O professor de Educação, Gênero e Sexualidade, Éder Mendes de Paula, participou esta semana no quadro Mulher em Destaque, do programa Cidadania em Destaque, da Rádio 730. Ele abordou as questões que envolvem o caso de estupro coletivo sofrido por uma adolescente no Rio de Janeiro, além de outros crimes contra a mulher constantemente noticiados em todo o país.

Ouça a entrevista na íntegra: {mp3}stories/2016/Maio/31/mulheremdestaquedermendesdepaula{/mp3}

 

A jovem foi violentada por mais de 30 homens no último sábado (21) em uma comunidade da capital fluminense. A advogada da vítima entrou na Justiça pedindo a substituição do delegado que tomou conta do caso, por entender que a adolescente teria sido tratada como culpada pelos atos praticados pelos agressores.

Éder Mendes de Paula acredita que boa parte da indignação causada pelo caso em todo o país se deve ao fato de se ignorar o fato de que a sociedade brasileira vive sim em uma cultura de estupro.

“Infelizmente, o que mais agrava o problema, é o fato de ela ser colocada como a culpada do problema. A gente sabe que nós vivemos realmente numa cultura do estupro e isso não está sendo levado em consideração. Eu acompanhei o movimento pelas redes sociais e infelizmente a gente fica indignado ainda com alguns posicionamentos extremamente violentos em relação a ela, que sofreu o processo de violência”, ressalta.

Éder Mendes acrescenta que os fatos ocorridos nas últimas semanas não podem ser justificados, mas pondera que a cultura brasileira é formada pela ideia de dominação do homem sobre a mulher, e que inclusive a miscigenação sofreu com este tipo de comportamento.

“Desde o nosso processo de colonização, a cultura de dominação da mulher e do outro, desde as índias, depois com os povos escravizados que foram trazidos para a colônia, havia essa prática de entender a mulher como objeto de possessão. Então dentro da própria formação histórica brasileira, do próprio processo de miscigenação, é violento, porque você tem homens que interpretam essa mulher como posse, e isso acaba criando uma cristalização na mulher”, analisa.

O professor afirma ainda que é preciso haver uma mudança na cultura educacional acerca do respeito à mulher. Entretanto, ele destaca que as dificuldades para encontrar o caminho desta mudança são encontradas logo no processo de formação de professores, e relata que o discurso utilizado nas academias ainda é o tradicional. Ele diz que pouco adianta quando são utilizados materiais em sala de aula que abordem o tema, mas que não fazem com que o mesmo seja discutido em sociedade.

“Nesse caso a gente precisa conscientizar uma questão que está infelizmente na própria formação de professores, porque muitas vezes você encontra dificuldades não só na escola de ensino fundamental e médio, mas nos próprios cursos de formação de professores você encontra ainda discursos muito arraigados a estas questões tradicionais, e isso acaba levando a uma impossibilidade de trazer uma cultura de mudança”.

Éder Mendes de Paula é graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás, mestre em História pela Universidade Federal de Goiás e estuda as representações da loucura em Goiás no período de 1954 – 1974, data de fundação do Hospital Adauto Botelho em Goiânia, e início do movimento antimanicomial. É doutorando em História pela Universidade Federal de Goiás, e trabalha a Psiquiatrização do Crime.