Pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP lançaram o Grupo de Pesquisa Alimentos, Nutrição e Saúde Mental, com o objetivo de avaliar o potencial terapêutico de alimentos nativos do Brasil. O grupo, liderado pelas professoras Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres e Flávia Mori Sarti, da USP, visa explorar como esses alimentos podem contribuir para a saúde mental, considerando sua eficácia comprovada na prevenção e tratamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).

Ao longo de três anos, o grupo realizará atividades em colaboração com parceiros nacionais e internacionais, visando fornecer recomendações aos órgãos governamentais e promover a conscientização sobre a relação entre alimentação e saúde mental. Em particular, o grupo busca abordar questões como o Transtorno Depressivo Maior (TDM), uma preocupação significativa de saúde pública, cuja resistência terapêutica e ônus financeiro exigem alternativas terapêuticas inovadoras.

“Estudos adicionais destacam essa enfermidade como uma das principais contribuintes para o impacto econômico relacionado aos gastos com saúde pública e à carga global de doenças projetada para o ano de 2030”.

A pesquisa destaca a influência direta da dieta na função cerebral, enfatizando que certos alimentos nativos, como o guaraná, podem desempenhar um papel fundamental na promoção da saúde mental. Apesar disso, dietas populares como a mediterrânea e a Dash não consideram esses alimentos como promotores da saúde mental, o que sugere a necessidade de uma abordagem mais abrangente na dieta.

Nutrição e saúde mental

Com base em evidências científicas recentes, o grupo pretende estabelecer uma relação clara entre a nutrição ao longo da vida e a saúde mental, oferecendo insights valiosos para o desenvolvimento de políticas públicas e intervenções terapêuticas eficazes.

“Indicam que a composição, estrutura e função cerebral estão intrinsecamente ligadas à disponibilidade de nutrientes apropriados, que desempenham papéis cruciais em processos metabólicos, incluindo a modulação de hormônios intestinais endógenos, neuropeptídeos, neurotransmissores e a regulação da microbiota intestinal”, dizem as coordenadoras, em entrevista a Mauro Bellesa do Jornal da USP.

Outro aspecto a ser considerado é a associação entre níveis elevados de mediadores inflamatórios e o surgimento e progressão de transtornos neuropsiquiátricos, logo, compostos com propriedades anti-inflamatórias presentes em alimentos podem ser considerados possíveis auxiliares no controle do TDM, afirmam as pesquisadoras.

Diante disso, elas julgam fundamental a condução de estudos com alimentos nativos do país ricos em compostos bioativos (polifenóis, carotenoides, minerais e vitaminas) para que seja definido um padrão alimentar brasileiro. “Isso permitiria a inclusão desses alimentos na rotina alimentar da população, possibilitando a produção de alimentos funcionais e suplementos alimentares que contribuam para a proteção da saúde mental”.

Projeto

O projeto do grupo inclui a criação de grupos de discussão e a realização de workshops, seminários e webinars, com o objetivo de promover o diálogo intersetorial e a disseminação da educação em saúde. Além das sugestões a serem apresentadas a órgãos públicos, os resultados obtidos deverão resultar em livros técnicos e artigos a serem propostos a revistas científicas de alto impacto. Os trabalhos deverão ter divulgação via séries de podcasts, redes sociais e por intermédio dos meios de comunicações tradicionais.

Elizabeth Torres é professora associada do Departamento de Nutrição da FSP e colaboradora do Departamento de Alimentação e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Atua em quatro linhas de pesquisa da área de ciência e tecnologia de alimentos: lipídios, ácidos graxos, colesterol, fitoesterol e seu produtos de oxidação; antioxidantes e substâncias bioativas; carnes, aves e pescados; microssomos, lipossomos e sistemas-modelo.

Flavia Mori Sarti é professora associada da EACH na área de economia e políticas públicas. Seus temas de interesse em pesquisa são: avaliação de tecnologias em saúde; avaliação econômica de programas em saúde; políticas públicas de saúde, alimentação e nutrição; marketing nutricional; cadeias de produção e padrões de consumo de alimentos.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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