Goiás é o sétimo estado brasileiro com maior potência instalada de energia solar, segundo o mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Em entrevista à Sagres, o Coordenador Estadual da entidade em Goiás, Francisco Maiello, afirmou que o estado possui quase 700 megawatts (MW) instalados em usinas distribuídas e centralizadas.

“Goiás tem o benefício de ter uma radiação muito favorável para a energia solar. Tem grandes áreas, muito sol, uma logística muito importante e isso ajuda muito no desenvolvimento da energia solar e na escalabilidade dela. O estado tem um destaque com quase 700 megawatts de potência instalada de energia solar”, contou.

Francisco Maiello, empreendedor de energias renováveis
coordenador estadual da Absolar em Goiás (Foto: Linkedin/Francisco Maiello)

Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul ocupam respectivamente o primeiro, o segundo e o terceiro lugar da lista da Absolar. Mas no passado, os paulistanos ultrapassaram os mineiros e fecharam o ano de 2022 à frente do ranking de consumidores que geram sua própria energia. Os números de Goiás dentro desse cenário nacional, para Maiello, são muito interessantes. 

“Estima-se que houve cerca de R$ 3,5 bilhões investidos no estado. A contrapartida disso é mais de R$ 1 bilhão em arrecadação de tributos e mais de 20 mil empregos gerados. E isso é muito importante. São números que impactam e trazem Goiás para esse cenário de energia”, destacou.

Matriz energética

A matriz energética brasileira então capta e produz energia de fontes hídricas, gás natural, eólica, biomassa, carvão e derivados, nuclear, derivados do petróleo e solar. O Coordenador Estadual disse que o Brasil possui cerca de 85 milhões de unidades consumidoras, que são relógios que recebem uma conta de energia. 

Usina Hidrelétrica de Mauá no Paraná (Foto: Divulgação/Usina Hidrelétrica de Mauá)

Maiello afirmou que desse total, apenas 1,5 milhão são beneficiados ou têm acesso a energia solar fotovoltaica. “É muito pouco ainda”, ressaltou. Francisco Maiello fez o recorte desses dados para o estado de Goiás.

“Goiânia é a oitava cidade do Brasil que mais possui energia solar instalada, com quase 115 megawatts (MW) daqueles 700 MW. Goiás tem cinco milhões e 300 mil unidades consumidoras que têm contas de energia, e dessas, apenas 80 mil colocaram energia solar, o que não representa nem 1,5% ainda de acesso”, contou.

A energia é o motor que faz algo realizar um trabalho, inclusive os seres humanos, que precisam de nutrientes dos alimentos para obter essa energia e se locomover. No entanto, no caso da eletricidade, a principal energia consumida no país sai das hidrelétricas, que apesar de ser uma forma limpa e renovável, deixam impactos ambientais ao serem construídas. 

O Brasil tem uma grande capacidade para produzir energia de fontes renováveis por causa do clima e, também, pela distribuição dos seus recursos hídricos. Desta forma, a matriz energética do país pode se tornar cada vez mais limpa. 

Solar ultrapassa a eólica

O Balanço Energético Nacional 2022 realizado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) mostrou que a participação de fontes renováveis na Oferta Interna de Energia (OIE) chegou a 44,7%. Assim, dentro desse contexto, Francisco Maiello ressaltou a terceira posição da energia solar no consumo da matriz elétrica brasileira de energia.

“A gente perde para energia hídrica e estamos colados com a energia eólica, mas a gente acredita que já a partir deste ano, a energia solar ultrapasse a energia eólica. Isso, tanto de projetos de energia centralizada quanto de energia distribuída”, destacou.

O crescimento da Energia eólica e solar (Foto: Design/portalsolar.com.br)

E ultrapassou. Pois a Absolar anunciou na terça-feira (3) que a energia solar ultrapassou eólica e já é a segunda maior fonte do país, após ter alcançado 23.854 megawatts (MW) de potência instalada, o que corresponde a 11,2% da capacidade nacional. Os dados foram gerados com base em informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Então, a energia eólica passa agora a terceira posição com 23.754 MW (11,1%). E a energia elétrica segue em primeiro com 109.719 MW de potência, sendo 51,3% do total. As outras fontes de energia. As demais fontes da matriz energética brasileira respondem assim: gás natural (8,2%), biomassa (7,8%), diesel (4%), carvão mineral (1,7%) e nuclear (0,9%).

Segundo a Absolar, dos 23,9 mil MW da potência de  energia solar, 16,2 mil MW são de geração distribuída e 7,7 mil MW de usinas centralizadas.

Regulação do setor

O setor da energia solar começou a ser regulado no país em 2012, quando a Aneel estabeleceu as condições para o acesso de microgeração e minigeração distribuída nos sistemas de distribuição e compensação de energia elétrica, por meio da resolução normativa Nº 482.

