Realizar exames de rotina, ou check-ups, é um hábito normal em consultas médicas. No entanto, especialistas apontam que a prática em excesso pode ser prejudicial a crianças e adolescentes. Expor esse público à radiação ou triagens desnecessárias precisa ser muito bem avaliado antes, ao contrário dos adultos.
“Cada vez mais se nota crianças saudáveis ou crianças com problemas específicos. Eu vejo, por exemplo, crianças alérgicas que, além dos exames necessários para explorar essa questão e melhor tratá-la, um número enorme de outros exames é pedido”, diz a professora Magda Carneiro-Sampaio. A especialista faz parte do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas.
De acordo com ela, exames de rotina em crianças e adolescentes é checar o crescimento físico, desenvolvimento neuropsicossocial, escolaridade, alimentação, entre outros fatores. Entretanto, Magda Carneiro-Sampaio alerta que conversar com os pais antes é essencial.
“Médico bom não é médico que pede uma lista interminável de exames. O bom médico é aquele que conversa, que procura entender de fato o que está acontecendo, que continua a pensar em hipóteses a partir do que observa no exame físico e, se necessário, vai pedir alguns exames, chamados de complementares”, ressalta.

Momento adequado
O atendimento à criança é longitudinal e o ideal é acompanhar a criança desde a sua gestação. Em diálogo com os pais, o acompanhamento tem o objetivo de promover um estilo de vida saudável.
“Existem poucos exames que têm evidências que trazem benefícios tanto para o indivíduo quanto para a sociedade”, alerta a médica Filumena Maria da Silva Gomes. Ela é pediatra em desenvolvimento infantil do instituto e dedicada à atenção primária.
Apesar disso, a especialista alerta que isso não inclui as triagens da gestação. Como por exemplo, tipagem sanguínea, sorologia para identificação de doenças sexualmente transmitidas, teste do pezinho, triagem metabólica, entre outros. “Teoricamente, todas as crianças nascidas no Brasil deveriam ser submetidas à triagem neonatal das principais doenças que existem na população”, pontua.
Em crianças saudáveis, o adequado é que, depois do período neonatal, a próxima triagem seja a de anemia e deficiência de ferro. Posteriormente, apenas aos 10 anos de idade, para achar colesterol e triglicérides. As outras triagens são em grupos de risco, como o raquitismo na prematuridade, crianças portadoras de doenças crônicas, síndrome de Down (problemas de tireoide). “Não temos tantas triagens para justificar essa quantidade de check-ups de exames feitos, que acabam encarecendo os custos das famílias e da sociedade”, diz Filumena.
Risco
“A conversa, que a gente chama de anamnese, é importantíssima, porque o pediatra é um educador”, reforça Magda. Ele é responsável por orientar hábitos saudáveis, conferir se há distúrbios, problemas de comportamento.

O temor é que esses exames de rotina substituam os exames complementares. Sendo assim, isso pode acabar influenciando no diagnóstico de doenças ou distúrbios mais graves e específicos. Outro problema é a falta de contato próximo entre as famílias e o profissional de pediatria e o não estabelecimento de uma relação de confiança.
“O acompanhamento da criança é sempre baseado num tripé de estilo de vida saudável”, ressalta Filumena. O acompanhamento médico tem que estar voltado a isso: como ela se alimenta, como ela se exercita e como é o seu sono.
A maioria das complicações em crianças tem origem viral, mas se elas têm um estilo de vida saudável, o próprio organismo vai resolver, diz a médica. Os exames laboratoriais vão ser necessários nas complicações, em situações excepcionais. “Com estilo de vida saudável, a maioria das crianças vai bem, usa poucos medicamentos e raramente vai precisar de exames laboratoriais ou radiológicos”, argumenta.
*Com informações do Jornal da USP
*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde e Bem Estar
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