Com apenas 11% dos alunos do ensino médio cursando alguma educação profissional e só 25% dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior, o Brasil terá um futuro com muito menos pessoas qualificadas do que o necessário.

Esse foi um dos aspectos apontados por especialistas para a urgência de aumentar a oferta de ensino técnico profissionalizante, durante debate do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, ocorrido na segunda-feira (06/05) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e transmitido on-line.

“É evidente que precisamos investir mais, que o Brasil precisa ter mais formados e mais investimento no ensino técnico, mas tudo que diz respeito à educação é sensível. A adolescência é um momento bem complexo para a tomada de decisões”, pontuou Tomás Bruginski de Paula, gerente de relações institucionais da FAPESP, durante a abertura do evento.

“Nós temos 88% dos jovens do país matriculados na educação pública. Ou seja, 88% da população adulta no futuro próximo será de egressos da escola pública. Isso nos obriga a olhar com bastante responsabilidade para como estamos tratando a educação pública, de que esse é o futuro do país”, lembrou Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.

No ano passado, a instituição publicou um estudo, conduzido por pesquisadores do Insper, que mostra que triplicar a oferta de ensino técnico poderia levar a uma elevação de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

“Nosso grande desafio, de fato, é ampliar o número de matrículas em educação profissional para chegar perto dos índices dos países desenvolvidos. No Estado de São Paulo estamos um pouco acima da média brasileira, com 14% [dos alunos de ensino médio cursando o técnico], excetuando o número de vagas na Secretaria de Educação [que neste ano passou a oferecer cursos profissionalizantes]”, contou Laura Laganá, diretora-superintendente do Centro Paula Souza.

A educadora explica que, com mais de 30% das empresas do país, o Estado de São Paulo precisa investir continuamente na área, a fim de que haja profissionais especializados e as companhias se mantenham competitivas.

“A prova disso é a evolução das nossas escolas no Centro Paula Souza”, afirmou Laganá, citando números que apontam algumas das unidades entre as melhores escolas do mundo em avaliações como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

Pós-graduação

José Alberto Cuminato, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), em São Carlos, lembrou da necessidade de atualização dos profissionais que já estão no mercado para lidar com as novas tecnologias.

Cuminato coordena o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) e o Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) em Ciência de Dados para a Indústria Inteligente (CPA-CDI2), ambos financiados pela FAPESP.

O pesquisador citou estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial com 803 empresas em todo o mundo e divulgado no ano passado, revelando que mais de 75% das companhias buscam adotar big data, computação em nuvem e inteligência artificial nos próximos cinco anos. Plataformas digitais e aplicativos são as tecnologias mais prováveis de serem adotadas, com 86% das empresas esperando incorporá-las às suas operações.

Tendo isso em vista, o ICMC e o CeMEAI criaram um MBA (Master of Business Administration) em Ciência de Dados, atualmente em sua quarta turma. “Existe um nicho de necessidade de pós-graduação. O Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] oferece pelo menos dois cursos de MBA para inteligência artificial e ciência de dados. Muitos são cursos a distância, para pessoas que têm muito claro o que querem”, apresentou Cuminato. O evento teve ainda a presença de Natacha Jones, diretora-executiva do ILP.

*Com informações de André Julião da Agência Fapesp

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico

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