Há duas formas de produção de energia solar no Brasil: a Geração Distribuída (GD), como as instalações em telhados de residências. E a Geração Centralizada (GC), ou seja, por meio de usinas de energia solar, também conhecidas por fazendas solares. 

“Goiás começa a se destacar nos dois itens. Na questão da centralizada, Goiás ainda não tem uma grande atuação, mas o estado tem o que a gente chama de outorgas. Então ele está preparado para a implantação de usinas e tem desenvolvido muitos projetos que a gente chama de greenfields, que estão centralizados e são um dos maiores”, disse Francisco. 

Energia Solar (Foto: hccenergiasolar.com.br)

Uma nova regulação do setor ocorreu com a lei nº 14.300, que institui o marco legal da microgeração e minigeração distribuída e o Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Então, antes dessa lei, quem instalava painéis solares em residências poderia armazenar a energia em baterias isoladas da rede pública ou conectar o sistema à rede de abastecimento para descarregar o excedente gerado para as distribuidoras.

Mudanças na lei

Alguns benefícios da opção de conectar o sistema à rede eram os chamados créditos de energia solar, recebidos em descontos na conta de luz. Além do uso automático da eletricidade pública quando o sistema solar próprio não gerava energia suficiente.

Porém, um dos principais elementos da nova legislação é a taxa de energia solar, que vai incidir na conta de luz com a Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TSUD) Fio B, que se trata da infraestrutura das distribuidoras, como postes e cabos. Mas apesar da mudança de cobrança de tarifas sobre algo que as pessoas instalavam também para baratear a conta de luz, Francisco Maiello se mantém otimista com o setor.

“A energia solar é um dos conceitos do ESG, das questões ambientais e ela é extremamente competitiva. Mesmo com essas mudanças da lei, só tende a crescer. A energia solar está consolidada, tem o seu espaço e vai continuar crescendo a passos largos, visto que a divulgação se torna cada vez mais intensa”, disse.

Instalação de placas solares (Foto: hccenergiasolar.com.br)

A lei nº 14.300 prevê que a cobrança da geração de energia solar seja gradual. Além disso, também diz que as pessoas que já instalaram os painéis ou que instalaram até 6 de janeiro de 2023, não devem pagar a taxa até 2045. Ainda assim, Francisco Maiello ressaltou que a regulação do setor é importante. 

“A discussão da regra é da energia que vai transitar dentro da rede da distribuição e da transmissão que já existe. E isso tem que ser remunerado obviamente, mas o total ajuste disso é que é importante”, pontuou.

Luz do sol

A energia solar é então convertida em energia elétrica através da radiação emitida pelo sol. Desta forma, o Brasil possui um grande potencial energético e, dentro do país, Goiás se sobressai. “Goiás tem uma radiação muito favorável”, frisou Maiello.

“Obviamente que a gente tem estados com irradiação maior, principalmente no Nordeste. Mas quando a gente pensa na implantação de um projeto, não só a irradiação mas a temperatura afeta muito, e isso acaba favorecendo Goiás um pouco em relação ao Nordeste”, pontuou Francisco. 

Além disso, o Coordenador Estadual da Absolar afirmou que questões logísticas também afetam a produção e distribuição dessa energia. “No Centro-Oeste tem mais facilidades de construir, manter e operar essas plantas. Então, Goiás acaba sendo um estado muito privilegiado, não só pela questão da radiação, mas também por esses outros fatores que no final das contas acabam pesando para o investidor”, disse.

Pôr do Sol no Eixo Monumental em Brasília (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Conversão da radiação

A taxa cobrada sobre a energia solar não representa uma cobrança sobre o uso do sol. Afinal, a estrela do Sistema Solar não pode ser taxada, mas para converter sua luz em energia é preciso um processo com ferramentas feitas de materiais específicos, e principalmente, depois de produzida, toda essa energia deve ser armazenada.

Conforme explicação de uma empresa do setor, o processo de captação e conversão da radiação ocorre através da tecnologia fotovoltaica, que desenvolve uma força eletromotriz ao ser iluminada pela luz que recebe do sol. E essa ação acontece então por meio de módulos fotovoltaicos compostos de células que captam e absorvem a luz do sol e a transmitem para as placas solares. 

As placas, por sua vez, possuem uma tinta especial que diminui a refração da luz e, assim, garantem a captação da energia. E após esse processo, a radiação solar é transformada pelos módulos e convertida para a forma que é usada nos aparelhos eletrônicos por um inversor de frequência, que muda a corrente contínua e a alterna para 110 volts ou 220 volts.    

