Nesta temporada, além da boa posição do Goiás no seu retorno para a Série A e o acesso do Atlético para a elite do Campeonato Brasileiro, o futebol goiano também celebrou a boa fase dos seus árbitros. Na premiação dos melhores do ano pela CBF, Wilton Pereira Sampaio foi escolhido o melhor árbitro do Brasil em 2019, enquanto Fabrício Vilarinho, o melhor árbitro assistente, premiação já recebida por outro goiano, Bruno Pires, em 2017.

As Feras do Kajuru receberam nos estúdios da Rádio Sagres o trio goiano, também envolvido em jogos importantes internacionalmente, como as semifinais da Copa Libertadores, para uma entrevista especial junto com os comentaristas Charlie Pereira e Evandro Gomes. Os árbitros celebraram as premiações e também comentaram tópicos importantes da arbitragem brasileira e goiana neste ano.

Para Wilton Pereira Sampaio, “foi um ano positivo não só para a arbitragem brasileira, mas para a arbitragem goiana, onde estivemos trabalhando em vários clássicos do futebol brasileiro e internacional, e ficamos feliz por essa fase e amadurecimento da arbitragem brasileira”. Fabrício Vilarinho ressalta que “o prêmio é uma responsabilidade muito grande. Fizemos um trabalho muito sério, como sempre fazemos em todos os anos. Então é continuar esse trabalho, já que é um ofício muito cirúrgico e especializado”.

Já Bruno Pires enxerga que “foi um ano mágico na minha carreira em especial, um ano maravilhoso com grandes competições e jogos. Esse trio nosso, e posso falar trio porque praticamente todos os jogos do Campeonato Brasileiro trabalhamos juntos, se utilizou pouco dessa ferramenta nova, foram poucas intervenções do VAR, o que quer dizer que dentro do campo estávamos atuando conforme as regras, bem atentos e entrosados. Ver os dois recebendo a premiação com certeza é gratificante, e mais gratificante do que um prêmio de final de ano é o prêmio que saímos com a consciência após cada partida”.

Profissionalização da arbitragem

Diferente dos jogadores nas principais competições, os árbitros não têm vínculos exclusivos ao futebol e precisam de empregos alternativos para manterem suas vidas. Sobre a profissionalização da categoria, Wilton destaca que “esse assunto é muito discutido entre as classes da arbitragem, a comissão e a associação. Hoje o futebol pede que sejamos exclusivos da arbitragem. Sabemos que é difícil essa questão trabalhista e creio que a melhor solução de imediato seria um contrato de trabalho, porque assim você conseguiria se ausentar por um período e se dedicar de forma exclusiva para a arbitragem. Mas creio que é um processo que logo teremos notícias boas”.

Vilarinho avalia o trabalho do ex-árbitro gaúcho Leonardo Gaciba, que se tornou chefe de arbitragem da CBF este ano, e detalha a questão financeira. Primeiro, o assistente destaca que Gaciba “é nosso contemporâneo, ele entende as demandas da classe, é uma pessoa muito inteligente e totalmente ligado às inovações. Tivemos um incremento na taxa dos árbitros, em que houve um aumento muito significativo e importante. Hoje um árbitro na Série A ganha 5 mil reais bruto e os assistentes, 3 mil reais bruto. O transporte a CBF que nos envia e hotel e alimentação é por nossa conta, em que recebemos uma diária de 700 reais e esse valor dá para suprir as nossas necessidades”.

Já internacionalmente, um ex-árbitro brasileiro também é destaque, o paulista Wilson Luiz Seneme, atualmente presidente do Comitê de Arbitragem da Conmebol e membro do Comitê de Arbitragem da Fifa. Wilton frisa que “hoje a Conmebol valorizou muito as suas competições, não só para os clubes, mas para arbitragem também. Desde que o Wilson Seneme assumiu a presidência teve uma elevação nas taxas. Para se ter ideia, antes ganhávamos 1,4 mil dólares por jogo de Libertadores e hoje ganhamos 3,3 mil dólares, então é um aumento significativo e que vai aumentando conforme as fases”.

Da esquerda para direita – Wilton Pereira Sampaio, Bruno Pires e Fabrício Vilarinho (Foto: Sagres On)

 

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Experiência Internacional

Além do destaque nacional dentro do Campeonato Brasileiro, o trio goiano também atuou bastante fora do país. Enquanto Bruno Pires esteve ao lado de Raphael Claus e Danilo Manis, ambos de São Paulo, no primeiro jogo entre River Plate e Boca Juniors, no Monumental de Núñez, válido pela semifinal da Copa Libertadores, Wilton Pereira Sampaio e Fabrício Vilarinho fizeram o segundo jogo do clássico argentino junto com o carioca Rodrigo Correa, na Bombonera, também em Buenos Aires.

Bruno destaca que o jogo no Monumental “criou uma expectativa muito grande, porque foi o jogo que não ocorreu no ano passado na final da Libertadores por conta do problema envolvendo a torcida. Então o esquema de segurança foi algo de cinema e já te colocava em um estado do que você enfrentaria do campo, e foi minha primeira partida no Monumental. Quando falamos de clássico brasileiro, se for enumerar temos dez principais clássicos, e na Argentina se tem um. Por isso acho que essa rivalidade fica mais aflorada do que aqui, porque no futebol brasileiro acabam que os principais clássicos são regionais, e lá envolve o país todo, então a paixão é enorme”.

