O 1º Festival de Palhaçaria Preta do Centro-Oeste, um festival que trabalha o protagonismo negro enquanto vertente cultural, realizado pelo Orum Aiyê Quilombo Cultural, homenageia em sua edição de estreia Benjamin de Oliveira, conhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil.

Idealizado pelo artista e personal circus, Marcelo Marques, e pela artista e ativadora cultural, Raquel Rocha, o Orum Aiyê Quilombo Cultural é um espaço que visa atividades e vivências artísticas afrocentradas. Em entrevista à Sagres, Marcelo relatou que o festival surgiu do desejo de possibilitar que pessoas pretas tenham acesso a atividades da cultura negra.

“A partir desse olhar, nós resolvemos criar um espaço em que as pessoas pudessem ter o acesso. Mas, o mais importante é colocar o negro no local de protagonismo. Pensando que uma parte da população de crianças, de jovens, veem seus heróis, veem as principais personalidades brancas, é importante que eu mostre para ela que existe um protagonismo negro, que existem pessoas negras em locais de protagonismo e é isso que a gente tenta trazer”, contou Marcelo.

Segundo Raquel, o desejo maior era levar às pessoas negras um evento cultural de peso em que os artistas negros fossem os protagosnistas. A artista mencionou que o meio artístico ainda é segregado.

“´É muito segregado. Um dos projetos que a gente tem pro espaço é a criação de uma galeria de artes visuais. Um exemplo desse problema racial no setor cultural é que nós temos várias exposições em que majoritariamente são de pessoas brancas, que ocupam essas galerias. E pouquíssimas pessoas negras”, diz Raquel.

Marcelo Marques pontuou que é necessário dar força a esse pensamento a partir do olhar das pessoas pretas. Através da literatura, dos espetáculos escritos por artistas negros e que, segundo ele, as pessoas não leem.

O artista relata que esse é o principal motivo para que a primeira edição do Festival de Palhaçaria Preta do Centro-Oeste seja em homenagem a Benjamin de Oliveira (1870-1954). 

“A maioria das pessoas desconhecem a existência desse palhaço. Mas Benjamin de Oliveira foi o primeiro palhaço preto do Brasil, ele nasce em 1970, foge com o circo aos 12 anos de idade, começa a trabalhar efetivamente como artista de circo com 19 anos de idade, é um cara que fez grandes espetáculos, fez atuações, inseriu a ideia de circo-teatro”.

Marcelo Marques ainda destacou outros feitos para explicar a importância de Benjamin de Oliveira na cultura circense brasileira.

“Ele faz os principais espetáculos, ele adaptou Shakespeare naquela época, em 1900. E quando você ainda não tinha uma televisão, você tinha o circo na cidade e quem levava essa cultura para as pessoas era o circo. E a figura do Benjamin de Oliveira foi uma figura fundamental no transporte dessa literatura, desse conhecimento que veio de outros locais, através desse homem negro e as pessoas mal conhecem isso”, finalizou Marques.

O festival começou no dia 1º e segue com atividades até 17 de abril, no Orum Ayê Quilombo Cultural. A programação pode ser consultada nas redes sociais do espaço.

Confira a entrevista completa a partir de 01:07:16

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