Encontrar cada vez mais embalagens sustentáveis no mercado é uma questão de tempo. Isso vale para serviços de entrega de comida por aplicativos, o chamado “delivery”, ou mesmo para fazer um cafezinho expresso em casa ou no trabalho. A substituição ao plástico e, agora, também ao alumínio, tem sido apontada como uma das soluções para conter o avanço da crise climática.
Na Europa, a novidade são as cápsulas de café feitas de fibras naturais. O material é compostável, produzido à base de papel, e vem sendo testado inicialmente na França e na Suíça pela Nespresso, em uma parceria com a Huhtamaki.
“São mais de 15 patentes para produção da cápsula”, afirma o gerente geral da Huhtamaki Brasil, Daniel Winocur. “Nos próximos anos, veremos o avanço da fibra sobre o alumínio. Não é uma coisa que acontece de um dia para o outro”, complementa.
A tendência é que, nos próximos anos, a nova cápsula de fibras naturais substitua as de alumínio que são reutilizáveis, mas o uso do metal mais abundante do planeta para este fim não é considerado nobre, segundo Winocur.
Um exemplo de finalidade nobre para o alumínio, segundo o gerente, seria uma janela, que dura aproximadamente 50 anos e demora para ser trocada ou descartada, diferente das cápsulas de café feitas com o metal, cujo descarte é mais rápido e nem sempre são recicladas na Europa.
Poluição
A produção de alumínio, desde a extração da bauxita até a transformação da alumina, gera alguns gases poluentes, como o gás carbônico (CO2) e os perfluorcarbonetos (PFCs). A frequente emissão desses gases na atmosfera contribui para o efeito estufa e intensifica o processo do aquecimento global.

Outro fator que pesa contra a cápsula de alumínio é que, embora ela tenha chegado ao mercado para substituir as de plástico, a produção do metal demanda um alto consumo de energia elétrica e, consequentemente, de emissão de CO2 por parte de indústria, fator que é compensado no caso das compostáveis.
“Essa fibra natural é produzida captando carbono da atmosfera através das árvores. Se for queimada vai voltar a produzir CO2, mas com um efeito mais ou menos zero, compensando o que captou com o que emitiu”, assegura.
Quando descartado na natureza, o alumínio demora de 200 a 500 anos para se decompor. No caso da cápsula de fibra natural, o material é rapidamente absorvido pelo meio ambiente por meio da ação de fungos e outros microrganismos.
“Caso ele vá parar em algum ambiente natural, rio, lixão, natureza, sendo uma fibra natural, terá uma decomposição natural e voltará para uma parte do solo sem criar um impacto ambiental significativo”, ressalta Daniel Winocur.
Delivery
Em Goiânia, a Eecoo leva no nome a sustentabilidade. A empresa é especializada na distribuição de embalagens sustentáveis, os chamados “bowls”. Entre os itens, estão os de delivery, que comportam alimentos como bolos, tortas, hambúrgueres, caldos e sopas.
“Todos os produtos da Eecoo são biodegradéveis ou compostáveis. Então é possível fazer o descarte junto com resíduo orgânico, por exemplo, e ele será degradado”, salienta Cintia Godoi, gerente de Inovação e Produtos da Eecoo Sustentabilidade.

Entre as matérias-primas das embalagens distribuídas pela Eecoo estão a fibra de milho, de cana-de-açúcar e madeira de reflorestamento. Diferente do plástico ou de materiais como o poliestireno expandido, mais conhecido como isopor, que demoram anos ou décadas para se decompor na natureza, os produtos compostáveis levam cerca de seis meses ou menos para deixarem de existir.
“O ideal é que se faça a composteira em casa ou que a empresa, por exemplo, tenha uma composteira, mesmo as elétricas que já existem, e então esse produto vai ser consumido pela natureza assim como os resíduos orgânicos”, orienta Cintia Godoi.
Embora seja uma das pioneiras no fornecimento de compostáveis em Goiás com distribuição para todo o Brasil, a Eecoo ainda não é responsável pela produção das embalagens, que ocorre fora do país. No entanto, a gerente garante que já existem projetos para prototipar o produto em território nacional.
Desafios
De acordo com o estudo “O mercado de delivery de refeições e a poluição plástica”, encomendado pela Organização não governamental (ONG) Oceana, o consumo de plásticos descartáveis em pedidos de entrega de comida aumentou 46% de 2019 para 2021, um salto de 17,16 mil toneladas para 25,13 mil toneladas.
Para Cintia Godoi, que também é ambientalista, entre os maiores desafios da implementação de sustentabilidade no dia a dia das pessoas está o desenvolvimento de mais políticas sustentáveis e a conscientização da população sobre a necessidade de mudanças de comportamento.
“Um dos maiores desafios é desenvolver pesquisa e desenvolvimento para gerar solução, e que essa solução seja possível de ser acessada por todos. A empresa que têm como missão ser sustentável, tem de ter também o acesso à comunicação com a população e com o Estado, até para que essas estruturas de desenvolvimento estejam atentas especialmente às empresas brasileiras que querem apoiar transformações que a sociedade precisa”, conclui.

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