Bólidos sobre duas rodas no grid de largada do Autódromo Internacional de Goiânia (Foto: Acervo/Roberto Boettcher)
Os meses de setembro de 1987, 1988 e 1989 ficaram marcados na história de Goiânia pelo ruído estridente do acelerado das motos de 500 cilindradas. Durante esses três anos, a Capital goiana sediou o Mundial de Motovelocidade, e nomes como de Eddie Lawson, Wayne Gardner, Kevin Schwantz e Randy Mamola passaram a fazer parte do cotidiano da Cidade.
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Treze anos após a inauguração, o autódromo goianiense recebia públicos de cerca de 50 mil pessoas para acompanhar as provas decisivas da principal categoria de motovelocidade mundial. O gerente da praça esportiva na época, o ex-piloto de motocross Roberto Boettcher, relembra o quanto Goiânia ficou agitada no período.
“Foram os três maiores eventos que Goiás já teve. Transmitidos para milhões de expectadores no mundo todo. O povo foi se dando conta da proporção da prova quando a Cidade começou a encher. De repente tinha aquele tanto de moto na rua e tudo virou uma grande loucura. Nos outros anos, o evento foi crescendo e o povo tudo queria ingresso para ir para o autódromo, foi um marco para Goiás”, relata.
Ao contrário do que se poderia imaginar, não foram necessárias muitas obras para adequar a praça esportiva ao padrão internacional. O ex-piloto Edmar Ferreira foi o superintendente do autódromo durante as provas.
“O autódromo estava entre os mais seguros do mundo, ainda mais para motos, no Brasil tenho certeza que era o primeiro em segurança. Tanto que os ajustes feitos foram só para embelezar, um espécie de batom. Nenhuma obra foi executada”, afirma.
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Fax?
Mas se a estrutura estava pronta, por outro lado, as dificuldades para a organização de um evento de tamanho porte em Goiânia, durante os anos 80, eram várias. A começar pelos equipamentos de comunicação, conforme relembra o presidente da Federação Goiana de Motociclismo no período, Kurt Feichtenberger.
“Nós precisávamos de colocar um fax, mas aí vinha a pergunta: O que era fax? Alguém tinha ouvido falar que no Banco Itaú tinha esse negócio. E foi lá que conseuimos. Na época, os telefones eram aqueles orelhões de ficha, tudo novidade que não existia por aqui. Teve um dia que vi gente do governo de terno e gravata pintando parede para terminar o mutirão. E um outro episódio foi o de uma das motos que foi parar em “Goiana”, em Pernambuco”, recorda.
Em 1987, o australiano Wayne Gardner venceu aquela que foi a penúltima prova da temporada e comemorou em Goiânia o título da competição. Nos dois anos seguintes, a capital do Estado recebeu as corridas finais e decisivas da categoria. O americano Eddie Lawson foi o vencedor e o campeão de 1988. Na temporada seguinte, o também americano Kevin Schwantz venceu a corrida mais viu seu compatriota Eddie Lawson ficar com o título.
Nesse período, outro piloto dos Estados unidos que se destacou na pista goiana foi Randy Mamola. Ele ganhou notoriedade com o público principalmente pela ousadia que demonstrava durante as corridas. O piloto brasileiro Alex Barros, que participou das provas de 1988 e 1989 pela categoria de 250 cilindradas, viu de perto as peripécias do norte-americano.
“O Mamola ficou muito conhecido porque ele empinava a moto e era um showman. Se até hoje falarmos com o pessoal que esteve presente na época vão lembrar do Mamola, talvez nem tanto de outros pilotos tão bons. Mas o Mamola era muito falado aqui no Brasil”, conta.
Césio
Foto: Acervo/Roberto Boettcher
Simultaneamente à primeira prova da Moto GP, outro assunto que deu o que falar em Goiânia foi o acidente com o Césio 137. A corrida de 1987 aconteceu em 27 de setembro. No dia seguinte, as autoridades goianas revelavam aquele que é considerado o maior acidente radiológico do país. Com quatro mortes, cento e cinquenta e um contaminados e mil cento e quarenta e três pessoas afetadas. E como não poderia ser diferente, a desinformação que tomou conta do episódio assombrou aqueles que passaram por Goiânia. De acordo com Kurt Feichtenberger, da então Federação Goiana de Motociclismo.
“O preocupante para as equipes foi que, depois que foram embora, principalmente, para a Europa, começaram a aparecer notícias de que tinha gente aqui morrendo. O que se falava por lá era que o povo estava andando na rua e de repente caíam mortas, lá se falava que por aqui estavam morrendo de duzentas a trezentas pessoas por dia. Era o fakenews da época, com o agravante que não se tinha acesso a informação como se tem hoje. Por isso a Federação Internacional de Motociclismo me exigiu que eu fosse no secretário de saúde do Estado e pegasse uma declaração de que as equipes não tiveram contato com as áreas de contaminação”, afirma.
O esporte venceu
Passado o susto com o acidente do Césio 137, as corridas do mundial de moto velocidade ainda voltaram a Goiânia por mais duas temporadas. E deixaram uma sensação de dever cumprido. A observação é de quem trabalhou na cobertura do evento, o jornalista especializado em esportes a motor Fernando Campos.
“Goiânia se saiu muito bem, por mais incrível que pareça. A Cidade já tinha uma base de hotelaria muito forte e ninguém teve que dormir na rua nem na ponte. A estrutura do evento eram das duas categorias (250 cc e 500 cc). Só de pilotos tinham quase cinquenta, com mais equipes e pessoal de organização além do pessoal que veio de fora pra ver. Goiânia comportou bem os mundiais de motovelocidade. Foram eventos que mexeram com a Cidade como nenhum outro”, constata.
Além dos mundiais de motovelocidade que agitaram a Capital goiana entre 87, 88 e 89, os motores já roncaram alto na pista de Goiânia em diversas provas da Stock Car, Fórmula Truck e várias outras modalidades de esportes a motor.
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