Le rendez-vous: o encontro que vale muito mais que o trono europeu

O lema da Euro 2016 não podia ser melhor. "Le rendez-vous", do francês, "o encontro". A

cada quatro anos os melhores times do velho continente se encontram para disputar o reinado

do futebol europeu. Neste ano, a França, com suas belíssimas cidades, seu delicioso vinho e

sua tradição no esporte, recebe a Euro.

Nas ruas francesas, uma multidão vinda de outros 23 países coloriam o ambiente. Em 2016, a

UEFA resolveu convidar novos participantes para a festa e nações como Albânia, Irlanda do

Norte, Eslováquia, País de Gales e Islândia aceitaram o convite. Normalmente a aristocracia

futebolística europeia, formada pelas grandes seleções do continente, esperariam que os

debutantes fossem meros figurantes. Estavam enganados.

As novatas não foram a França apenas para participar. Elas queriam mais. Carregavam consigo

o orgulho de uma nação, o desejo pelo triunfo e o amor pelo futebol. Como esperar que um

país de 330 mil habitantes, onde há irrisórios 100 futebolistas com registro profissional na

federação nacional, se destaque numa competição tão grande?

Parece sonho. E é. É sonho para os islandeses que mandaram 10% de sua população para as

terras francesas. É sonho para os galeses que, ao mesmo tempo que comemoram o sucesso

inesperado da seleção, têm que enfrentar a incerteza do Brexit. Foi sonho para os norte-

irlandeses, que, curiosamente, centralizaram o embevecimento na figura do desconhecido Will

Grigg, que atua na segunda divisão da Inglaterra e é reserva no selecionado nacional.

A festa nos estádios franceses é catalisadora do sonho de ascender ao trono do futebol

europeu. Como não se emocionar com torcidas como as irlandesas, da república ou do norte?

É impossível ficar alheio aos belos mosaicos alemães e ao entoar de "A Marselhesa" pelos

franceses. Também não há como não soltar o grito viking junto com os fãs islandeses. Azar de

quem ficou de fora.

Certamente o encontro deste ano também colocou alguns gigantes em xeque. A tradicional

Holanda não deu as caras na França, mesmo após fazer uma grande Copa do Mundo. Os

inventores do futebol, mais uma vez, deram adeus precocemente. Os espanhóis, com toda a

altivez particular de bicampeões europeus, não foram muito adiante .

A Euro também serviu para levantar os caídos. Após o péssimo Mundial de 2014, quando foi

eliminada na fase de grupos, a Itália mostrou sua força. Com um futebol pragmático, os

comandados de Antonio Conte só pararam na incontestável Alemanha, que reafirma sua

superioridade no torneio.

São muitas histórias. A mais surpreendente delas, é claro, é da Islândia. O pequeno país que

tem sua seleção comandada por dois treinadores, sendo um deles um dentista, deixa o mundo

do futebol embasbacado ao roubar a vaga da grande Holanda, e nocautear a tradicional

Inglaterra. A relação islandesa com o futebol tinha tudo para dar errado. Além da diminuta

população, o território, gélido e cravejado de vulcões, é inóspito para o esporte. Contudo, está

provado que onde há uma bola e alegria de jogar, o futebol floresce.

A história de Gales também não pode passar batida. A seleção comandada por Gareth Bale

pertence à uma região preterida do Reino Unido. Não que a vida dos galeses seja ruim, longe

disso, mas o país tem os piores índices socioeconômicos da Grã-Bretanha. Se não são

protagonistas geopolíticos, os galeses o são no futebol. Com muita gana, desejo de vencer e

uma torcida apaixonada, Gales tem escrito uma linda história na reunião deste ano.

Apesar de grandes jogadores brilharem nos gramados da Euro, não há um destaque

irretocável. Talvez o grande protagonista seja mesmo o futebol com suas anedotas e contos. O

futebol, que move milhares de cidadãos a deixaram seu país para assistir 90 minutos de bola

rolando.