SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O evento “Summit Minha Cor é o Brasil”, que aconteceria amanhã (16), causou bastante repercussão nas redes sociais desde que foi anunciado. Em formato híbrido, podendo ser acompanhado presencialmente em Alphaville, bairro nobre de São Paulo, mas também online, o encontro tinha por finalidade discutir que o Brasil não é um país racista. A maioria dos convidados era composta por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Após críticas, a organização informou que o evento foi cancelado “por motivos de força maior”.
“A organização do evento agradece apoio de todos os inscritos, palestrantes e colaboradores e comunica que o evento será reagendado”, diz comunicado.
O “Minha Cor é o Brasil” é um movimento de pessoas alinhadas à direita que buscam negar ou relativizar a existência do racismo no Brasil. Entre as ideias está tentativa de desconstruir o racismo estrutural e minimizar os impactos que a escravidão deixou como legado ao país.
Críticos rechaçaram as temáticas propostas para os debates, já os apoiadores foram até a plataforma Sympla, na qual os ingressos eram disponibilizados, e reclamaram de que o evento tinha sido marcado de última hora e que seria realizado em um horário muito ruim, das 9h às 19h.
PALESTRANTES CONVIDADOS
Com exceção do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, todos os outros que estariam no evento eram negros. A lista completa de convidados e assuntos que seriam abordados é a seguinte:
– Sergio Camargo: Vitimismo e Racismo Negro. Camargo é jornalista e filiado ao PL. Ele foi presidente da Fundação Palmares, entidade federal que tem o dever de promover a cultura afro-brasileira. No entanto, ele coleciona uma série de declarações polêmicas em que relativiza o racismo, ataca o movimento negro e faz revisionismo histórico ao fazer afirmações sem comprovações. Sergio Camargo foi acusado de assédio moral por ex-funcionários da Fundação.
– Hélio “Negão”: Deputado federal Hélio Lopes – A Politização da Cor. Hélio é um subtenente do Exército e também é filiado ao PL. Foi o deputado federal mais votado do estado do Rio de Janeiro nas eleições em 2018.
– Magno Malta: Vencendo os Obstáculos da Vida Independente da Cor. Malta é pastor evangélico, considerado por muitos como um fundamentalista religioso. Ele também é cantor e político, sendo filiado ao PL. Foi senador pelo Espírito Santo de 2003 a 2019. Mesmo sendo apoiador do presidente Jair Bolsonaro, já foi cabo eleitor da ex-presidente Dilma Rousseff.
– Wesley Ross: O Brasil não é um País Racista. Ele é youtuber, cantor, pastor e pré-candidato a deputado federal novamente pelo PL, partido de Bolsonaro. Em suas redes sociais, há diversas postagens de apoio ao presidente, inclusive do próprio chefe do executivo o convidando a ser um deputado que representasse suas ideais.
– Paulo Sérgio Rangel: O Sucesso Não Tem Cor. Rangel é o desembargador que votou a favor do senador Flávio Bolsonaro no julgamento que concedeu Habeas Córpus ao filho do presidente no caso das rachadinhas em 2020. Foi dele o voto decisivo que garantiu foro especial por prerrogativa de função ao senador.
– Suéllen Rosim: Cultura e Racismo Não Têm Cor. Ela é prefeita de Bauru, sendo a primeira mulher a ter sido escolhida para o cargo. Durante as fases mais agudas da pandemia, ela ganhou notoriedade ao lutar para manter todo o comércio aberto. Ela é jornalista, cantora e filiada ao Patriota.
– Fernando Lisboa: Liberdade de Expressão. Lisboa é youtuber e está sendo investigado no inquérito das fake news por incitar em seu canal que o Supremo Tribunal Federal fosse fechado. Ele já se encontrou diversas vezes com Bolsonaro, e em uma delas tomou café com o presidente, pouco tempo depois das manifestações de 7 de setembro do ano passado.
– Dom Luiz Philippe de Órleans e Bragança: A Importância da Família Real na Abolição da Escravatura. Sendo o único branco que falaria, o herdeiro da família real traria a visão de que a família real sempre estava a favor da Lei Áurea. Ele é deputado federal pelo PL, ativista e empresário.
– Sonaira Fernandes: Cotas Raciais. Ela é vereadora de São Paulo pelo Republicanos. Causou polêmica em diversas ocasiões que já deu diversas declarações homofóbicas e transfóbicas, por exemplo ao dizer que o movimento LGBT queria ” acelerar a libertinagem sexual”.
– Maicon Sullivan: A Meritocracia Não Têm Cor. O influenciador digital é conhecido como “Black Power do Bolsonaro”, ele é missionário e o próprio Bolsonaro já fez diversas piadas com o cabelo dele.
– Alexandre Santana: Existe uma Dívida Histórica do Brasil com os Negros? Santana é comentarista da Jovem Pan e tem um canal no YouTube.
– Vanessa Silva: O Racismo Estrutural. Vanessa é conhecida como “Negona do Bolsonaro”. Em seu perfil nas redes sociais ela se descreve como “Negra liberta, bolsonarista raiz, ultra direitista, capitalista e armamentista”.