Vinícius Tondolo
Vinícius Tondolo
Vinicius Tondolo é diretor executivo do Sagres Educa, jornalista do Sistema Sagres de Comunicação, Mestre em Comunicação, docente e especialista em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pelo curso de formação internacional MAIA

COP 29 começa com desafio de superar ausências e avançar nos financiamentos climáticos

Correspondente direto de Baku – O Azerbaijão realizou na manhã desta segunda-feira (11), a abertura da 29ª edição da Cúpula das Partes (COP) a favor do clima. O país é o terceiro anfitrião da cúpula com uma economia fortemente baseada na extração de petróleo (Egito, Emirados Árabes sediaram as últimas).

Com slogan “Em solidariedade por um mundo sustentável”, as negociações neste ano vão acontecer sem a presença de importantes líderes mundiais (Os presidentes de EUA, Brasil, China e Rússia já anunciaram ausência) e no contexto da constatação de 2024 como um dos anos mais quentes da nossa história e grandes enchentes como Porto Alegre, Valência (ESP), Deserto do Saara e Dubai.

Os azeris terão quatro grandes missões a liderar nos próximos 13 dias:

1) Encaminhar metas de Emissões e Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs);
2) Financiamento climático;
3) Adaptação às mudanças climáticas e;
4) Transição energética e combustíveis fósseis.

Em seu discurso de abertura, o secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, trouxe uma mensagem contundente sobre os desafios e as responsabilidades globais para enfrentar a crise climática.

Com uma narrativa emotiva, Stiell citou Florence, uma senhora de 85 anos, cuja casa foi destruída por um evento climático extremo, ilustrando a gravidade e o impacto real das mudanças climáticas na vida das pessoas. Esse exemplo pessoal aproxima a audiência da urgência do tema, enfatizando que a crise afeta diretamente milhões de indivíduos ao redor do mundo.

“Sem os acordos das COPs anteriores, o mundo enfrentaria um aquecimento catastrófico de até cinco graus, sublinhando a importância dos compromissos estabelecidos ao longo dos anos”, Stiell. Essa afirmação, além de reforçar a credibilidade das negociações climáticas, serve como um contraponto às críticas sobre a lentidão dos avanços e reafirma a relevância do encontro como uma arena crucial para pactos significativos.

Stiell reforçou a meta global de financiamento climático, apresentada como um dos objetivos centrais da COP 29. O secretário destacou que o financiamento climático não é caridade, mas uma necessidade para todos os países, já que a incapacidade de uma nação em responder à crise climática afeta a economia global como um todo. A abordagem pragmática sugere que os grandes emissores também têm interesse em contribuir, promovendo uma visão mais solidária e interdependente entre as nações.

DESAFIOS GLOBAIS

No entanto, em seu discurso também levantou alertas importantes, especialmente em relação ao sistema de mercados internacionais de carbono, abordado no Artigo 6 do Acordo de Paris. Embora esse mercado seja apontado como uma ferramenta essencial para reduzir as emissões globais, sem regulamentações rígidas, ele pode acabar servindo apenas para compensações vazias, permitindo que grandes emissores adiem mudanças reais em suas emissões. A implementação eficaz desse sistema exige uma estrutura robusta de fiscalização para evitar que se transforme em um mecanismo ineficaz.

Outra questão crítica está na necessidade de mensuração e monitoramento dos compromissos de adaptação e resiliência climática. Embora o discurso defenda o estabelecimento de indicadores claros para medir o progresso, não detalha como esses parâmetros serão aplicados globalmente, especialmente para países em diferentes estágios de desenvolvimento. A falta de clareza sobre suporte técnico e transparência na coleta de dados pode comprometer a capacidade de avaliar o progresso de maneira justa e eficaz.

Embora todas essas iniciativas e preocupações mostrem uma visão de continuidade e comprometimento, há um risco de que promessas para o futuro sejam vistas como vagamente realizáveis sem ações concretas no presente. O êxito da COP 29 depende, portanto, de resultados sólidos e mensuráveis que respondam às demandas urgentes de hoje, sob pena de transformar promessas em expectativas frustradas.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima

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