Era uma segunda-feira comum, normal. Daquelas difíceis de se levantar da cama, onde você já pensa em quanto tempo falta para o próximo final de semana. Nada de diferente, a não ser a vontade de escutar uma música específica, que estava no pen drive em cima do armário. Peguei, coloquei o pen drive no som e, esperando ouvir as batidas que já estava acostumado, comecei a cantar. Aí que veio a surpresa:

“Marquinhos na boca do gol, para o Fernadão, bicicleta…que golaaaaaaaaaaaaço!  Que golaaaaaaaaço! Torcedor do Goiás, sai do estádio, vai lá fora, vai na bilheteria, compre o ingresso! É o gol mais bonito do campeonato até agora, não importante se é Série B, Série A, C, D, E, F,G,H…golaço do Fernandão! Ajeitou no peito, lá em cima, na bicicleta! A bola vai na gaveta direita! Empata o Goiás! Fer-Fer-Fer-Fer, Fernando, Fernandão!! Camisa número nove!!”    

A voz do inenarrável Edson Rodrigues ecoou pela casa, trazendo de volta um dos meus momentos particulares mais gloriosos como amante do futebol. Não sei de onde apareceu esse arquivo no pen drive e estou até procurando ele. Não achei. Série B de 1999, um 4×4 com o Bahia. Fantástico! Um empate que fez o coração de qualquer torcedor explodir numa emoção poucas vezes conhecida pelos seres humanos. Eu estava lá, ainda que não lembre de muita coisa, por ter apenas seis anos de idade.

Estava eu lá, preparado para ouvir a música que queria e de repente, que saudade do Fernandão! Um jogador de rara qualidade, talento natural para o gol e para a emoção. Não conquistou apenas o torcedor do Goiás. Conquistou o torcedor colorado e se tornou um dos maiores ídolos da história de um clube tão cheio de história. Conquistou o torcedor goiano, o torcedor brasileiro, o francês e o árabe também, países que tiveram o privilégio de ver o futebol de Fernandão.

Um atacante que na sua humilde grandeza trouxe ao futebol brasileiro tantas glórias e deixou tantas torcidas órfãs numa fatalidade lamentável. Não entendemos as coisas de Deus, mas dizem que os bons vão cedo. E Fernandão foi. Cedo demais, poderia ainda estar jogando. Quem sabe a seleção do céu não precisava de um centroavante? Pode ser isso. Com a simplicidade de um verdadeiro herói e um futebol inesquecível, não haveria camisa nove melhor para essa seleção do que o nosso saudoso Fernandão. Fer-Fer-Fer-Fernando! Fernandão! 

Ah, o novamente o golaço!!

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