Água tem dificuldade para escoar em Goiânia, como no exemplo acima plena Avenida T-63 (Foto: Johann Germano/Sagres On)

É só começar a chover que os goianienses já pensam no drama de ter de trafegar pela cidade. Basta que a chuva caia um pouco mais forte que Goiânia começa a registrar diversos pontos alagamentos, em diferentes regiões. Há anos, o município enfrenta a dura realidade dos grandes centros no período chuvoso, por conta da impermeabilização do solo, como analisa o professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG) e especialista em Drenagem Urbana, Maurício Martines Sales.

“Aquela chuva que cai rapidamente causa o problema, escoa córrego abaixo e não alimenta o lençol [freático]. São dois problemas: tem o problema na hora da chuva e depois tem o problema de falta d’água nos rios porque aquela parcela não infiltrou para o solo”, argumenta.

Se a água não encontra o solo, ocorrem os alagamentos. Só a Defesa Civil Municipal monitora 94 locais considerados críticos. O monitoramento desses pontos de risco por parte do órgão tem sido contínuo, e o número é atualizado constantemente. O coordenador da Defesa Civil de Goiânia, Francisco Vieira, diz que uma solução só será possível a longo prazo, e ressalta que ela pode não ser definitiva.

“As pessoas querem o benefício mas não querem o transtorno, e toda obra tem um transtorno imediato, para depois ter o benefício. Obras de drenagem urbana você não faz do dia para a noite. Têm que ser projetas e calculadas”, afirma.

Exemplos não tão distantes são os enfrentados por Belo Horizonte. Os estragos causados nas vias de grandes avenidas da capital mineira nas últimas semanas lembram a força das águas na destruição de trechos da Marginal Botafogo, como ocorrido no final de 2016 e 2017, e que levaram a principal via expressa de Goiânia a passar por importantes intervenções.

O gerente de Informações Meteorológicas da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável (Semad) André Amorim, diz que Goiânia corre risco de enfrentar novos episódios como estes nos próximos anos, se medidas não forem tomadas.

“Não é algo estranho a Goiânia. Nós não estamos acostumados a ver isso, mas essas chuvas caem e vão cair. A tarefa de casa é como nós vamos nos preparar diante de situações. Vai chover, vai acontecer e isso é recorrente”, diz. “Não estou plantando a catástrofe, mas é como nós vamos pensar a cidade”, alerta.

Plano Diretor

No próximo mês, o Plano Diretor, começa a ser analisado no plenário da Câmara Municipal. O documento inclui diretrizes para drenagem e escoamento da água na capital. O professor Maurício Sales diz que as melhorias precisam ser feitas pelo poder público, mas devem começar pelo cidadão.

“A gente vem evoluindo ao longo dessas décadas e o Plano Diretor está acompanhando isso. O que vai ser colocado são ações, regras que a gente infiltre cada vez mais. Eu não posso mais impermeabilizar o meu terreno. O lote é meu, mas a chuva também é minha, eu tenho que fazer com ela o que acontecia antes de eu construir naquela área”, afirma. “A culpa não é do poder público 100%, a população tem muito mais de 50% na sua culpa à medida que constrói de maneira equivocada e, depois de construir, ainda piora impermeabilizando tudo”, aponta.

Junto à Defesa Civil, a população pode se cadastrar por SMS para receber alertas de áreas de alagamentos. Basta enviar a mensagem gratuita com o CEP para o número 40199.

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O professor Maurício Martines Sales, André Amorim, da Semad, e Francisco Vieira, da Defesa Civil de Goiânia (Fotos: Johann Germano/Sagres On)

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O Super Sábado #177 tem a apresentação de Rafael Bessa, com produção de Jéssica Dias e Jordanna Ágatha. Clique e confira as edições anteriores.