(Fotos: Palloma Rabêllo )

As intensas chuvas que atingiram as cidades goianas no último fim de semana foram causadas pela formação de um canal de umidade vindo da região Norte do país. O município onde mais choveu foi Pontalina, onde uma barragem se rompeu na Fazenda São Lourenço das Guarirobas, na zona rural da cidade. Durante a semana, o prefeito Milton Ricardo de Paiva, explicou que algumas casas já haviam sido danificadas antes do rompimento da barragem e apontou que os danos foram por causa do grande volume das chuvas. 

Para compreender o que realmente aconteceu em Pontalina, o Debate Super Sábado recebeu o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás, André Amorim, o presidente da Associação dos Consultores Ambientais do Estado de Goiás, Domingos Ganzer e o Pós-Doutor em engenharia ambiental, Antônio Pasqualetto.

A equipe de fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) autuou o proprietário da barragem que se rompeu, com multa no valor total de R$ 100 mil pelos danos ambientais e materiais na região. Uma investigação do Corpo Técnico da Secretaria apontou que o barramento teve alterações indevidas.

O presidente da Associação dos Consultores Ambientais do Estado de Goiás, Domingos Ganzer, comentou que neste período do ano há chuvas torrenciais e que elas já são aguardadas e destacou o rompimento da represa. “É uma situação que requer cuidado. Barragens são projetos de engenharia que devem ter todo o respaldo e toda a garantia necessária para que enfrentem esses momentos de intensidade de chuvas, momentos que tem que ser bem calculados, bem projetados para que dê segurança para todos nós”, disse.

A barragem que se rompeu em Pontalina foi construída em 1989. A responsável pela Outorga de Águas, a geógrafa Rosane Gama, disse em entrevista na segunda-feira (6), que o barramento não contava com nenhum técnico responsável e revelou ainda que não existe no Estado um trabalho de acompanhamento técnico e de manuntenção das represas. O professor de engenharia ambiental, Antônio Pasqualetto, argumentou que uma junção de fatores levou ao rompimento da barragem. “É importante a gente lembrar que 1 mm de chuva corresponde a 1 litro de água por metro quadradro. O que se argumenta é que houve uma precipitação de 192 mm em cerca de seis a oito horas. É um volume atípico, fora do que é o normal. Dados de precipitação normais dos últimos 30 anos, são precipitações abaixo dos 50 mm. Esse volume foi potencializado por alguns fatores. Barragem é um projeto de engenharia e o laudo aponta para a ausência desse projeto de engenharia”.

Pasqualeto argumenta que pode ter ocorrido falhas na construção e na mauntenção do barramento e explicou o que é preciso para manter a segurança do local. “Toda barragem tem obrigação de ter um extravasor, também conhecido como ladrão. É por onde a água vai escoar, seja pelas laterais ou pela região central, para justamente evitar o rompimento da barragem”. Domingos complementou que represas precisam ter, também, uma tubulação de descarga no fundo do barramento para o controle da água.

Tragédias em Minas Gerais

A preocupação com o tema começou em todo o país depois que duas barragens se romperam em Minas Gerais, nas cidades de Mariana em 2015 e Brumadinho no ano passado. Apenas em 2019, a Semad publicou uma Portaria sobre o funcionamento das barragens em Goiás. O presidente da Associação dos Consultores Ambientais, Domingos Ganzer, elogiou o documento, que trouxe regras duras e que, segundo ele, são corretas para o cadastramento das represas, sendo o processo feito em três estágios: barragens de até cinco metros de altura, de cinco a quinze metros e acima de quinze metros, dependendo do volume armazenado ou da altura.

“Para esse cadastramento é preciso fazer um projeto de segurança, um projeto de escoamento e um projeto de emergencial para situações como essa”, disse.

 

Rauane Rocha é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o IPHAC e a Universidade Federal de Goiás sob supervisão do jornalista Denys de Freitas