A cidade está sem agentes e escrivães e o fato é que a greve da Polícia Civil atrapalha a vida das pessoas até na hora da morte. É um horror, mas abre espaço para um debate que se adia há tempos, a unificação das forças de segurança. Goiás tem três polícias e outras quatro repartições do setor. Parece conta de mentiroso, mas acredite: sete estruturas se digladiam para se saber quem vai colaborar mais com a violência.
{mp3}stories/audio/2013/Setembro/A_CIDADE_E_O_FATO___27_09{/mp3}
Inútil procurar delegacia para registrar o assassinato do parente ou amigo. Ninguém vai escrever a ocorrência, o que geralmente se fazia, nem investigar o crime, o que raramente se faz. Se as polícias fossem unificadas, o governo colocaria profissionais de atendimento nas delegacias. Atualmente, além de enfrentar os criminosos, a população tem de conviver com a má vontade e a cara emburrada de quem a recepciona nos distritos. O mínimo que o poder público deveria era tratar com urbanidade as vítimas de seu sistema.
Governador para unificar as polícias tem de viver o início do mandato e reunir cacife político, porque a turma do contra é organizada e furiosa. O fruto dessa organização e dessa fúria
são os 2 mil goianos assassinados por ano;
são os 10 mil veículos levados por ladrões;
são os 21 mil homicídios ainda sem conclusão;
são os arrombamentos de casas e estabelecimentos comerciais cujas vítimas nem comunicam à polícia, pois sabem que ninguém vai apurar;
são os assaltos, os estupros e as ameaças, três modalidades de crimes para os quais também dificilmente se encontra o autor e quase nunca há punição, daí o descrédito em procurar as autoridades.
Com a unificação, as despesas caem e a eficiência sobe. Acaba o jogo de empurra. Começa a cobrança por resultado. Mas quem precisa da polícia única é a população, por isso o corporativismo não quer. Internamente, nos governos, o corporativismo é muito mais importante do que a população. Até porque, se não fosse o corporativismo, como explicar para a mãe que ela não pode registrar a morte de sua menina de 10 anos de idade assassinada no peleguismo sindical brasileiro? Como explicar para a família que a morte de sua filha não será investigado? Para algumas coisas não existe explicação; para outras, as explicações não são necessárias.