Não são muitos os jogadores que conseguiram fazer história por Goiás e Vila Nova. A principal rivalidade do futebol goianiense há décadas separa a capital e Túlio Maravilha é um raro exemplo de quem conquistou torcedores esmeraldinos e colorados. Nos 77 anos do Goiás Esporte Clube, os feitos do histórico centroavante com a camisa verde não foram esquecidos pela reportagem da Sagres 730.
Revelado na Serrinha, Túlio Humberto Pereira Costa, ou simplesmente Túlio Maravilha, é uma figura folclórica com muitas histórias no futebol brasileiro e goiano. Pelo Goiás, que defendeu profissionalmente entre 1988 e 1992, foram 77 gols oficial e conquistas importantes, como o tricampeonato goiano entre 89 e 91 e a artilharia do Campeonato Brasileiro de 89, com apenas 20 anos.
Começo na Serrinha
Túlio (centralizado) com a camisa 9 do Verdão (Foto: Arquivo Pessoal/João Batista Alves Filho)
Para Túlio, “falar do Goiás Esporte Clube é voltar ao passado e à minha infância. Passa um filme na cabeça de onde tudo começou, daquele sonho de um garoto de 12 de idade, que imaginava ser um jogador profissional e famoso, jogar no estádio lotado e na seleção brasileira. Isso tudo começou nas categorias de base do Goiás com 12 anos, então falar do Goiás é mexer no coração e nas raízes”.
“Quantas vezes o meu falecido pai me levava para os treinos, eu também pegava ônibus e às vezes ia de carona com os amigos. Lembro até hoje que com a primeira ajuda de custo do Goiás, quando estava no juvenil, comprei uma bicicleta. Subia e descia aquela 85 como se estivesse em uma fazenda ou em uma cidade do interior. Enfim, sou muito grato que o Goiás abriu as portas para mim”, acrescentou o ex-jogador, hoje com 50 anos.
Durante a entrevista, Túlio recordou de quando marcou seu primeiro gol profissional pelo Goiás no estádio Serra Dourada, quando em 1988 fez um dos 12 que o seu time aplicou sobre a Jataiense pelo Campeonato Goiano. Memorável também o gol que considerou o seu mais bonito em mais de duas décadas de carreira: na goleada de 4 a 0 sobre o América de Morrinhos, um chute de bicicleta. Ou os seis contra o Anápolis em um jogo que terminou 10 a 1 para o Goiás, ambos pelo Goianão em 1991.
No Campeonato Brasileiro de 1989, em que o Goiás chegou até a segunda fase e terminou com 10ª melhor campanha, o atacante marcou 11 dos 17 gols que o seu time fez em 18 partidas na competição. Na época, o prêmio de artilheiro era patrocinado e valia 100 mil dólares, premiação esta parcialmente dividida pelo camisa 9 esmeraldina com seus companheiros, comissão técnica, diretoria e demais funcionários. A conquista, contudo, veio somente no último jogo, disputado no Serra Dourada contra o Náutico, justamente do seu rival pela artilharia, Bizu, então empatado com nove gols.
Segundo Túlio, “nesse jogo, o Anderson teve duas chances para poder fazer o gol e ser o artilheiro do jogo, mas, pensando no bem maior e na recompensa, ele me deixou na cara do gol duas vezes. Terminei com 11, o Bizu ainda fez um gol de pênalti e quase conseguiu empatar comigo, mas ganhamos o jogo, fiz os dois gols e fui artilheiro do campeonato. Ainda ficamos na torcida, porque o Bebeto também estava na briga, quando foi campeão brasileiro em cima do São Paulo. Quando terminou o campeonato, o Vasco comemorou de um lado e o Goiás do outro, com o prêmio de 100 mil dólares”.
Antes e depois do Túlio
Com seus gols e carisma, Túlio marcou época com a camisa 9 do Goiás, porém não foi o único a fazer história. O ex-jogador recordou que “antes de mim sempre vi histórias do Lincoln, ‘o leão da Serra’. Esse foi o precursor dessa dinastia do camisa 9 do Goiás, como goleador em várias vezes do Campeonato Goiano e fazendo jogos memoráveis, como o contra o Santos naquele 4 a 4 no Pacaembu. O Lincoln foi o ícone dessa dinastia e por isso foi grande inspiração minha e de tantos outros”.
