O pesquisador Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, afirmou em entrevista à Sagres 730 nesta quinta-feira (3), que esse é o momento dos gestores públicos tomar medidas preventivas para conter a segunda onda da covid-19.

Para Domingos Alves, é importante observar o que está acontecendo em outros países e tomar providências que podem ser importantes para não ter que aderir ao lockdown ou medidas mais drásticas. “Hoje temos cenários de emergência, a grande maioria dos estados já estão com uma taxa de infecção alta, mas ainda não tem uma taxa de ocupação de leitos preocupante. Esse é o momento de tomar providência, diferente do que foi feito na primeira onda”.

O estado de Goiás, é um dos três estados brasileiros que tem a taxa de transmissão (Rt) abaixo de 1. Segundo o pesquisador da USP, Goiás ainda está em declínio do número de casos e do número de óbitos da primeira onda, mas alerta que o vírus já está instalado. “Goiás tem uma densidade populacional menor, tem portas de entrada que não tem fluxo grande, e isso pode explicar o retardamento na primeira onda e também pode explicar o retardamento agora”, explicou. “Mas estamos em uma situação preocupante porque o vírus já está espalhado e se espalha mais rápido”, disse.

De acordo com Domingos Alves, o Brasil vive um cenário bastante preocupante. “A explicação desse aumento ainda é bastante complicada, mas está, com certeza, relacionada com o relaxamento das medidas de restrição que tem sido praticada no Brasil. É bastante similar ao que se viu durante o verão na Europa, e que está tendo consequência agora. Ou seja, as medidas de restrição começaram a ser relaxadas, as pessoas começaram a se aglomerar”, disse. “Esses são os motivos que, com certeza, levaram a esse aumento da intensidade de novos casos que está sendo observada hoje em vários estados brasileiros”.

Outro ponto observado pelo pesquisador, foi a redução do número de testes no Brasil. “Esses números começaram a aumentar em meados de outubro, o que é mais adstringente ao se ver o aumento desses casos, é que a partir do final de agosto, ou seja, os meses de setembro, outubro e novembro, o número de teste no Brasil começou a diminuir”, afirmou. “O Governo Federal diminuiu o número de testes enviados para os estados, de maio até novembro a redução da distribuição de testes do Governo Federal para os Estados foi em torno de 64%”.

O pesquisador da Faculdade de Medicina da USP defendeu que os Estados ampliem a testagem em massa, façam rastreamento dos casos e mantenha os casos confirmados em isolamento, e assim evitar medidas de restrição mais drásticas. “Pode ser que não tenha necessidade de tomar medidas de restrição mais drástica, desde que se amplie o número de testes”, disse.

“Os Estados devem fazer o protocolo preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), fazendo testes em massa, fazendo o rastreamento dos casos confirmados e adotando um protocolo de isolamento”, afirmou. “Isso pode ser uma forma de evitar que os Estados e municípios adotem medidas mais severas que influenciam diretamente na economia. Fazer teste é economicamente mais viável do que fechar os estabelecimentos que precisam da atividade para sobreviver”.