Fundado em 2000 pelo empresário e político Luiz Estevão, ex-senador e deputado distrital pelo Distrito Federal, o Brasiliense teve uma ascensão muito rápida no futebol nacional. Campeão da Série C do Campeonato Brasileiro e finalista da Copa do Brasil, perdida para o Corinthians, em 2002, o clube conquistou o acesso para a primeira divisão em 2004, quando também conquistou o título da Série B.

Contudo, a temporada de 2005 foi a única do clube na elite do futebol brasileiro, que também domina o futebol local. Além da sequência de seis títulos do torneio regional entre 2004 e 2009, o Brasiliense está em busca da décima conquista do campeonato candango. Embora ainda não tenha uma data confirmada para a retomada da competição, está na fase preliminar da Série D e já tem amistosos marcados, inclusive contra equipes goianas.

No comando do Brasiliense está uma jovem dirigente, que está na direção desde 2016. Luiza Estevão, hoje com 23 anos, é filha de Luiz e a única dos herdeiros que decidiu participar ativamente do projeto iniciado há 20 anos. O sonho do pai virou o seu próprio sonho, garante a presidente do clube, que assumiu a condição depois da prisão de Estevão, condenado em 2006 a 31 anos pelos crimes de peculato, corrupção ativa e estelionato.

Em uma entrevista especial para Charlie Pereira e o Sistema Sagres de Comunicação, Luiza contou sua trajetória no futebol e os projetos que tem para o Brasiliense. No momento, o objetivo é “ser campeão candango e subir para a Série C”, porém o grande sonho é “em voltar ao lugar que ele merece estar, que é na Série B e A e no cenário nacional”.

Sobre o começo no comando do clube, “no primeiro ano de gestão, o Brasiliense não ganhava o campeonato há alguns anos, e levantamos a taça do Candangão e voltamos ao cenário nacional. Não gosto de aparentar que sou melhor do que os outros, mas muitas pessoas, por ser muito nova e mulher, tentam desmerecer o meu trabalho. Infelizmente, sinto informar a todo mundo que vamos dar muito trabalho ainda (risos)”.

Apesar de não ter tido uma preparação específica para assumir a direção, “desde então estamos fazendo um trabalho muito bom. Sempre brinco que, apesar de três ou quatro anos de experiência oficial, na verdade tenho 20 anos de experiência, porque quando o time foi fundado eu já estava lá. Nasci e cresci aprendendo tudo o que tinha que aprender e ouvindo o que o meu pai tinha a dizer. Ele, claro, é um exemplo muito grande”.

A pequena Luiza com a camisa do Brasiliense (Foto: Arquivo Pessoal)

Futebol goiano

Por causa da proximidade geográfica, naturalmente o futebol goiano é uma realidade seguida por Luiza Estevão, que destacou que “tem muito time bom para colocar Goiânia e Goiás no cenário nacional, e não só Goiás e Vila Nova. Sei até que a nossa torcida é afiliada à organizada do Vila. Aqui temos dois times que, tecnicamente, são de Goiás – Luziânia e Formosa -, mas ele se filiaram aqui pela proximidade”. Por isso, “mantemos nossos calendários tentando marcar amistosos e a nossa relação é muito próxima”.

No atual elenco, além do treinador Márcio Fernandes, o Brasiliense conta com diversos jogadores com passagens pelo futebol goiano, como o goleiro Elisson, o zagueiro Badhuga, o volante Radamés, o meia-atacante Marcos Aurélio e os atacantes Neto Baiano e Zé Love. Recentemente, o zagueiro Rafael Donato, que jogou pelo clube candango no primeiro semestre, fez o caminho inverso e assinou com o Vila Nova.

Uma característica marcante do clube do Distrito Federal é a tradição em contratar jogadores experientes. A razão para isso, segundo sua presidente, é “porque temos uma filosofia que o que vale não é a idade, e sim a capacidade que eles têm de jogar futebol. Também é importante notar que temos uma mescla muito grande de veteranos com jogadores novos. É muito importante ter essa mistura para montar um time equilibrado”.

Legado dos Estevão

Sobre a participação do seu pai na gestão do clube, “o único tempo que tínhamos para falar do Brasiliense era quando eu fazia as visitas. Claro que conversávamos sobre, mas ele tinha muito pouco acesso. Agora, no momento de pandemia, ele está aqui em casa e conseguimos ter uma proximidade maior. Se ele estivesse mais à frente comigo, acho que estaríamos voando ainda mais longe, mas estou trabalhando muito para que consigamos”.

Por outro lado, “não acredito que tenhamos consequências de tudo que ele e a nossa família vem passando judicialmente com o time. São duas coisas separadas e carregamos o nome Estevão com muito orgulho. Inclusive, tenho planos para montar um estádio próprio aqui em Brasília e quero chamar de Estevão, porque temos Bezerrão, Abadião e o Serejão, e não sei por que não podemos ter o Estevão”.

O estádio próprio, contudo, “é uma coisa que ainda está em planos preliminares. Penso em fazer por perto de Taguatinga e Ceilândia, que é onde a nossa torcida é mais concentrada e trabalhamos para conseguir ter um estádio próprio. Infelizmente, demora algum tempo, e alguns anos, inclusive, porque tem todo um processo burocrático e realmente é um projeto que está só no início”.

Preconceito

Desde os 19 anos no comando do Brasiliense, Luiza Estevão revelou que “já encontrei vários problemas. Inclusive, encontro até hoje e recentemente saíram algumas matérias falando sobre estar aqui só pelo nome ou que o meu pai comanda”. A dirigente brincou que “queria muito que fosse verdade, porque o meu sonho é conseguir trabalhar junto com ele. Ninguém iria nos parar mais”.

“O preconceito, especialmente no início, foi mais por ser nova do que por ser mulher, pelo menos no âmbito administrativo. Com os funcionários do Brasiliense, não tenho nada a reclamar, sempre fui muito bem tratada e respeitada. Agora, torcida, torcidas e diretorias rivais, mensagens, ameaças, xingamentos em jogo e internet… Mas é uma coisa que não posso controlar e também preciso ter força de vontade para superar. Não tenho nada a provar para ninguém a não ser a mim mesma”, ressaltou.