Abitragem Goiana

Wilton ressalta que “a arbitragem goiana está em uma crescente já de alguns anos, pelo trabalho que o coronel Motta (Júlio César Motta, presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Goiana de Futebol) vem fazendo junto à comissão desde quando assumiu em parceria com o presidente da federação, com todo o apoio que o André Pitta dá para arbitragem. São poucos os presidentes de federação que acompanham de perto o trabalho da comissão e dos seus árbitros, seja local, nacional ou internacional”.

“Temos uma estrutura boa de treinamento em parceria com a Puc, onde esse trabalho é gerido pelo professor Gustavo Almeida, que é um profissional de primeira qualidade, e os trabalhos técnicos que fazemos com a comissão. Lógico que com o passar do tempo temos que nos adaptar com relação às novas regras, a nova metodologia de ensino, não só na parte teórica, mas também na parte prática, de como você tem que acompanhar as jogadas e como o futebol está mais veloz. Muito se fala com relação ao posicionamento do árbitro em campo, então tudo isso é feito antes aqui na nossa federação”, completa o árbitro.

Falando de destaques, o goiano Jefferson Ferreira de Morais apitou sua primeira partida da Série A recentemente, no confronto entre Flamengo e Avaí, no Maracanã, válido pela 37ª rodada do Campeonato Brasileiro. Bruno destaca que “tive a oportunidade de trabalhar na estreia dele. Na minha opinião, é a grande aposta hoje e tanto a comissão local quanto a nacional devem apostar bastante nele. 2020 está com o cenário está todo preparado”. Já Fabrício entende que “entre os árbitros assistentes, temos o Leone Carvalho Rocha, que já é uma realidade desde 2017. Digo em sentido internacional, ele vem trilhando um caminho e logo estará junto conosco ou substituindo um de nós”.

Árbitro de Vídeo

Em 2019, a principal novidade no futebol brasileiro foi a chegada do árbitro de vídeo em algumas competições, a exemplo da Série A do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. Escolhido o melhor árbitro na temporada, Wilton Pereira Sampaio afirma que “primeiramente, temos que dar os parabéns para a CBF por ter adquirido esse sistema, algumas federações também estão adquirindo e espero em breve que a nossa federação possa ter o VAR no nosso campeonato, nem que seja para a parte final”.

O árbitro relata que “trabalhei em quatro competições como árbitro de vídeo pela Fifa e uma como árbitro, foram cinco Mundiais entre sub-20, Mundial de Clubes e Copa do Mundo. Confesso que é mais difícil ser árbitro de vídeo do que estar em campo, porque o VAR não pode de maneira nenhuma errar, ele tem que ser cirúrgico. Tem coisas dentro de campo que é difícil devido a velocidade e situações de interpretação, como situação de mão e de impedimento, então alguma coisa que passa no campo não pode passar na cabine”.

Sobre algumas dúvidas que ainda existem sobre a atuação do árbitro de vídeo, Wilton lembra que ele entra “somente em quatro situações: gol, pênalti, cartão vermelho direto e erro de identificação. O protocolo é bem claro. Em situações de interpretação, o VAR não vai entrar, a não ser que seja uma situação em que o árbitro esteja narrando uma coisa e a imagem está mostrando outra totalmente diferente, aí sim você tem que dar uma segunda oportunidade para o árbitro ver, interpretar e decidir”.

Para Fabrício Vilarinho, eleito melhor árbitro assistente do ano, “o impacto do VAR é positivo e hoje é imprescindível”, e indagado se o VAR facilitou seu trabalho, frisa que “com relação a impedimento, se sai gol e não consigo avaliar se realmente tem alguma parte do corpo do atacante a frente do penúltimo defensor, deixo seguir. Porque sei que a tecnologia é o meu seguro, é igual a um seguro de vida ou de carro, e o espetáculo pede a justiça, pede que saiam gols legítimos, então para mim tira um peso das costas”.

Apesar disso, as discussões sobre arbitragem perduram entre dirigentes, treinadores, jogadores, comentaristas e torcedores. Wilton entende que “na maioria das vezes é falta de informação. Tem que se informar mais, conhecer o protocolo, como o árbitro e o assistente vão atuar com a arbitragem de vídeo, entender a questão do tempo. No primeiro ano é difícil, na primeira vez com o VAR na Fifa em 2017 tive enormes dificuldades de entender todo o sistema, você tem que ser bem cirúrgico e pontual para não cometer nenhum tipo de erro e dar informação equivocada”.

“Tem a questão da comunicação, ela tem que ser objetiva e rápida, com tudo isso você vai ganhar tempo para definir uma situação no campo. Eu conversei com alguns árbitro da Itália, que foi um dos campeonatos que iniciou com o VAR, e levou dois anos para eles ficarem ‘afiados’ com relação ao sistema. No Brasil, o segundo turno no nosso campeonato foi bem melhor e o índice de tempo caiu”, completa o árbitro. No próximo Campeonato Goiano, o árbitro de vídeo entrou no regulamento, mas sua utilização não é obrigatória, e Wilton ressalta que “fazemos o possível para não utilizar o VAR e temos que nos adaptar quando trabalha em um jogo que não tem”.