Em reunião nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa Selic de 9,25% para 10,75% ao ano. Com isso, a taxa básica de juros voltou a dois dígitos. Este é o maior patamar desde maio de 2017, quando o índice estava em 11,25%.

Em entrevista à Sagres, o economista Júlio Paschoal afirma que o aumento da Selic não é nada bom para a economia, tampouco para consumidores e empresas, e enumera as consequências da nova elevação. Assista a seguir a entrevista na íntegra a partir de 00:31:00

”Ela comprime a base monetária, que é o que a gente chama de dinheiro, ela dificulta o crédito para as empresas, aumenta a dívida pública do país que hoje está na ordem de R$ 5 trilhões, eleva o percentual de comprometimento dos juros mensais que estão na ordem de 65%”, avalia.

O atual ciclo de altas nos juros é o maior desde março de 1999, época em que o Brasil passava por uma crise cambial e o Banco Central subiu a Selic em 20 pontos percentuais, de 25% para 45% ao ano.

Júlio Paschoal explica que o aumento da taxa também não ajuda a diminuir a inflação, que tem pesado e muito no bolso do consumidor.

”A inflação de custos, para ser derrubada, é preciso que o governo transmita, principalmente para os investidores, confiança de que aquilo que o governo tem de obrigação para com terceiros ele honrará no dia correto. Hoje temos uma PEC sendo discutida no Congresso para isentar os combustíveis da PIS/Cofins. Até aí tudo bem, porque você vai reduzir preços dos combustíveis, o que é muito bom para o cidadão. Mas tem um problema, ao isentar alguma coisa seja do Estados, dos municípios ou da União, é preciso que se cumpra a Lei Nº 102/97, que é a Lei de Responsabilidade Fiscal”, analisa.

Para o economista, com a Selic nas alturas, há ainda o risco de aumento do desemprego, o que impede a chamada retomada da economia. ”O que se vê é que o Banco Central vai continuar insistindo nessa política até que a inflação reduza, só que ela não vai reduzir porque o que puxa a inflação não é o consumo e sim a flutuação do Dólar sobre o Real. Quanto mais o Dólar cresce em relação ao Real, mais caros ficam os insumos, componentes importados, e isso afeta também a questão dos combustíveis. Estão dando um tiro no pé. Não estão reduzindo a inflação e ainda estão prejudicando a retomada da economia.