O choro é muitas vezes compreendido como um sinal de fraqueza diante dos dilemas da vida. Mas, na verdade, é uma expressão que demonstra os sentimentos de tristeza e felicidade. A psicóloga Carina Morais contou que o choro é muito importante para o bem-estar e para a saúde.

“Chorar é uma ferramenta que temos na nossa configuração original que inicialmente no bebê tem a função de comunicação. Então o bebê quando está com fome chora, quando está com dor chora, quando está cansado chora. Num primeiro momento o ser humano utiliza o choro como uma forma de comunicação e isso perdura na nossa configuração por uma razão e tem uma importância para a nossa saúde emocional, porque o choro pode ser uma ferramenta de regulação emocional”, afirmou.

A psicóloga disse que o choro alivia a raiva, por exemplo. Mas também disse que é uma expressão que pode ocupar situações em que as palavras não cabem. “O choro entra como esse lugar do sentir, que é um lugar humano”, destacou.

Um sinal de fraqueza?

Socialmente o choro é compreendido de várias formas: sensibilidade e fraqueza são duas dessas formas. É interessante que as duas formas são atribuídas com sentidos diferentes, uma mais comum para mulheres e outra mais comum para homens. São significados que Carina disse que se iniciam na infância, a partir do momento em que o choro começa a ser reprimido.

“Quem nunca ouviu “engole esse choro” ou “homem não chora”, “para de chorar, homem não chora” e “nossa, mas você é tão bonito e tá chorando”?”, lembrou.

Essas expressões camuflam a dificuldade dos pais em lidar com o choro dos filhos e retratam a forma como meninos e meninas são diferenciados através das emoções. Com isso, o choro, que é uma expressão que indica saúde emocional ou ausência dela, se torna um sinal de fraqueza para muitas pessoas.

“É um significado de contenção nas famílias, por não saber lidar elas querem conter aquilo. Então, esse lugar do proibido, da vulnerabilidade, essa associação entre o choro e a vulnerabilidade em uma sociedade que as pessoas querem a sociedade da selfie, querem mostrar o filtro, a parte boa, a vulnerabilidade muitas vezes não tem esse espaço que é tão importante, porque a vulnerabilidade faz parte de nós”, explicou.

Alfabetização emocional

Carina Morais afirmou que é necessário ensinar as crianças e adolescentes que o choro é seguro. Ou seja, aprender que vulnerabilidades acontecem e que não precisam se expor para qualquer pessoa. Mas compreender que o choro é uma expressão de um sentimento bom ou de algo para resolver.

“Nós não ficamos nus para qualquer pessoa e nós não vamos expor a nossa vulnerabilidade para toda e qualquer pessoa. Então é claro que é preciso compreender os contextos em que é seguro e esse contexto preferencialmente deve começar em casa”, disse.

Para a psicóloga, o choro faz parte do desenvolvimento integral das pessoas, ao passo que ele mostra a nossa capacidade de nos mantermos seguros mesmo em momentos de vulnerabilidades. Por isso ela ressaltou que o contexto familiar deve favorecer esse amadurecimento emocional ao longo da vida.

“Ao passo que a pessoa não pode ser vulnerável no contexto familiar é como se isso nunca pudesse existir  e aí pessoas transitam entre as polaridades: ou vai ser completamente transparente para todas as pessoas o tempo todo ou vai se fechar e engolir o choro, a raiva, a tristeza, as angústias. E vai ficar com elas porque quer se mostrar forte e merecedora de toda aprovação e amor das outras pessoas”, contou.

Recurso importante para a saúde

Carina contou que o choro é muito importante para a saúde e que é necessária a compreensão dele dessa expressão como um recurso, como parte da construção de uma experiência emocional ampla e plena. “O choro é um recurso. Se você elimina um dos recursos que você tem para a regulação emocional, a sua experiência fica empobrecida”, destacou.

Após ter essa consciência, a psicóloga apontou que é preciso ter isso como uma conexão consigo, saber quando o choro faz parte de algo saudável e quando ele é fruto de algo adoecido. Carina Morais brincou que isso é uma verdadeira alfabetização emocional, da mesma forma como aprendemos a ler e escrever, aprender que somos ligados a várias emoções.

“O choro é um recurso natural”, disse. “É a respeito do que todos podemos sentir, o sentir é involuntário e ele é necessário, ainda que seja uma emoção desconfortável ela é importante para a saúde, ela tem uma função de saúde”, afirmou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar.

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