A cidade discute a doação de áreas e o fato é que acordou tarde. Resta muito pouco a entregar aos interessados, porque quem veio antes pegou quase toda porção de terra da prefeitura de Goiânia. O serviço sujo de passar terrenos a apaniguados sempre foi de prefeitos, secretários municipais e, principalmente, vereadores. Enquanto houver um metro quadrado sem muro haverá um oportunista atrás de um político.
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A discussão atual é sobre o Hipermercado Moreira ganhar ruas do Setor Coimbra para construir um shopping. A novidade é boa: ao menos se abriu uma discussão. Ao longo do tempo, os integrantes da prefeitura e da Câmara Municipal roubam da cidade sem sequer debater. Assim, deram a igrejas e empresas terrenos reservados para praças, escolas, creches, unidades de saúde, quadras de esporte. O caso do Moreirinha é melhor, porque a cidade será ressarcida com abertura de vias em propriedades da empresa.
O fato novo é haver troca. Os pilantras doaram, inclusive, áreas de preservação ambiental e os comparsas que as receberam construíram prédios dentro das nascentes. Os patifes agraciados e os facínoras que os presentearam são gente supostamente insuspeita. Integram os três poderes, exercem mandato, julgam pessoas, oferecem denúncia, legislam, posam de mocinhos. Na calada da noite ou na balbúrdia do dia, tiram a máscara de honestos e cercam área pública. Quando os vizinhos percebem, já está erguido o templo, o shopping, a loja, a sede da entidade ou até algum órgão oficial.
No Centro de Goiânia, diversos lotes imensos foram invadidos por gente rica. E ficou por isso mesmo. A Rua 115, no Setor Sul, foi toda invadida por gente rica. E ficou por isso mesmo. Quando o invasor é pobre, leva uma surra, vai preso e fica por isso mesmo, porque acaba inscrito num programa de moradia e logo está com casa própria. A única vítima que não fica por isso mesmo é a cidade. Goiânia fica a cada dia mais inabitável por causa do criminoso que habita nos doadores de áreas públicas.