Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

Brasil volta a se destacar no panorama internacional

As análises acerca das duas Grandes Guerras Mundiais, com suas causas e atuações das potências da época, colaboraram profundamente para o desenvolvimento dos estudos de geopolítica. As avaliações e projeções sobre as estratégias políticas e as alianças que foram se compondo, passaram a ser fundamentais para compreender o campo das relações internacionais e como elas estavam e estão diretamente ligadas a outros aspectos como a economia, os fluxos migratórios dos povos, e a organização de blocos e parcerias supranacionais. 

​Foi na transição do século XIX para o XX, que o cientista político sueco Johan RudolfKjellén cunhou o termo geopolítica. Apesar do termo ter surgido na Suécia, as disputas territoriais e de poder que marcaram essa época viabilizaram a rápida difusão e ampliação dos conceitos sobre a geopolítica.

​Assim, a geopolítica, enquanto uma área do conhecimento que analisa as relações de poder entre os diferentes países e territórios do mundo, tem relevância na formação dos diplomatas e é um precioso instrumento que deve servir como elemento orientador dos chefes de Estado e seus representantes. Dessa forma, é inconcebível e imprudente que um governante não dê atenção ao que se passa no cenário internacional e os reflexos que isso pode ter para o seu país.

​O mundo atual é marcado pela multipolaridade e ao mesmo tempo pela articulação de variados organismos internacionais como a União Europeia, o Mercosul, a ASEAN, a OTAN, a União Africana entre tantos outros. Dessa forma, aqueles que estão à frente das relações exteriores, devem ter amplo conhecimento da atuação desses organismos, bem como de seu funcionamento, divergências e convergências internas.

​Durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) o Brasil perdeu seu protagonismo nas grandes agendasinternacionais, pois, em meio a um discurso ideológico anacrônico e que defendia o antiglobalismo, o combate a uma suposta ameaça comunista e a prevalência das relações internacionais bilaterais, buscou um alinhamento visceral com o governo do presidente Trump e outros governos com perfil ultraconservador. Enquanto os vários fóruns internacionais discutiam os problemas ambientais, a proteção aos direitos humanose a importância da ciência, o governo brasileiro desse período se apegou ferrenhamente aos discursos negacionistas e às teorias da conspiração.

​A partir de 2023, uma nova gestão governamental foi estabelecida, pautada na coalizão político-partidária. Sob a presidência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o país busca recuperar o terreno perdido, nos últimos quatro anos, no campo das relações internacionais.

​A prioridade do atual governo tem sido a de fazer com que o Brasil retome à posiçãoque já tivera, como uma das importanteslideranças nas discussões dos temas internacionais e a efetiva participação nas principais agendas da geopolítica mundial.

​Gradualmente o Brasil volta a se destacar no panorama internacional. Assumiu a presidência do Mercosul, a ex-presidente Dilma Rousseff assumiu a presidência do Banco do BRICS, a partir de 2024 o Brasil presidirá o G20 e a partir de 2025 presidirá o bloco do BRICS. Assim, os objetivos do Itamaraty de consolidar o Brasil como um país cada vez mais integrado aos vários atores internacionais vai ganhando corpo.

​Claro que em um cenário internacional marcado por tensões, guerras e incertezascomo: as disputas entre os EUA e a China; as pretensões territoriais da China que se chocam com os interesses das Filipinas, Malásia e Índia; a invasão da Rússia sobra a Ucrânia e o desenrolar da guerra, as declarações devem ser bem elaboradas, claras e coerentes, pois trata-se de um terreno melindroso e para o qual um chefe de Estado deve estar bem-preparado. 

​O presidente Lula tem dado algumas “derrapadas” em alguns de seus pronunciamentos sobre questões internacionais. Logo no início de seu mandato, fez declarações sobre o conflito na Ucrânia e chegou a atribuir ao governo ucraniano uma parcela da culpa pela guerra. O que curioso é que ele parece ter se esquecido que a Rússia invadiu em duas oportunidades aquele território, em 2014 tomando a Criméia, e agora atuando na região do Donbass.

​A própria ampliação do BRICS é outro ponto polêmico, pois a adesão de países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã, países sobre os quais recaem acusações de não serem democráticos e de não respeitarem os direitos humanos, deixampaíses como o Brasil em uma situação bastante desconfortável.

​Mas, apesar de situações como essas, o Brasil segue com mais pontos positivos que negativos, no caminho de restauração da nossa tradição diplomática.

​Nesse mês de setembro de 2023, durante o encerramento da 18ª Cúpula do G20, em Nova Déli, na Índia, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, transmitiu para o presidente Lula a presidência do bloco. Em discurso o presidente Lula afirmou que terá como prioridades: a inclusão social e a luta contra a desigualdade, a fome e a pobreza; o enfrentamento das mudanças climáticas e a promoção do desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental; e a defesa da reforma das instituições de governança global, que reflita a geopolítica do presente. Assim, observa-se a plena sintonia da atual diplomacia brasileira com a agenda internacional.

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