Desde 2007, o projeto de extensão Guiar, desenvolvido pelos alunos do Programa de Educação Tutorial (PET) da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, tem como missão proporcionar educação financeira a indivíduos em situação de vulnerabilidade social na capital paulista.

Com foco em atender às necessidades específicas de diferentes grupos, como jovens e adultos que não concluíram o ensino básico e mulheres vítimas de violência doméstica, os estudantes produzem aulas e materiais abordando conceitos cruciais, como gestão de finanças pessoais e empreendedorismo.

“A linguagem da educação financeira é muito acadêmica para quem não tem acesso à área, então nós a traduzimos para uma forma mais simplificada para que as pessoas consigam aplicar o conteúdo no dia a dia”, explica Raphael Ferraz, um dos coordenadores do Guiar e estudante de Contabilidade da FEA, em entrevista ao Jornal da USP.

Guiar

O Guiar não se limita apenas a orientar sobre a administração do dinheiro, mas também oferece informações essenciais sobre inflação, poder de compra, precauções contra golpes financeiros, empréstimos responsáveis, uso controlado do cartão de crédito, precificação de produtos, receita, custos, marketing e estratégias de vendas.

A equipe atual do Guiar é composta por 13 alunos, incluindo dois coordenadores, e realiza um projeto por ano. A escolha da comunidade a ser atendida ocorre por meio de discussões e votações das sugestões entre os membros, garantindo uma abordagem personalizada e relevante para cada público beneficiado.

Para produzir os materiais adequados a cada público em conteúdo e formato, os estudantes se reúnem com os representantes das instituições parceiras para conhecer o cotidiano e as necessidades das pessoas e, depois, visitam os espaços para entender com maior profundidade a realidade delas e avaliar os recursos disponíveis. “A nossa missão é dar autonomia, fazer com que todos entendam e consigam preparar um planejamento financeiro e se livrar das dívidas”, explica Ferraz.

Públicos

Dentre os públicos com que o Guiar já trabalhou, estão os funcionários da FEA e da Escola Politécnica (EP) da USP, em 2015, e motoristas de aplicativo, em 2020, de forma on-line, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19. Os alunos da rede de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) são um grupo recorrente no projeto desde sua fundação, em 2007. 

Em 2021, o Guiar firmou uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) para produzir um curso on-line para seus alunos da modalidade de Educação a Distância do EJA, contendo aulas, apostilas e exercícios em linguagem lúdica e acessível. Investimentos e aposentadoria foram alguns dos assuntos abordados. O material está previsto para ser disponibilizado, no primeiro semestre de 2024, no portal do Sesi como um curso extracurricular

Este ano, o Guiar se dedica a atender mulheres vítimas de violência doméstica acolhidas pela ONG União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências (UPM), que tem parceria com o Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM), programa da Prefeitura de São Paulo que oferece apoio social e orientação jurídica a mulheres em situação de violência.

Para este ciclo, o grupo planejou 5 aulas presenciais semanais entre novembro e dezembro. Um dos conteúdos é uma revisão de noções de matemática, para responder à dificuldade que as mulheres têm em definir os preços de seus trabalhos, complementando a capacitação que o CDCM oferece em cursos como os de Panificação e Corte e Costura. Em acordo com as gestoras da instituição, foi definido que somente as estudantes mulheres do Guiar terão contato direto com as participantes para evitar a possibilidade de gatilhos pela presença masculina.

Inédito

É a primeira vez que o projeto atende esse tipo de comunidade. “Na primeira visita que fizemos à UPM, achei muito impactantes os cartazes com os nomes das mulheres vítimas de feminicídio”, relata Vitória Campos, projetista do PET FEA e estudante de Administração. “Saber que muita coisa acontece ali e que esse é o lugar de acolhimento delas nos leva à reflexão.”

A dependência financeira em relação aos agressores é um dos principais fatores que dificultam o processo de emancipação das mulheres. “Tem sido uma experiência bem desafiadora, por ser uma realidade muito diferente da nossa, mas também gratificante”, comenta Ferraz. “Sinto que as aulas vão fazer a diferença e ajudar as mulheres a saírem dessa situação.”

Os alunos do PET FEA contam com a orientação geral de um professor da FEA, responsável por supervisionar os materiais produzidos para checar se há questões que precisam de mais esclarecimentos ou alterações na abordagem. Daielly Mantovani, professora do Departamento de Administração, é quem acompanha a equipe atualmente.

Para entrar em contato com a equipe do Guiar ou outro projeto do PET FEA, basta enviar uma mensagem no Instagram (@petfeausp) e Facebook (/petfeausp), por onde também é possível acompanhar as atividades do grupo, ou escrever para o e-mail [email protected].

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade

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