Você já ouviu falar sobre energia geotérmica? O método que ainda é pouco utilizado no mundo, captura o calor do interior da crosta terrestre. Até o momento, sua aplicação está restrita em quase a totalidade para aquecimento de residências e banhos termais. No Brasil, os locais que utilizam energia geotérmica são Poços de Caldas (MG) e Caldas Novas (GO).

Sua história remonta aos séculos 15 e 16, quando a capacidade do solo já era utilizada para resfriar o ar dentro das casas e garantir uma ventilação um pouco melhor. Percebe-se, então, que a geotermia não é coisa nova. Nos últimos anos, houve um crescimento do impacto desse tipo de tecnologia de produção de energia, que é captada das camadas mais profundas do solo. 

“Aqui no Brasil, como a gente não tem camadas com temperaturas muito altas, acaba tendo uma utilização mais recreativa”, diz o professor Alberto Hernandez Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP. Porém, o País tem a possibilidade de utilizar esse tipo de energia para o resfriamento e climatização de edifícios, por meio da rejeição do calor do ambiente para o solo. Diferentemente dos países do norte, que a utilizam para aquecimento, aqui é utilizada para resfriamento. 

O professor explica que o solo tem temperatura estável o ano inteiro, o que permite rejeitar mais calor a uma temperatura mais baixa, aumentando a eficiência e consumindo menos energia. Hoje, alguns ares-condicionados utilizam torres de resfriamento, que gastam bastante água. A geotermia, por outro lado, faz o mesmo trabalho sem esse gasto. 

Diferentes tecnologias

Para aquecer e esfriar por meio da energia geotérmica, diferentes tecnologias têm de ser utilizadas. No primeiro cenário, é necessário retirar o calor da terra para aquecer a água, que vira vapor e passa por uma turbina. Esse movimento gera energia mecânica, que posteriormente um gerador vai transformar em energia elétrica.

Já para o resfriamento, um sistema de ar-condicionado retira o calor do ambiente, que é rejeitado para o solo por um sistema de dutos. Aqui, o solo serve como receptor do calor.  Estudos para que parte do calor que é rejeitado seja usado para preaquecer de forma que, ao aquecer por completo, haja um menor gasto de energia, já estão em andamento. Alberto Hernandez diz que essa tecnologia seria aplicada em hotéis e hospitais.

A energia geotérmica pode inclusive ser gerada a partir da troca de calor entre as paredes dos Metrôs e o solo. Isso já é aplicado na Europa, onde inclusive essa energia é usada para aquecer casas.

Situação nacional

O Brasil é conhecido pela sua matriz elétrica diversificada e, de certa forma, verde. A energia solar já é a segunda maior fonte energética do País, atrás da energia hidráulica e à frente da eólica. A geotérmica, ao contrário, não avançou, mas o interesse está crescendo. “O interesse está crescendo. Existe aí um potencial muito grande no Brasil para que esse tipo de sistema comece a ser usado, porque hoje nós estamos muito preocupados com a questão de diminuir o impacto ambiental das edificações”, explica o professor. 

Geotermia pode ser uma alternativa interessante e de pouco impacto ambiental. Nota-se, entretanto, que os solos são diferentes no Brasil, assim como as demandas de ar-condicionado. Hernandez considera que isso não é um obstáculo intransponível e que seria possível implementar uma geração de energia considerável a partir do calor interno da terra. 

Mas quais são os melhores sistemas para aplicar no Brasil? “A energia a gente não resolve apenas como a solução. A ideia que a gente tem para produção de energia é que ela seja feita com mais de uma fonte”, diz. A diversificação de fontes é importantíssima para garantir a geração de energia mesmo em momentos de crise. “Essa composição de fontes é que vai dar a segurança e a estabilidade da produção de energia no País”, ele complementa.

Para a implementação de uma usina, condições geológicas como vulcões, gêiseres, fontes termais ou locais de encontro de placas tectônicas são ideais. Como a água e o vapor são encontrados no solo brasileiro, a temperaturas baixas ou moderadas, a construção de uma usina geotérmica é mais complicada, porém, não impossível. Há formas de usinas não convencionais, como o Enhanced Geothermal System (EGS). 

“O Brasil tem todo o potencial para conseguir se manter com uma matriz limpa e sustentável”, reitera Hernandez. Além da geotérmica, a energia gerada por meio do hidrogênio verde, opção ainda em estudo e em processo de ser mais utilizada, também é uma possibilidade. 

*Com informações do Jornal da USP

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