De acordo com o estudo Women in the Workplace 2022 da McKinsey & Company, cargos de executivos como CEO, CFO e CTO ainda permanecem predominantemente masculinos e brancos. Segundo o levantamento, apenas uma a cada quatro líderes era mulher. Além disso, somente uma em cada 20 mulheres era negra.

Ainda segundo o estudo, entre as dificuldades que impedem o crescimento profissional das mulheres está a escassez de representatividade feminina na liderança. Ademais, há sobrecarga de trabalho somada à falta de reconhecimento e o preconceito latente que faz com que elas recebam menos suporte nas atividades.

“As instituições se preocupam com o tema de uma forma ainda muito incipiente. Nós observamos mulheres participando na diplomacia e na academia, mas com muitas dificuldades de ascensão na carreira”, lamenta Janina Onuki, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em entrevista ao Jornal da USP.

Estudo mostra que apenas uma em cada 20 mulheres que ocupam cargos de liderança é negra (Foto: RF._.studio/Pexels)

Universidades

O levantamento mostra ainda que o ambiente acadêmico não se distancia do profissional. Nas universidades, as mulheres que se dispõem a produzir pesquisa encontram mais resistência nas academias.

Em outro levantamento, no entanto, este realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre 2010 e 2021, das bolsas de produtividade oferecidas, apenas 35,3% eram para mulheres, com uma diferença ainda mais acentuada em cursos de Ciências Exatas e da Terra e Engenharia.

Outro dado obtido, contudo, é de que as mulheres que ingressam no doutorado enfrentam mais dificuldades do que pesquisadores homens para concluir o curso. Elas levam, em média, 4,3 anos para obter o título, enquanto eles conseguem em 3,8 anos. De acordo com o estudo, entre os motivos estão a dupla jornada de trabalho e a maternidade. O tema ainda é mal compreendido por “atrapalhar” a produtividade da pesquisadora.

Mais desigualdade

As desigualdades, porém, também aparecem dentro da USP. É que aponta o relatório “As Mulheres na Pós-Graduação”, divulgado no fim de março pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG). Conforme o levantamento, pesquisadoras enfrentam maiores dificuldades para progredirem na carreira acadêmica.

Janina Onuki (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Ainda segundo o relatório, apenas 30,6% das mulheres docentes progrediram para a posição de professoras titulares, enquanto os homens concentram 69,4% das promoções ao topo da carreira universitária.

Outra informação constatada, entretanto, é que o corpo discente é majoritariamente feminino. No entanto, nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, mulheres representam menos da metade dos estudantes, apenas 40,7%.

Em seu artigo “A Perspectiva de Gênero em Ciência, Tecnologia e Inovação no Sul Global: uma análise da Fapesp”, Janina Onuki defende a inclusão da questão de gênero na política científica brasileira.

“Precisamos criar condições para não apenas inserir estes grupos de mulheres, mas garantir sua continuidade e ascensão na carreira científica”, afirma. “Essas ações beneficiam toda a sociedade na medida em que seus efeitos recaem não apenas sobre a esfera econômica, mas também sobre a própria qualidade e diversidade da produção do conhecimento”, complementa.

Seminário

Janina Onuki coordena nesta quarta-feira (31), às 16h, o encontro “A Inserção das Mulheres na Diplomacia e na Academia”, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Entre as participantes, estarão a embaixadora do Consulado da França no Brasil, Brigitte Collet, e a professora de Direito Comercial da Faculdade de Direito (FD) da USP, Sheila Neder. Elas discutirão a participação feminina na diplomacia e na academia e refletindo sobre seu significado, as trajetórias e os desafios enfrentados por mulheres que ocupam posições de liderança.

Para participar, basta se inscrever preenchendo o formulário, disponível neste link.

Brigitte Collet (Foto: Twitter via Jornal da USP)

Estabelecendo a diversidade

A organização do seminário se deu como parte de um projeto, realizado em conjunto com o Consulado da França desde 2022. Segundo a pesquisadora do IEA, os países europeus já desenvolvem meios de ampliar a diversidade nas instituições. “Nosso interesse no projeto é mapear como os países da Europa e da América Latina estão discutindo esse tema”, afirma Janina.

Na diplomacia francesa, por exemplo, mulheres enfrentam um longo caminho para acessar os cargos mais altos de gestão. De acordo com a embaixadora francesa, em 2020, apenas 28% dos cargos de direção eram ocupados por mulheres embaixadoras e diretoras.

“As ‘pioneiras da diplomacia feminista’ tiveram que mostrar tenacidade e coragem para abrir caminho em uma profissão há muito reservada aos homens”, conta Brigitte.

Foto: Fauxels/Pexels

Segundo a embaixadora, a diplomacia feminista consiste em uma série de compromissos concretos em favor da igualdade entre mulheres e homens. Estes, por sua vez, são implementados tanto no Ministério da Europa e Relações Exteriores, quanto no cenário internacional.

“A luta contra a violência de gênero é uma das prioridades de nossa ação pública. O Ministério da Europa e Negócios Estrangeiros incentiva todos os seus departamentos a adotar um roteiro de igualdade de gênero, tanto internacional quanto internamente”, explica Brigitte.

Lentidão

Diferentemente da Europa, porém, o Brasil ainda caminha a passos lentos em direção à igualdade de gênero. As academias ainda apresentam deficiências na inclusão de mulheres no grupo de pesquisadores.

Já as instituições corporativas possuem dados alarmantes de desigualdade de gênero que impedem o protagonismo feminino e a implementação da diplomacia feminista ainda está em discussão.

Para a coordenadora do evento no IEA, todavia, a mudança nos cenários corporativos e acadêmicos depende das instituições, porém sobretudo de pessoas que questionem e provoquem incômodo diante das desigualdades de gênero dentro delas.

“As instituições dependem muito de mulheres e lideranças que levem essas temáticas adiante e causem mudanças em suas estruturas institucionais”, afirma Janina.

A presença da Embaixadora da França marca o desenvolvimento de um convênio com o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, para a criação de um Centro Internacional de Pesquisas (IRC) na USP. Será o primeiro na América Latina, previsto para 2024.

O centro será utilizado para desenvolver a cooperação científica entre os países. “Isso mostra o quanto a USP é considerada uma universidade de prestígio e excelência pela França, além de servir para estreitar nossos laços acadêmicos e científicos com o Brasil”, afirma Nadège Mézié.

Nadège Mézié (Foto: IEA-USP)

Também ao Jornal da USP, Nadège discorre sobre a importância da troca de experiências entre pesquisadores franceses e a USP.

“É interessante em termos de excelência da pesquisa estabelecermos contato com pesquisadores e professores do IEA para realizarmos diálogos com a sociedade e tratarmos de questões de debate público em eventos e palestras”, afirma a antropóloga. “O IEA desenvolve muitas atividades interdisciplinares sobre desafios da nossa sociedade contemporânea, desde a crise climática até aspectos de inteligência artificial. Assim, pesquisadores de várias disciplinas poderão dialogar entre si”, complementa.

*Esse texto está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) por uma Igualdade de Gênero.

*Com informações do Jornal da USP

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