Fui chamado pelo amigo Zezinho para ir até a sala do diretor da equipe, Jorge Kajuru. Cheguei e me deparei com o Kajuru e com o Draulas Vaz. Foi o Draulas quem falou que em função de um problema de saúde, passaria a trabalhar menos e gostaria que eu apresentasse o programa Bola e Viola, que ele havia criado e apresentava em todos os domingos, antes das transmissões esportivas, entre 12h e 14h.

Era outubro e topei na hora. Recebi das mãos do Draulas a pasta de textos comerciais e quis saber: “Por quanto tempo?” O Kajuru respondeu pelo Draulas: “Pelo tempo que for necessário”. Olhei para o Draulas e ele falou: “Pode ser por um longo período”.

Eu não sabia que o problema de saúde do Draulas Vaz era um câncer de fígado, que o matou no dia 23 de dezembro. Ele nunca mais apresentou o Bola e Viola. Deixou uma edição gravada, que coloquei no ar, no domingo, véspera de Natal, um dia depois do seu sepultamento.

Quando Jorge Kajuru e as Feras, dentre estas o Adolfo Campos, juntamente com outros craques do microfone que compunham aquela que foi considerada a maior equipe do rádio esportivo goiano de todos os tempos, foram para a Rádio Brasil Central, preferi ficar na Difusora.

Os contratos comerciais do programa todos foram captados pelo Draulas Vaz que ficaram no programa até a troca de prefixo do Kajuru e equipe. Este faturamento era passado pelo Kajuru para a viúva do Draulas Vaz, dona Iracy. Na troca de prefixo, dona Iracy (que veio trazida pelo Kajuru, para trabalhar na área administrativa da equipe logo após a morte do Draulas), foi junto e trabalhou com o Kajuru enquanto ele esteve no Rádio, inclusive na Rádio K do Brasil, que ia ao ar no prefixo onde hoje vai ao ar a marca Rádio Sagres 730.

Ficando na Difusora, recebi do diretor comercial da emissora a proposta para manter o Bola e Viola no ar. Liguei para dona Iracy e recebi dela a autorização para usar o nome do programa. O departamento comercial da emissora cuidou de buscar novos anunciantes e mantive o formato original, criado pelo genial Draulas Vaz.

Dois anos depois, deixei a Rádio Difusora e fui trabalhar na TV Goiânia. O Adolfo Campos estava na TV Serra Dourada. Foi contratado pela Rádio Difusora para me substituir e coincidentemente fui contratado pelo José Carlos Rangel para substituir o Adolfo Campos, na TV Serra Dourada.

Desta forma mesmo sendo amigos, nunca mais trabalhamos juntos. Vivemos duas vezes as possibilidades: quando ele assumiu a direção da equipe de esportes na Rádio Difusora, me convidou para trabalhar com ele, mas não dispunha de tempo, pois trabalhava em dois departamentos da TV Serra Dourada e quando o projeto Feras do Kajuru, em 2019, veio para a Rádio Sagres 730.

O Adolfo foi um dos contratados pelo Kajuru para compor a nova equipe, mas preferi ficar só no departamento de Jornalismo da emissora. Desta forma fomos colegas de trabalho, nos quatros anos dos tempos da Rádio Difusora. Nunca mais dividindo o microfone.

Quando ele foi para a Difusora, gentilmente ligou na minha casa para pedir para usar o nome Bola e Viola e o estilo criado pelo Draulas Vaz, no programa, ou seja, manter o programa no ar. Foi uma atitude nobre e naturalmente disse a ele que a marca não me pertencia e ele também ligou para dona Iracy e manteve o Bola e Viola no ar, até o final da sua vida e fazia questão de falar: “Bola e Viola, criação imortal de Draulas Vaz”.

Adolfo era figura única. Criterioso no que fazia, irreverente na forma de fazer, contundente nas críticas, original na forma de perguntar e um super profissional.

Se definia como ranzinza e era, mas era também um homem benevolente, filho cuidadoso da dona Janete até que ela partiu para o plano espiritual. Pai apaixonado do Adolfo Neto, caridoso com os necessitados.

Jamais o Adolfo via alguém pedindo comida, que não desse. Não gostava de entregar o dinheiro, acompanhava o necessitado e adquiria o alimento, em volume maior do que foi pedido. Era amigo para todas as horar e amoroso com irmãos, a esposa Denise, de quem ficou viúvo, com o filho e com os enteados.

Prestativo e trabalhador. Trabalhou como radialista dos 19 aos 61 anos. Passou pela maioria dos prefixos de rádios goianienses e brilhou também na TBC, TV Anhanguera e TV Serra Dourada.

Era apaixonado pela vida, pela profissão, pelo futebol (em especial pelo Vila Nova) e pela alegria. Em todas as reuniões em que esteve foi o puxador da alegria. Vivia a vida com toda intensidade, gostava da cerveja e de se reunir com amigos nas mesas dos bares para sorver a geladíssima e conversar conversas sempre alegres.

Homem honesto ao extremo e ser humano único.
Cumprimentava ao ouvinte assim: “Alô Brasil….alô, alô Brasil”.

Então, “alô Brasil… alô, alô Brasil… hoje a voz que tantas vezes deu o alô para o ouvinte do rádio e o telespectador, foi convocada por Deus para mandar alô lá do Céu.