Goiânia promove evento para aproximar empresários dos debates sobre a COP30

Goiânia deu mais um passo rumo ao fortalecimento de sua agenda ambiental com a realização do evento Goiânia Sustentável – O Clima é de Compromisso. A iniciativa, promovida em parceria entre a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) e a Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (CIEG), busca ampliar o engajamento do setor empresarial nas discussões que antecedem a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que acontecerá em Belém (PA) no ano que vem.

O tema foi destaque da edição mais recente do Agir Sustentável em Pauta, da Sagres TV. No programa, a diretora de Gestão Ambiental e Mudanças Climáticas da Amma, Ana Paula Assis, e a advogada especialista em Direito Ambiental e Empresarial, Gabriela do Val, debateram a importância de tornar o debate climático mais acessível e prático, especialmente para o setor produtivo.

“Pensamos em comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente com uma programação ao longo de todo o mês de junho. E esse evento com a CIEG tem um papel fundamental: trazer conhecimento, esclarecer como funciona a COP e preparar a sociedade para o protagonismo que o Brasil terá na COP30”, afirmou Ana Paula. “As pessoas ouvem falar da conferência, mas muitas vezes não entendem seu real impacto. Nosso objetivo é aproximar esse debate da rotina das pessoas e das empresas”, completou.

O evento contará com duas palestras principais: O Brasil no Centro das Decisões Globais, com o especialista Rodrigo Corradi, e Do Local ao Global: como Goiânia pode ser protagonista na COP30, com Eduardo Preis e Mário Hirose. Para Gabriela do Val, a iniciativa é essencial para democratizar o conhecimento sobre mudanças climáticas.

“A discussão ambiental muitas vezes se torna técnica demais e distante da população. A ideia aqui é falar de forma clara, objetiva, e mostrar que o comprometimento com o meio ambiente é responsabilidade de todos – não apenas do poder público”, pontuou.

A advogada, que já participou da conferência internacional realizada na Alemanha em 2018, também destacou que a COP não é um evento aberto como muitos imaginam. “As pessoas pensam que é só comprar ingresso e ir. Não é bem assim. É preciso ter vínculo com instituições e preencher critérios. Por isso é tão importante levar o conteúdo da COP até quem não estará lá presencialmente”, explicou.

Durante o programa, Gabriela também chamou atenção para um tema que deve gerar polêmica durante a COP30: a possível exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira. “Discutir petróleo no ano da COP30, com o Brasil como anfitrião e a Amazônia em foco mundial, é no mínimo controverso. E o debate precisa chegar à sociedade”, defendeu.

Ana Paula Assis reforçou que a atuação municipal também deve ser valorizada, com foco nas ações locais que têm impacto direto na vida da população. “A gente precisa sair do discurso e pensar: como as mudanças climáticas nos afetam no dia a dia? O que cada um está fazendo? O meio ambiente é um direito coletivo, mas também uma responsabilidade individual. É preciso agir”, disse.

Segundo a diretora da Amma, um dos principais pontos debatidos atualmente em Goiânia é a gestão de resíduos sólidos. “Temos recebido muitos pedidos de apoio para eventos com essa temática. O descarte incorreto gera transtornos imensos, e a responsabilidade não é só do poder público. A Política Nacional de Resíduos Sólidos é clara: cada um tem o dever de cuidar do que consome e descarta.”

O evento Goiânia Sustentável – O Clima é de Compromisso é gratuito e aberto ao público, com inscrições disponíveis pela internet. “Eu acho que essa é uma importância da COP, principalmente acontecendo no Brasil: a realidade do país acaba sendo, no mínimo, pautada. Os empresários, por exemplo, passam a se perguntar como podem agir diferente”, afirmou Gabriela.

No entanto, ela também ponderou que “no macro, as soluções parecem não vir” e que muitas vezes se perde tempo demais discutindo estratégias globais, sem avanços efetivos no cotidiano das cidades.

Uma das preocupações levantadas foi quanto à capacidade da cidade-sede da COP30. “Belém está preparada? Tudo ficou muito caro, e a infraestrutura básica ainda enfrenta muitos desafios, como o saneamento. Isso limita a participação e escancara desigualdades”, disse Gabriela. A fala repercute um temor que o evento global ocorra sem transformar a realidade local.

Outro ponto central do programa foi a temática dos chamados “migrantes climáticos”. “A gente está chegando num grau de urgência. É uma migração que não é de guerra, mas do clima. Essas pessoas vão precisar sair de onde vivem porque ali se tornou insalubre”, destacou Gabriela. Ela acrescentou: “Essa migração afeta diretamente as periferias, quem já tem menos recursos. Isso é justiça climática.”

Ao ser questionada se a COP30 trará o debate sobre justiça climática, Gabriela respondeu: “Essa é uma pergunta extremamente inteligente e pertinente. Quando esse desequilíbrio acontece, ele repercute em todo o mundo. É por isso que a questão climática tem que ser discutida mundialmente, mas trazida também para os municípios e estados. Qual é o compromisso de cada um?”

A conversa também abordou os resíduos sólidos e o papel da população. “Não existe jogar lixo fora. O planeta Terra é o nosso ‘fora’. E eu sobrecarrego o poder público quando não faço minha parte na separação e descarte correto do lixo”, afirmou. “Não tem dinheiro público. Tem dinheiro da nossa contribuição. Quando eu descarto de forma irregular, estou aumentando meu próprio imposto”, pontuou.

Ana Paula falou sobre os esforços da Prefeitura de Goiânia na estruturação da logística reversa de pneus e vidros. “Estamos concluindo a logística reversa dos pneus, que muitas vezes são largados em calçadas, margens de rios, terrenos baldios. É um problema de saúde pública. O próximo passo será estruturar a logística reversa de vidro, pilhas e baterias, que contaminam o solo”, explicou.

Ela também apontou a dificuldade de responsabilização pelo descarte irregular: “Você chega em uma rodovia e vê um mini lixão. Mas é um ponto clandestino, não tem como autuar ninguém porque não se sabe quem foi”. O programa ainda destacou o papel da educação ambiental e do exemplo individual.

“Eu falo muito para os meus alunos: o individual constrói o coletivo. Eu posso ter um discurso maravilhoso, mas estou mobilizando? Está tendo engajamento?”, refletiu a advogada.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima

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