Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Adolescentes estão antecipando etapas importantes da vida por pressão estética, alertam especialistas

A busca por procedimentos estéticos entre adolescentes tem crescido de forma preocupante nos últimos anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, houve um aumento de 141% na procura por intervenções entre jovens de 13 a 18 anos nos últimos cinco anos.

O tema foi abordado no programa Tom Maior, que contou com a presença da dermatologista Maria Cláudia Trombin e da psicóloga Amanda Machado. As especialistas abordaram a pressão estética enfrentada por adolescentes e os riscos envolvidos na antecipação de cuidados e procedimentos que não condizem com a fase da vida.

“Com certeza, há um aumento expressivo no número de adolescentes no consultório”, afirmou a dermatologista Maria Cláudia. Segundo ela, esse fenômeno está fortemente ligado às redes sociais, especialmente ao TikTok.

“Vemos adolescentes fazendo camadas de produtos de skincare que compram por influência digital, sem qualquer acompanhamento profissional. Isso tem causado alergias, dermatites e até riscos mais sérios, como puberdade precoce, por exposição a substâncias inadequadas para a idade”, alertou.

A tendência tem até nome: Sephora Kids. O termo se refere a crianças e adolescentes que consomem cosméticos sofisticados, geralmente vendidos em grandes redes de beleza. “Os plásticos e os ftalatos presentes em alguns desses produtos têm o potencial de interferir no desenvolvimento hormonal dos jovens”, destacou Maria Cláudia.

Do ponto de vista psicológico, Amanda explica que a adolescência é uma fase crítica para a construção da identidade e que o excesso de exposição à estética idealizada nas redes pode gerar um ciclo de frustração. “Existe uma comparação constante. Os adolescentes querem se parecer com influenciadores, com celebridades, e isso gera uma sensação de inadequação. O consumo de produtos e procedimentos se torna uma tentativa de pertencimento”, analisou.

Segundo a psicóloga, o fenômeno se agravou na pandemia, quando os cuidados com a pele substituíram a maquiagem em desuso. “A estética passou a ocupar um lugar ainda mais central. E o problema não é o cuidado em si, mas o uso precoce e desorientado, motivado por uma busca de aceitação social”, explicou.

A questão, para ambas as especialistas, envolve também a atuação da família. “O adolescente não tem maturidade para entender o impacto de um procedimento no próprio corpo. E muitos pais, por falta de informação ou por medo de frustrar os filhos, acabam cedendo”, apontou Maria Cláudia.

Amanda reforçou: “Hoje vemos adolescentes com baixíssima tolerância à frustração. E isso é fundamental para o amadurecimento emocional. Os pais precisam assumir o papel de educadores, e não apenas de amigos. É necessário impor limites e orientar com diálogo.”

O modismo do botox preventivo também foi criticado pelas profissionais. “Botox não é questão de idade, é de necessidade. E antes dos 18 anos não há indicação. Aplicar toxina botulínica em um adolescente sem rugas é um exagero e pode trazer consequências negativas”, afirmou a dermatologista.

Para Amanda, o problema é que os padrões de beleza mudam. “Hoje a moda é uma, amanhã é outra. O adolescente que faz um procedimento hoje pode se arrepender no futuro. É como uma tatuagem da moda que depois se torna motivo de arrependimento”, comparou.

Ambas concordam que o caminho está na conscientização. “As redes sociais têm um lado positivo, informam, educam. Mas também precisam ser filtradas. É essencial que os pais acompanhem o que seus filhos consomem e que orientem suas escolhas”, disse Maria Cláudia.

Amanda conclui: “A pergunta que precisa ser feita não é apenas o que o adolescente quer mudar, mas por que. O que está motivando essa escolha? É isso que vai definir se estamos falando de autocuidado ou de uma tentativa de preencher um vazio emocional.”

Entre os procedimentos mais procurados por jovens, estão silicone, rinoplastia, rinomodelação, harmonização facial e diversos tipos de preenchimentos. Segundo Maria Cláudia, a idade em si não é o único critério para decidir por uma intervenção estética. “Não existe idade correta. A gente tem, na verdade, a segurança, a maturidade. Isso é o mais importante para decidir quando começar”, explicou a dermatologista.

Ela também ressaltou o risco de profissionais não capacitados se aproveitarem da vulnerabilidade dos jovens: “Tem muito charlatanismo. O profissional ético vai dizer: ‘Não está na hora de fazer, eu não vou fazer’. Não é porque você quer que eu vou fazer”. A dermatologista destacou ainda os perigos do uso inadequado de produtos de skincare por adolescentes, que são influenciados por tendências virais.

Um exemplo citado foi o uso indiscriminado de retinol, um ácido potente indicado para rejuvenescimento da pele. “Pessoas abaixo de 18 anos não têm necessidade de usar o retinol. Ele precisa ser usado com cuidado e pode causar irritações ou até efeitos hormonais quando mal aplicado”, afirmou. “Muita gente não sabe, nem os pais sabem, mas o produto errado pode desencadear uma puberdade precoce”.

Maria Cláudia orienta que os pais verifiquem sempre os rótulos dos produtos e prefiram aqueles com formulação vegana, que normalmente não contêm substâncias disruptoras endócrinas, associadas a alterações hormonais em crianças e adolescentes. Para Amanda, a exposição constante a padrões irreais de beleza e a lógica do consumo impulsionado pela dopamina afetam diretamente a autoestima e o comportamento dos adolescentes.

“Faz parte do adolescente seguir a manada. Existe esse grupo dos iguais. Eles querem pertencer, fazem parte de uma fase em que estão formando identidade. O problema é quando isso acontece sem orientação, sem pais presentes, e com a influência desenfreada de conteúdos que priorizam aparência e consumo”, explicou Amanda.

Ela ainda alertou sobre a dificuldade de concentração e o aumento da ansiedade nos jovens. “A atenção tem sido um dos principais problemas que vejo no consultório. Muitos adolescentes não conseguem mais assistir a um filme de duas horas. Vivem em um ciclo de estímulos rápidos que o TikTok, por exemplo, proporciona o tempo todo”.

Ambas as especialistas concordaram que o diálogo entre pais, filhos e profissionais de saúde é fundamental. “A orientação é o melhor caminho. É preciso ensinar os jovens a consumirem informação com senso crítico e a entenderem que saúde vem antes da estética”, concluiu Maria Cláudia.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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