A permanência do presidente Michel Temer (PMDB) no poder ficou ameaçada depois que os empresários Joesley e Wesley Batista – donos do frigorífico JBS – disseram em delação premiada à Procuradoria Geral da República (PGR), que o presidente teria tentado negociar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha.

Desde então, muito tem se falado sobre o que acontecerá com o país caso o presidente deixe o cargo, seja por meio de renúncia, impeachment, ou pela cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com o objetivo de fazer uma análise de conjuntura sobre o futuro político brasileiro, os jornalistas Cecília Barcelos, Cléber Ferreira, e Gerliézer Paulo, entrevistaram nesta sexta-feira (26), o Cientista Político Pedro Mundim. Confira:

Cecília Barcelos: Como o senhor avalia o atual cenário político brasileiro?

Pedro Mundim: – Do ponto de vista político, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff o Brasil só voltaria a ter uma certa normalidade depois das eleições de 2018.

Cléber Ferreira: Mas o presidente Temer não foi votado pelo povo? Ele estava na Chapa de Dilma.

Pedro Mundim: – Concordo que ele compunha uma chapa com a ex-presidente Dilma. Entretanto, do ponto de vista eleitoral, majoritariamente o eleitorado de Dilma votou nela e não em Temer. Quando um presidente assume uma gestão da maneira como aconteceu (posse de Temer), ele já ocupa o cargo com uma certa fadiga na sua legitimidade.

Cléber Ferreira: A nação já julgou o presidente.  Se ele der uma “volta” no processo jurídico, o senhor acredita que ele ainda terá condições de governar o país?

Cecília Barcelos: A governabilidade já está comprometida, “né” professor?

Pedro Mundim: – Eu acho praticamente impossível que ele consiga aprovar reformas e lidar com temas polêmicos. Ele vai precisar de muito apoio no Congresso e os deputados e senadores vão pensar não apenas no custo do capital político – de dar apoio à um governo totalmente impopular – como também nas eleições do ano que vem. Ele pode conseguir de forma legal permanecer no cargo, mas a minha leitura é que esse governo acabou.

Cecília Barcelos: O que seria pior para o povo brasileiro nesse momento: a saída ou a permanência de Temer?

Pedro Mundim: – Eu acho que não existem precedentes para essa situação que estamos vivendo hoje, então não tem como eu afirmar com certeza qual seria a melhor opção. Como cientista político – do ponto de vista ideal – a melhor alternativa seria a realização de eleições diretas. Agora, eu entendo que não vai ser a minha vontade que prevalecerá em uma situação como essa. Eu acredito que a chapa Dilma-Temer será cassada no Tribunal Superior Eleitoral e, consequentemente, na sequência, teríamos eleições indiretas.

Cecília Barcelos: Um perdão de dívidas de ICMS de cerca de R$ 1 bilhão – dado a JBS em 2014 – é alvo de uma investigação da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Goiás. O caso pode implicar o governador do estado Marconi Perillo (PSDB), mas não consta entre os crimes delatados à Procuradoria Geral da República (PGR) pelos irmãos Joesley e Wesley Batista – donos do frigorífico JBS. Qual o impacto disso para a política estadual?

Pedro Mundim: – Vai depender da existência de evidências que comprovem se essa situação realmente existiu. Se essa situação existiu, precisamos analisar o impacto disso na imprensa. Se for uma repercussão fria é provável que isso tenha um impacto muito pequeno na opinião pública. Agora, se tiver uma repercussão maior na imprensa é possível que nós tenhamos um impacto mais profundo na opinião pública.

Cléber Ferreira: O senhor acredita que nesse momento há uma queda de braço envolvendo o poder judiciário e o poder executivo?

Pedro Mundim: – Normalmente isso ocorre porque ambos os lados estão lutando por poder. Na verdade, acho que essa briga sempre existiu.

Gerliézer Paulo: A direita tem ganhado força entre as classes mais baixas. Como o senhor vê o atual momento do eleitor brasileiro, com as redes sociais e os debates entre esquerda e direita?

Pedro Mundim: – O eleitor, desde que nós voltamos a ter eleições diretas, tem aprimorado sua capacidade de escolha. Agora essa questão de que “ah eu sou melhor do que você porque eu votei no Aécio ou na Dilma”, é de uma ingenuidade muito grande porque do ponto de vista da Ciência Política não existe voto “burro”.  Eu acho que um eleitor que votou na Dilma, se soubesse que ela é acusada de ter recebido propina não teria votado nela. A mesma coisa acontece no caso do eleitor que votou no Aécio.

Cléber Ferreira: O clima é favorável ao surgimento de fenômenos como Jair Bolsonaro (PSC) e João Dória (PSDB)?

Pedro Mundim: – Quando você começa a ter eleitores um pouquinho mais ideológicos, certos candidatos passam a ter mais destaque. O Bolsonaro começa a se tornar mais competitivo a partir do momento em que aparece a figura do eleitor que vota nesse perfil de candidato (Bolsonaro). Com isso, o Bolsonaro ganha mais poder de barganha, mesmo que não chegue no segundo turno. A diferença do Dória para o Bolsonaro é que o Dória representa um espectro eleitoral menos extremo, então acaba se tornando mais competitivo. Além disso, o Dória é de um partido (PSDB) que ocupa uma prefeitura importante (São Paulo).

Confira a entrevista na íntegra:

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