Galhofada 2008 (Foto: Noêmia Elisa)

Entre os dias 25 e 27 de maio de 2018 acontece, na Ilha da Galhofa (Al. Henrique Silva, St. Pedro Ludovico), a 15ª edição da Galhofada – Pequena Mostra Internacional de Artes Cênicas de Rua. Durante três dias, uma programação cultural construída coletivamente desfila pelas ruas de um dos setores mais antigos da capital. A mobilização do trabalho voluntário de diversos produtores, técnicos, artistas, estabelecimentos comerciais e moradores da região, entre outros diversos profissionais que auxiliam na ação, fazem desse evento um dos maiores exemplos sobre como a arte e a cultura são necessárias para a saúde, o orgulho e a riqueza de toda a sociedade.

Nos seus 15 anos, a Galhofada conta também com a parceria de grupos de outros lugares do país e da América Latina, além dos artistas de nosso estado.

Galhofada 

Durante a Galhofada, o público de Goiânia sempre tem novas oportunidades de conhecer ou rever, gratuitamente, o trabalho de importantes artistas cênicos e musicais. Mas esta edição é um tanto especial, por ser um marco de resistência e coragem daqueles que lutam pela valorização da arte e da cultura, e que as querem acessíveis a todos as pessoas, independente de qualquer condição social.

Democratizar é a palavra de ordem entre os fazedores deste encontro, e até aqui, a fórmula parece ter funcionado, já que nas últimas 14 (quatorze) edições, a Galhofada atingiu um público de mais de 50 mil expectadores, além de ter reunido mais de 300 artistas, produtores e colaboradores neste grande palco que é a rua.

15 anos

Sobre esses 15 anos de Galhofada, Marcos Lotufo coordenador geral do festival e responsável pela Oficina Cultural Geppetto, comenta: “A solidariedade, o compromisso, o profissionalismo, a competência, a fibra, o carinho e a disposição de toda uma população, de fazedores e consumidores de cultura, prontos para trocar de papel a qualquer instante, pode ser medida nestas 15 Galhofadas. São essas ideias que surgem num final de tarde, depois de inúmeras reuniões, por pessoas decididas a resistir aos desmandos de nossos dirigentes e à malversação dos recursos públicos destinados à cultura, com o único objetivo de transformar a arte nesta prática sadia, educativa e cidadã. A primeira aconteceu em 2004 e foi uma Pequena Mostra de Teatro na Rua. Não tinha número. Não foi a Primeira, porque foi feita para ser a única. Não deu. A experiência foi tão rica, tão gostosa, que não pudemos resistir. Venho a segunda, a Terceira e agora a 15ª .Para explicar o que é, não tem jeito… só mesmo participando….

A Galhofada é uma Pequena Mostra de artes de rua, criada e organizada por artistas e produtores culturais de Goiânia e cidades vizinhas. Um trabalho sem fins lucrativos, que une a arte ao fazer social. O nome Galhofada quer dizer grande galhofa. Galhofar é gracejar, divertir-se ruidosamente. Galhofeiros são pessoas brincalhonas, zombeteiras.

A primeira edição do evento foi pensada por um coletivo de artistas e aconteceu em 2004. A conjuntura foi propícia e desembocou num trabalho que se tornou significativo de cidadania cultural na região do Setor Pedro Ludovico, junto a uma população sedenta por novas possibilidades de lazer e bem-estar social para suas famílias. Nesta condição, decidiu-se que Galhofar era preciso. Foram 2 dias de evento, destinados exclusivamente à apresentação de espetáculos teatrais de rua.

O evento tinha o expresso objetivo de levar para a população do Setor Pedro Ludovico um trabalho que, para aquelas pessoas, era praticamente desconhecido principalmente pela falta de poder aquisitivo. O sucesso da primeira edição fez com que grupos e artistas voltassem a se organizar para uma nova investida. A Segunda Galhofada aconteceu já em 2005 e desta vez contou com a ajuda da comunidade local. Sua programação foi ampliada para três dias e, além dos espetáculos, o público pôde participar de jogos e pequenas oficinas.

Através do processo de avaliação do evento os organizadores constataram que não só haviam atingido a meta estipulada durante a primeira edição, como haviam superado todas as expectativas do grupo. Em 2006 foi a própria comunidade do bairro que buscou a Oficina Cultural Geppetto para que a Mostra tivesse prosseguimento. Com isto as aulas foram intensificadas e formou-se um elo entre a Galhofada e os moradores do bairro.

Em 2007 o evento tornou-se uma tradição. “O que recebemos em troca deste trabalho é a certeza de que estamos cumprindo um papel importante em nossa sociedade, levando arte e cultura para toda a cidade e, com isso, alavancamos o nosso trabalho, formando público e contribuindo para que estas pessoas reconheçam o artista como um profissional… sem falar que estamos formando uma parceria muito importante com outros grupos, artistas e produtores que também são voluntários.” Disse, na ocasião, o ator e diretor Hélio Fróes, da Cia de Teatro Nu Escuro.

