Uma fala mansa, risadas, diálogo afiado com os companheiros de mesa e um discurso inovador, mas sempre cauteloso. Assim Dunga concedeu a primeira entrevista como novo treinador da Seleção Brasileira, onde por 56 minutos tentou suavizar a rejeição que tem pela maioria dos torcedores brasileiros. Esse alto índice não mexe tanto com o treinador, que prefere levar em conta os poucos que o apoiam, citando até Nelson Madela, ex-presidente sul-afriano.
“Respeito as enquetes, quem falou e deixou de falar. Na minha vinda, também tem pessoas que apoiam. É mais ou menos como uma eleição, às vezes o favorito nem sempre ganha. Tenho que buscar força e energia nos 20 e poucos por cento que está ao meu favor e tentar buscar conquistar os demais. Se os 76% de aproveitamento não foram suficientes, terei que fazer muito mais para conquistar essas pessoas. Nelson Mandela tinha tudo contra, não tinha arma e conseguiu mudar. Espero ter 1% da paciência dele”
Essa paciência que Dunga quer ter não será dirigida somente ao torcedor brasileira, mas sim a imprensa, com quem Dunga não teve bom relacionamento nos quatro anos que trabalhou a frente da Seleção. O treinador, inclusive, ficou marcado por um episódio com um jornalista durante a Copa do Mundo, inclusive interrompendo a entrevista oficial da FIFA. O treinador destacou que não mudará seus princípios, mas reconhece que será mais brando nessa relação.
“Vocês me conhecem e sabem que dificilmente uma pessoa muda em seus princípios, quanto a ética e trabalho realizado. Tenho que melhorar muito no contato com jornalistas. Por eu ter vindo do futebol como jogador, foquei muito no trabalho em campo, os resultados que obtive, não precisa falar muito, os números estão aí. Agora, é normal que eu preciso aprimorar meu relacionamento com a imprensa, é uma reflexão que eu tive nesses anos”
Mais do que melhorar a relação e a imagem, Dunga quer melhorar a Seleção Brasileira e implantar o conceito de “futebol total”, algo como a Alemanha produziu na Copa, onde ninguém se posiciona parado e todos atuam, mesmo sem a bola. O treinador citou que viu muitas equipes desempenhando isso na Copa e não escondeu que, hoje, o Brasil está atrás nesse ponto. Ainda assim, garantiu muito trabalho com a camisa de maior respeito no futebol mundial.
“A Seleção Brasileira continua representando muito, e vamos conquistar isso através dos resultados, mostrando o quanto a gente quer fazer o melhor a cada dia. Já temos um esboço, mas o torcedor brasileiro e vocês já me conhecem: não vou vender um sonho, vou dizer a realidade. E a realidade é que é preciso muito trabalho. Não podemos passar para o torcedor que somos os melhores. A camisa do Brasil sempre será respeitada, mas eles nos respeitam tanto que querem ganhar de nós de qualquer forma”