“Depois, acredito que o Fernandão, mesmo não sendo centroavante, era um meia-atacante, marcou história. Lembro de uma entrevista dele quando estava no Internacional, onde foi campeão do mundo, e perguntaram para qual era seu ídolo na infância e ele disse ‘sem dúvida era o Túlio, porque acompanhava ele desde as categorias de base’. O Fernandão, depois de mim, representou muito bem essa camisa 9, ou a 10 que ele usava, fazendo grandes gols e conquistando grandes títulos para o nosso Goiás”, completou.
Rivalidade com o Vila Nova
Túlio marcou muitos gols contra o principal rival do Goiás, o Vila Nova, porém também esteve do outro lado. Pelo clube do Onésio Brasileiro Alvarenga, jogou por três oportunidades, em 1999, 2001 e entre 2007 e 2008. “A rivalidade entre Vila Nova e Goiás – conta o ex-jogador – foi desde os tempos das categorias de base. Me lembro que no infantil disputamos jogos memoráveis, tanto no OBA quanto na Serrinha. Nos juniores também, antes do profissional, me lembro que tinha uma disputa acirrada com o Nelson Silva, que era o grande artilheiro do Vila na época”.
“No profissional, em 89, também contra o Ivo. Me lembro que na final tive a felicidade de fazer um dos gols do título em um passe memorável do Péricles e eu saí para comemorar com aquele ‘cabelão à Zezé di Camargo’. A imagem que tenho de 89, depois do título, na hora que o juiz apitou, a torcida toda invadiu o Serra Dourada e eu já pensava ‘onde que está o vestiário? Porque não vai sobrar nada’ e o pessoal levou camisa, meião, chuteira e cheguei no vestiário só com a sunga. Então foi memorável, o primeiro de uma série, que foi o tricampeonato em 89, 90 e 91”, relembrou.
Apesar dos gols e títulos, hoje muitos esmeraldinos não têm a mesma idolatria de antes por Túlio, mas o ex-jogador ressaltou que “a relação com o torcedor esmeraldino é fantástica, amistosa e carinhosa. Muitos deles me encontram e falam ‘comecei a torcer pelo Goiás vendo você brilhar, sendo artilheiro do Campeonato Brasileiro, quantas vezes no final de semana você mostrando as cores do nosso Goiás e o Serra Dourada lotado’, então essa é a imagem que a maioria dos torcedores têm comigo”.
“Eu costumo dizer que sempre fui profissional, independente do clube. No Goiás, fui três vezes campeão goiano e artilheiro do Brasil várias vezes. Quando joguei no Vila Nova, dei o melhor também. São momentos diferentes. O clube do coração é o Túlio Futebol Clube, aquele clube que você está jogando na hora e defendendo as cores. Por todos os clubes que passei, honrei a camisa e no Goiás não foi diferente, tenho um carinho muito especial e onde tudo começou”, reforçou.
Túlio ainda destacou que “meu filho está sendo os mesmos passos do pai, o Cristian Maravilha. Hoje ele tem 12 anos, faz a escolhinha do Goiás no estádio Hailé Pinheiro e sempre conto de onde tudo começou. Se vai ser artilheiro ou parecido comigo não importa, o importante é que está no caminho certo, gosta de futebol, é goiano como eu e vai representar muito bem no futuro, se Deus quiser, uma camisa como a do Goiás, chegar à seleção brasileira e disputar uma Copa do Mundo”.
Ouça na íntegra a entrevista de Túlio Maravilha à Sagres 730:
{source}
<iframe width=”100%” height=”166″ scrolling=”no” frameborder=”no” allow=”autoplay” src=”https://w.soundcloud.com/player/?url=https%3A//api.soundcloud.com/tracks/792163321&color=%23ff5500&auto_play=false&hide_related=false&show_comments=true&show_user=true&show_reposts=false&show_teaser=true”></iframe>
{/source}