, das quais 99,4% recebiam luz da rede geral. “Observou-se uma elevada cobertura de energia elétrica tanto em áreas urbanas, com 99,9%, quanto em rurais, com 99%”, disse o pesquisador.

Com informações da Agência Brasil

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 06 – Água potável e saneamento

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