Pexels

Nos dias atuais, a chamada geração internet desconhece o que é brincar na rua, subir em árvores e outras coisas simples que, para os mais velhos, faziam parte de uma infância feliz. A criação dos filhos foi o tema das 163ª edição do Debate Super Sábado, Dia das Crianças.

Para a psicóloga social, jurídica e vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia da 9ª Região de Goiás, Christiane Ramos Rocha, a ausência total ou presença parcial dos pais no processo de acompanhamento e educação dos pequenos pode resultar em mudanças bruscas de comportamento e incapacidade de lidar com frustrações no futuro.

“Está se terceirizando muito a educação. A gente também tem sido imediatista em algumas questões, e se tratando de educação de filhos também. Nós gostaríamos de filhos prontos, de comportamentos que se fizessem e se criassem sozinhos. Isso não acontece. Nossos comportamentos são moldados a partir das relações sociais que a gente estabelece. Se eu não tenho tempo, dedicação, motivação para lidar com uma família, construir uma família, educar um filho, eu quero terceirizar. Então eu deixo para a escola de inglês, para a educação formal, para outras pessoas fazerem por mim para que eu receba um filho pronto”, analisa.

A psicopedagoga, mestre em Educação e especialista em Organização e gestão de centros educacionais, Fabíola Sperandio, avalia que, além da ausência dos pais, os filhos pequenos vêm sofrendo por um processo de ‘adultização’, em situações nas quais passam mais tempo com adultos do que com seus pares, ou seja, outras crianças.

“Um garoto de 13 anos não tem que passar uma noitada. Eu vou ao shopping e fico triste, saio do cinema 22h e vejo um monte de bebês e crianças no shopping. Essas crianças deveriam estar dormindo. No outro dia vão para a escola, berçário. Uma noite de sono é reparadora. Está tudo errado. É preciso que crianças tenham eventos infantis, não de adultos. Estamos ‘adultizando’ essas crianças e o reflexo está aí”, alerta.

Não é mimimi…

Entre as questões mais debatidas em relação às crianças é o mundo virtual, acessado por meio de celulares. Uma pesquisa recente de uma empresa especializada em segurança na internet revelou que 98% das crianças brasileiras entre 7 e 12 anos têm o seu próprio dispositivo conectado (73% deles são smartphones). Este dado reforça o fato do Brasil ser o segundo País com a maior entrada de equipamentos entre os locais pesquisados – ficando atrás somente da Arábia Saudita. O levantamento aponta ainda que 47% dos pais brasileiros entrevistados confiam que seus filhos navegam na internet em segurança sem supervisão. 

Para Christiane Rocha, a supervisão dos conteúdos aos quais crianças e adolescentes têm acesso é fundamental. “A gente precisa entender que tipo de conteúdo está sendo passado a esses adolescentes, que tipo de conteúdo eles têm acesso, e de que maneira esses conteúdos influenciam nos comportamentos”, argumenta. 

Para Fabíola Sperandio, a falta ou a procura tardia ou inadequada por orientação psicológia agrava o relacionamento entre pais e filhos. “Hoje as famílias estão bastante acomodadas a busca de artigos e textos na internet. A intermediação de um profissional é essencial”, propõe. 

Ouça e assista o debate na íntegra

design sem nome 1

Fabíola Sperandio e Christiane Rocha nos estúdios da Sagres 730 (Fotos: Jéssica Dias)