Uma das principais referências mundiais em educação para cegos, a brasileira Dorina de Gouvêa Nowill proporcionou a oportunidade de viver com dignidade a milhares de pessoas cegas e com baixa visão. Nascida em São Paulo, em 1919, ela ficou cega aos 17 anos de idade, vítima de uma doença não diagnosticada. Ao longo de sua vida, conquistou feitos históricos e trabalhou na criação e implantação de leis, instituições e campanhas em defesa dos deficientes visuais.

Em 1943, Dorina foi a primeira aluna cega a frequentar o chamado Curso Regular, na Escola Normal Caetano de Campos, na capital paulista, onde se formou como professora. Nessa época, os livros em Braille – sistema de escrita e leitura para cegos – eram raríssimos e Dorina precisou estudar utilizando o mesmo material para alunos que enxergam.

Ela atuou para implantar o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de cegos da instituição e conseguiu a inclusão de outra estudante cega na escola. Após se formar, em 1946 Dorina recebeu uma bolsa de estudos dos Estados Unidos para cursar especialização em deficiência visual, na Universidade de Columbia, em Nova York. Foi nesse período que conheceu o advogado carioca Edward Hubert Alexander Nowill, com quem se casou.

Políticas de inclusão

De volta a São Paulo, Dorina criou a então Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que iniciou suas atividades em 11 de março de 1946. Em 1948, a entidade recebeu, da Kellog’s Foundation e da American Foundation for Overseas Blind, uma imprensa braille completa, com maquinários, papel e outros materiais. 

Hoje, a instituição leva o nome de Fundação Dorina Nowill para Cegos, sendo responsável pela produção de livros do Ministério da Educação (MEC) para deficientes. A entidade também distribui gratuitamente livros em braille para cerca de 3000 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil, além do público em geral.

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A fundação realiza ainda serviços especializados para pessoas cegas e com baixa visão, nas áreas de educação, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade. Segundo a instituição, desde sua criação foram produzidos mais de 6 mil títulos, 2,7 mil obras em áudio, 900 mídias digitais acessíveis e 2 milhões de volumes em braille impressos.

Além disso, 38 mil pessoas foram atendidas em visão subnormal, reabilitação e educação especial. A entidade também realiza encomendas especiais de cardápios para restaurantes, instruções de segurança de companhias aéreas etc.

Ela também colaborou na elaboração da lei de integração escolar, regulamentada em 1956, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. A lei nº 7.853/1989 define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado.

Atuação na política

Dorina Nowill foi secretária estadual de Educação de São Paulo, onde fundou o Departamento de Educação Especial para Cegos. Em 1961, graças a seu empenho, o direito à educação ao cego virou lei. Nessa mesma época, entre 1961 a 1973, ela dirigiu a Campanha Nacional de Educação dos Cegos, do Ministério da Educação (MEC). Em 1979, a professora foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos. 

Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, ela foi convidada e discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) como representante brasileira. Já em 1989, o Congresso Nacional ratificou a “Convenção 1599”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da reabilitação, treinamento e profissionalização de deficientes visuais

Discurso de Dorina Nowill na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)

Dorina Nowill faleceu aos 91 anos, em 2010, na capital paulista, vítima de parada cardíaca. Ela recebeu diversas premiações e homenagens, como um totem na galeria tátil da Pinacoteca de São Paulo. Em 2012, Dorina foi homenageada pela escola de samba Tom Maior, na ala Doação de Córneas, em um enredo que homenageou as pessoas que lutaram pela cidadania e inclusão social. Em 2015, foi homenageada pelo Senado Federal, com criação da comenda Dorina Nowill.

A história da educadora é retratada no documentário Dorina: um olhar para o Mundo , primeiro documentário brasileiro produzido pela HBO, idealizado por sua neta Martha Nowill e dirigido pela cineasta Lina Chamie. A filme narra a trajetória da professora sob a perspectiva da imersão sonora para retratar a realidade de vida de pessoas cegas ou com baixa visão.

*Este conteúdo está alinhado aos Obejtivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).