PHILLIPPE WATANABE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O desmatamento no cerrado brasileiro cresceu cerca de 25%, em relação à última medição, e chegou a 10.688,73 km². É o maior valor desde 2015, quando foram registrados 11.129,06 km² de derrubada, e o segundo maior salto já registrado. É o terceiro ano seguido de crescimento de devastação no bioma.
Os dados são provenientes do Prodes Cerrado, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que mede o desmatamento ocorrido no bioma. Os valores são registrados de agosto de um ano até julho do ano seguinte, ou seja, o desmate divulgado nesta quarta-feira (14) ocorreu de agosto de 2021 até julho deste ano.
No período anterior, a derrubada de cerrado tinha ficado na casa dos 8,5 mil km². Em 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (PL) –no qual a destruição de floresta explodiu na Amazônia–, o cerrado registrava 6,3 mil km² de derrubada.
A devastação no cerrado do Brasil, a savana mais biodiversa do mundo e com importante papel nas bacias hidrográficas brasileiras, não fica tão distante numericamente do desmate registrado na Amazônia no mesmo período –11.568 km². O problema, porém, é proporcional. O cerrado tem, aproximadamente, metade do tamanho da Amazônia brasileira. O número aponta, então, um ritmo de destruição mais elevado na savana brasileira.
O cerrado brasileiro tem menor proteção, quando comparado à Amazônia. O Código Florestal em vigor aponta que, em linhas gerais, deve ser conservada em pé (o que é chamado de reserva legal) 80% da área das propriedades privadas localizadas no bioma amazônico. Para o cerrado, esse número é de 20% ou de 35% (caso de áreas de cerrado localizadas na Amazônia legal).
Ao mesmo tempo em que recebe menor proteção, o cerrado nacional vê o avanço do agronegócio, especialmente plantações de soja. Levantamento recente do MapBiomas mostrou que a soja já ocupa cerca de 10% do cerrado, o que equivale a 20 milhões de hectares. Uma das regiões mais visadas ao se falar sobre tal expansão é o Matopiba, que compreende áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A expansão da soja sobre áreas de floresta amazônica foi freada, em grande medida, graças à moratória da soja, um acordo que proíbe o comércio, a aquisição e o financiamento de grãos produzidos em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia após julho de 2008. Há resistência no setor, porém, para uma expansão da moratória para o cerrado.
Com o aumento expressivo do desmatamento na Amazônia durante o governo Bolsonaro, cresceu também a pressão internacional sobre o assunto. Recentemente, avançou na União Europeia uma nova regulamentação para impedir importação de produtos ligados ao desmatamento. O Brasil e a Amazônia estão computados nesta legislação, porém, o cerrado ficou de fora.
Segundo a regra, o mercado comum europeu rejeitará commodities, como carne, soja, madeira, borracha, cacau, café e óleo de palma (dendê), provenientes de áreas desmatadas, ainda que com permissão legal, depois de 31 de dezembro de 2020.
Um estudo publicado em 2020 na revista Science mostrou que o desmatamento ilegal na Amazônia e no cerrado pode estar contaminando aproximadamente 20% da soja e pelo menos 17% da carne exportadas para a União Europeia.
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