Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, o economista e diretor do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade Columbia, Jeffrey Sachs, disse que a COP 29 não levará a nada significativo. “A COP 29 não levará a nada, a nossa única esperança é um pacto com os países petrolíferos”, afirmou.
Jeffrey Sachs já atuou como conselheiro do secretário-geral da ONU, António Guterres, em questões ambientais. Ao analisar a situação das negociações climáticas no mundo, ele argumentou que há a necessidade de um verdadeiro pacto com os países que tem no petróleo uma grande base de suas economias.
“Em troca de um compromisso de redução das emissões e da extração, os estados que dependem de combustíveis fósseis deveriam garantir aos produtores preços elevados do petróleo bruto a partir de agora até 2050”, sugeriu.
Sachs reforçou sua posição em relação à conferência que está em andamento no Azerbaijão: “realmente não creio que possamos esperar quaisquer resultados significativos da conferência COP 29”.c
Acordo com produtores de petróleo
A COP atual e a COP 28 enfrentaram acusações de descredibilidade por causa dos países-sede, respectivamente Azerbaijão e Emirados Árabes Unidos, porque são países produtores de petróleo. Mas na entrevista, Jeffrey Sachs argumentou que os problemas que o mundo está enfrentando são “muito diferentes” do local da conferência.
Sua proposta para as negociações com os países produtores de petróleo seria o comprometimento deles com as reduções de emissões a zero até 2050 em troca deles não perderem o que ganham atualmente com as extrações.
“Em troca, eles deveriam ter a garantia de que poderão beneficiar dos elevados preços do petróleo bruto de agora até lá. Agora, assim que a OPEP corta a produção e os preços tendem a subir, os Estados Unidos intervêm reforçando o fracking (fraturamento hidráulico), então os preços caem e continuamos no mesmo ponto, ou melhor, pior porque há mais petróleo em todo o mundo. Compreendo que é necessário um acordo alargado à Rússia, à China, à OPEP e aos EUA, mas só cortando a oferta poderemos acelerar o impulso para a descarbonização”, afirmou.
Papel da Europa
Na mesma entrevista, o diretor de desenvolvimento sustentável defendeu o fim das guerras em curso para que o objetivo das metas climáticas seja atingido ainda no prazo, mas ele próprio tem pouca expectativa de que isso aconteça.
“Quase zero perspectivas de sucesso. É claro que muitas outras coisas precisam de acontecer, a começar pela paz na Ucrânia e no Oriente Médio, bem como pelo fim das tensões entre os EUA e a China. Parecem utopias, mas não são impossíveis se assumirmos o fim do alargamento da OTAN, o Estado da Palestina ao lado de Israel, o bloqueio do rearmamento de Taiwan pelos EUA”, contou.
Para isso, Jeffrey Sachs pontuou que a Europa tem um papel importante na resolução da crise climática com o Acordo Verde, mas reforçou a necessidade do fim dos conflitos para que a agenda avance.
“A Europa sempre esteve na vanguarda do desenvolvimento sustentável. Uma vez libertado deste emaranhado de guerras globais, poderá voltar a concentrar-se na sua antiga e nobre missão e ajudar o mundo inteiro a repensar o modelo de desenvolvimento em termos de sustentabilidade”, destacou.
*Instituto Humanitas Unisinos
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
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