O ano era 1994. Em março, o mundo presenciou um eclipse total do sol. O Astro-Rei foi coberto pela lua e o dia virou noite por cerca de dez minutos. Um espetáculo visual para a humanidade, mas que gerou confusão para diversos outros seres vivos. 

À época, a professora da Uninter, Thaisa Nadal, mestre em Gestão Ambiental e especialista em Biologia, observou o comportamento de dois tipos de seres vivos: uma planta, a dama-da-noite, e um animal, o andorinhão-da-serra. 

A primeira tem o hábito de abrir suas pétalas no período noturno. Já o andorinhão-da-serra, particularmente os que habitam sob as quedas d’água das cataratas de Foz do Iguaçu, deixam os ninhos à noite, formando um espetáculo no céu. 

De acordo com a observação da professora, durante o eclipse, planta e pássaro sofreram o que a ciência chama de caos biológico. “É quando um ecossistema ou uma espécie sai do nicho adaptável dela”, afirma. “É como aconteceu com os andorinhões-da-serra, nas cataratas de Foz do Iguaçu, que estavam naquela rotina biológica. Durante o eclipse, os que saíam batiam nos que estavam voltando. Já a dama-da-noite abria e fechava o tempo inteiro”, afirma. 

Eclipse solar total (Foto: Pexels/Drew Rae)

Desaceleração do núcleo da Terra

Agora, de 2022 para 2023, cientistas chineses identificaram e documentaram, por meio de um artigo publicado na revista científica Nature Geoscience, que o núcleo da Terra parou de girar mais rápido que o próprio planeta. Essa desaceleração altera o funcionamento do globo influenciando a duração dos dias, o mar e o clima. 

De acordo com a professora, os efeitos dessa desaceleração, no ritmo atual, só seriam sentidos daqui a milhares de anos, já que seres humanos são adaptáveis a tais mudanças. No entanto, caso o núcleo terreste cessasse completamente a sua rotação, a humanidade viveria o caos biológico. 

“Nós teríamos esse caos biológico. Um lado da Terra ficaria extremamente frio e o outro com um extremo calor, seria dificuldade total. Mas nesse grau atual, o planeta ainda é vivo, a gente vai se adaptando e consegue seguir”, analisa. 

À revista Forbes, os cientistas que acompanham a desaceleração do núcleo há décadas, afirmam que os dias têm ficado mais curtos e essa alteração pode ter relação com a descoberta. À Sagres, a professora Thaisa Nadal diz que as plantas também seriam capazes de se adaptar a tais mudanças. 

“Alguns vegetais precisam de um espaço de luz de noite para conseguir realizar a fotossíntese, produção de fruto e, por conseguinte, ficar em cima do planeta. Se houver essa mudança, será necessária uma nova adaptação biológica, e esses vegetais vão conseguir se adaptar”, assegura.

Conhecimento empírico

Para Thaisa Nadal, um fator que poderia salvar a vida humana, apesar dos impacto causados pelas mudanças climáticas, é o conhecimento empírico, especificamente aquele ligado à natureza, como o adquirido pelos povos indígenas. 

“A rotina biológica desses povos está totalmente ligada ao nascer, ao pôr do Sol, às constelações. Então eles conseguem perceber com mais facilidade. Nós [não-indígenas] temos a ciência, temos estudiosos, mas conseguiríamos um pouquinho mais se estivéssemos mais voltados à natureza”, afirma. 

Nadal, que é licenciada em Ciências Biológicas e Geografia, acredita que o distanciamento da natureza e a preocupação exacerbada com a produção e com o lucro distanciam a humanidade de uma solução para a crise climática global. Tudo é uma questão de mudança, mas no comportamento de cada um. 

“Precisamos de uma forma diferente de trazer esse conhecimento. Estou em Curitiba, e a cidade aqui é muito limpa, e não é porque o povo daqui é diferente de qualquer outro brasileiro, é porque essa cultura foi instaurada há bastante tempo, e que não deixa de ser empírica”, conclui. 

A professora Thaisa Nadal (Foto: Arquivo Pessoal/Instagram)

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