Deste ano em diante, a chama manteve-se acesa para aqueles que iniciaram o movimento, tanto quanto nasceu dentro de outros personagens que foram surgindo, se agregando e transformando o evento em um grande mutirão.

Vakinha

A 1ª Galhofada aconteceu da necessidade sentida por grupos do fazer teatral de Goiânia de se apresentar a um público que não tem acesso às casas de cultura nem como atores e nem como público. As Galhofadas que se seguiram foram realizadas pelos amantes das artes cênicas, mas com participação cada vez maior da população local, de diversas formas (oferecendo almoço, discutindo a programação, montando e desmontando cenários, divulgando etc.). Em nenhuma delas houve participação financeira do poder público. Cada participante arca com suas próprias despesas e os pequenos gastos são rateados entre os organizadores.

A Galhofada tem acontecido, conforme já relatado, todos os anos se tornando um grande encontro entre artistas, entre artistas e comunidade, entre população periférica e central, rompendo preconceitos e democratizando o fazer artístico de forma orgânica, alegre, descontraída e com qualidade.

A falta de recursos tem sido um mote para comprovação da força do movimento artístico e, nas reflexões, tem ficado claro que esta é uma das características que não queremos perder.

A distribuição de cachês e remunerações diversas aos participantes poderia gerar interesses escusos e forçaria a organização à escolha de trabalhos a serem apresentados acarretando a necessidade de inscrição prévia, comissões de seleção, organização burocratizada etc. etc.. Tudo isso geraria custo elevado e a falta de apoio permanente acarretaria o fim da mostra.

Desde o ano passado com a possibilidade de alcançar novos apoiadores que acreditam no fazer social, no fazer você mesmo, na importância do contato com a cultura, com a arte, com o outro, foi criado um projeto de captação pelo site Vakinha Virtual.

O objetivo é pagar as pequenas despesas que surgem durante a construção do festival, como alimentação, transporte, material de luz, som e palco, arquibancadas, entre outros itens. Tendo em vista que a Galhofada é toda realizada a partir de parcerias, sem financiamentos específicos de lei de incentivo ou de grandes empresas, sendo dinamizado por pequenas doações, rifas e a solidariedade dos moradores do Setor Pedro Ludovico, sentiu-se a necessidade de se buscar alternativas que alcançassem mais pessoas.

A Vakinha foi então criada para ampliar as possibilidades do festival e garantir o básico para todos os artistas e produtores que trabalham de forma voluntária. Para quem quiser colaborar, o site para doações é: http://bit.ly/galhofada

Oficinas

A Galhofada, desde sua primeira edição, também se preocupou em garantir algum tipo de contato mais formativo entre o público e as diversas manifestações artísticas que subiam ao palco. Por isso mesmo, foi criada uma programação de oficinas abertas a todas as pessoas interessadas. Em 2018 a prática se repete.  

Estão abertas as inscrições para as diversas oficinas ofertadas neste ano. Entre elas: Malabares, com o Circo Lahetô; Pirofagia; Teatro Prático, com o Instituto Hélio e Maria Auxiliadora; Escultura com balão tripa;  Da voz falada e cantada, com a mexicana Patrícia Ordaz; Pintura de “Gelateraturas”, com Radarani Oliveira; Brincadeiras Tradicionais de Rua, com a Radarani Oliveira; Jogos, Música e Percussão Corporal;  com Griff Roney; Teatro de formas animadas, com Marcos Marrom;  AfroAfetos, com Grupo de Ativismo Goiânia – Anistia Internacional; Confecção de brinquedos para gatos, com LAFEL; Confecção de brinquedos, com o Seu Divino.

As oficinas acontecem no sábado, 26, das 9h às 12 horas. Para participar das aulas, basta se inscrever no próprio dia e local, ou pelo telefone: 3241 18 47(Geppetto)

Programação

Além das oficinas, a Galhofada toma forma com apresentações de teatro, dança, música e circo, além das feirinhas culturais de troca e atividades comunitárias de recepção ao público, como o Cortejo. Tudo gratuito e ao ar livre.

Em 2018, muitos artistas e grupos importantes fazem parte da programação, de forma voluntária. Entre eles, Passarinhos do Cerrado, Claudia Garcia, Circo Itinerante Chocozuela, Família Colombo Argento, Palhaço Beterraba, Xiru e Liru, Isabela Lellis, Patrícia Ordaz, Radarani, Griff Roney, Lafel UFG, Josy Vieira, Gamelin Malabares, Palhaço Physquila, Mel Gonçalves, Grupo de Ativismo Goiânia – Anistia Internacional, Instituto Hélio e Maria Auxiliadora, Cia Teatro Do Maleiro, Circo Lahetô, Grupo Por Quá?, Teatro del Camino, Grupo In Bust de Teatro de Animação (Belém do Pará), Grupo Caboclinho, Tiago Verano, Seu Divino, Grupo Imagem, Grupo Contemporâneo de Dança, Juliana Pimentel, Lendas Cantadas, Chico Aafa e Felipe Valoz, Duo Sankara e Camerata Caipira.