Foto: Reprodução

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Em outubro de 1965 o governo militar baixou o Ato Institucional nº 2 e extinguiu os partidos políticos, pondo fim ao pluripartidarismo instituído em 1945. Foi o segundo ato governamental de extinção de partidos. O primeiro tinha sido em 1937. Surgiram em 65 dois partidos, a Arena, de apoio aos militares e formada por antigos udenistas, e o MDB, o único oposicionista. 

O cientista político Pedro Célio Alves Borges, que pesquisou os partidos na década de 70, explica que a maioria das lideranças políticas da época aderiu à Arena, restando quase nada à oposição. 

“Sobra quase nada ao MDB, porque há um efeito imediato no efeito psicológico da população com a própria política, e com as possibilidades de comprometimento com as causas e com as bandeiras que estavam sementando até 1964. O MDB passa a ter duas imagens predominantes para ele. O primeiro deles é que é uma oposição consentida, é um partido de oposição. Ele poderia atuar apenas dentro dos limites estabelecidos pelo sistema de controle militar”, conta. 

Alternativa 

Além de fazer o papel de “oposição consentida”, o MDB era visto como uma alternativa à repressão política da época. 

“O MDB era uma oposição real a uma situação de terror, de intimidação, de crueldades de todo tipo. Pela população, o MDB era visto como um partido de intransigentes, até de comunistas. Então a população se afastava do MDB. Pelos dois lados, o MDB não tinha quase futuro nenhum. Isso predominou por 3 ou 4 eleições, somadas a eleições gerais, estaduais e municipais”, explica. 

O antigo PSD, que se tornou MDB e foi para a oposição, praticamente acabou em Goiás em função da pressão dos militares. 

“Principalmente as populações menos organizadas e mais dependentes dos meios de comunicação que passaram a ser censurados e controlados pelo poder central, tudo isso se somava a uma situação de intimidação e aterrorizava as cidades, porque onde a Arena estava ameaçada de ganhar as eleições, ela recorria ao delegado de polícia. Recorria ao governador para que ele, imediatamente, acionasse o sistema de controle de custos, ameaças a comerciantes, demissões no serviço público. Então tudo o que poderia ser visto como oposição, era praticamente eliminado”, relata. 

Supremacia 

Apoiada por essas estruturas autoritárias, pela máquina de governo e pela mudança nas regras partidárias e eleitorais, a Arena conquistou uma hegemonia que seus líderes não haviam conseguido antes do golpe militar. 

“Para explica o crescimento da Arena, a principal destas institucionalidade foi a chamada sublegenda. Imaginemos uma cidade média ou pequena aqui do estado de Goiás, onde tem uma ou duas facções, famílias que controlam o poder, uma delas é a dominante. Então essa imediatamente passa para o lado da Arena”, afirma. 

Apesar dessa mãozinha a Arena não conseguiu resistir por muito tempo. Os primeiros sinais de que seu fôlego eleitoral teria um fim surgiram nas eleições de 1974. “Mesmo com tudo isso, a insatisfação popular continuava crescendo. A economia já não conseguia satisfazer as necessidades de consumo e de administração das cidades que continuaram crescendo. A própria economia exportadora brasileira entrava em declínio. Aqui isso foi chamado pela literatura de final do milagre econômico. Uma insatisfação enorme da população sem ter meios de manifestá-la”, descreve. 

Eleição simbólica 

Diante deste clima de insatisfação da população com a política e com os rumos da economia brasileira, o MDB fez história na eleição para senador em 1974, conforme nos conta o pesquisador Pedro Célio. 

“Dos 22 estados, o MDB ganha as eleições para senador em 16. Não havia eleição para governador, estava proibido, nem para presidente da República, prefeitos de capitais e nem de cidades consideradas mais importantes. Uma proibição total da manifestação. A eleição para senador passou a simbolizar a única válvula de escape que o sistema eleitoral e partidário permitia”, destaca. 

Reformulação 

Goiás também elegeu um senador. O MDB lançou, por exclusão, pois na época os líderes mais populares não arriscavam a disputar o Senado, o desconhecido Lázaro Barbosa, que surpreendeu nas urnas. A onda oposicionista continuou a pressionar e cinco anos depois, em 1979, finalmente, o governo fez nova reforma e acabou com a Arena e o MDB. A intenção mais uma vez era proteger o status quo governista. 

“Os estrategistas do regime militar já planejavam e mandavam goela adentro do Congresso Nacional a aprovação de novas medidas para manter o controle nas eleições municipais de 76. E mesmo assim isso não adiantou muito. A onde oposicionista continuou crescendo, e em 1978 já se cogitou o retorno das eleições a governador, que também não aconteceu. Até que em 79, por lei, houve a reformulação partidária, porque o MDB, caso continuasse na linha, podia de fato ganhar as eleições, o que seria um descrédito, uma desmoralização total do sistema de poder dos militares e também dos civis que os apoiavam. Então, em 79, vem a reformulação partidária com a finalidade exclusiva de acabar com o MDB”, esclarece. 

Na quarta e última reportagem da série sobre a história dos partidos políticos, você vai saber como se deu a reconstrução da democracia brasileira, do bipartidarismo até o pluripartidarismo atual de 35 legendas.

Com produção e edição de áudio de Roberval Silva.

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