Energias renováveis

O Brasil assinou o Acordo de Paris e firmou o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2025. Assim, uma das metas para atingir esse objetivo é o crescimento da geração de energias renováveis em torno de 45%. O tratado global foi assinado em 2015 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a fim de firmar medidas para reduzir a emissão de dióxido de carbono.

Usina de Energia Eólica em Icaraí, no Ceará, transforma vento em eletricidade (Foto: Foto: Ari Versiani/PAC)

Diante da questão ambiental, Francisco Maiello explicou que a tendência é, assim, de um grande crescimento da fonte solar. “Isso está planejado e a tendência de todos os cenários da Empresa de Pesquisa Energética e da maior parte das empresas que estudam os mercados, é que a energia solar até 2050, não só no Brasil mas como no mundo, teria que ser a principal fonte a ser utilizada”, disse.

O Coordenador Estadual da Absolar em Goiás fez uma análise da instalação de placas e usinas solares na última década e ressaltou que o cenário é positivo para o setor nos próximos anos.

“A energia solar em 2015 nem entrava na matriz energética do Brasil e em 2022, sete anos depois, já é a terceira maior fonte. E não tenho dúvida que em 2023 já será a segunda maior fonte. É um caminho natural que vai acontecer”, celebrou.

Democrática

Placas solares (Foto: Claudivino Antunes/Prefeitura de Aparecida)

A energia solar pode ser gerada em qualquer lugar que haja sol. Desde telhados de residências, empresas, fábricas, estacionamentos. Pois a incidência de sol é alta em qualquer lugar do Brasil. Então, para Francisco, esse fato a torna a energia mais democrática que existe. 

“Todas as outras fontes têm restrição, mas se você pegar o mapa solar do Brasil, faz sol em alguns lugares menos e em outros mais, mas todo lugar faz sol. E é isso que permite que a energia solar seja democrática e descentralizada”, argumentou.

Entre outros pontos, Francisco ressaltou a versatilidade para ser instalada, além do baixo impacto para o meio ambiente.

“Uma hidrelétrica tem que ter um rio específico para alagar uma área específica e a eólica precisa ter o vento ideal em tal lugar. A Biomassa precisa ser plantada em um local específico. O gás natural tem que extrair. Quer dizer, todas as outras fontes tem muita especificidade da localização. O solar não, por isso que o solar tem crescido a passos largos”, disse.

Alguns projetos em Goiás são notáveis por essa versatilidade de locais onde podem ser instalados os painéis solares.

Estacionamento da UniEvangélica

Estacionamento da UniEvangélica em Anápolis (Foto: Divulgação/Enel)

A Enel, antiga distribuidora de energia de Goiás, instalou o maior estacionamento solar do Brasil em Anápolis, na Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica). Ademais, a estrutura que funciona desde 2019 é fonte de energia limpa para a instituição.

Segundo a UniEvangélica, o estacionamento tem capacidade para 700 veículos e, desde sua inauguração, a usina já gerou energia suficiente para o consumo de 1.500 residências.

Parque de Usinas Fotovoltaicas da UFG

Instalação em prédio da UFG (Foto: Secretaria de Comunicação da UFG)

Em 2021, a Universidade Federal de Goiás ampliou o seu Parque de Usinas Fotovoltaicas nos Campus Colemar Natal e Silva e Campus Samambaia em parceria também em parceria com a Enel Distribuição Goiás. São 24 usinas em funcionamento, com mais 10 mil módulos fotovoltaicos em telhados e no solo.

De acordo com a UFG, a usina responde por 36% da energia elétrica utilizada e, então, faz parte de um projeto para investir em fontes renováveis.

Hidrelétrica de Batalha 

Usina Hidrelétrica de Batalha (Foto: Facebook/Furnas)

A Tractebel anunciou em 2020 que desenvolverá painéis solares flutuantes no reservatório da Usina Hidrelétrica Batalha no rio São Marcos, entre os municípios de Cristalina (GO) e Paracatu (MG). Esse reservatório é administrado pela Furnas Centrais Elétricas. 

O projeto de Usinas Fotovoltaicas Batalha (UFVs) I, II e III, segundo a empresa, deve atingir a potência instalada de 30 MWp, com  cerca de 90.900 módulos fotovoltaicos instalados em 15 hectares. Mas o Brasil ainda possui a maior usina solar fotovoltaica da América Latina, localizada em Pirapora, Minas Gerais.

O setor de energia solar é acompanhado pela Absolar nos 26 estados e no Distrito Federal. Assim, a entidade é uma das associações que promovem e representam essa fonte de energia renovável dentro do país e internacionalmente. 

Outra organização que acompanha o setor é a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), que anunciou em 2022, que a capacidade de geração própria de energia elétrica no país. Pro exemplo, como a geração em telhados que alcançou a marca de 14 gigawatts (GW). É então a mesma potência instalada da usina de Itaipu, que é a maior hidrelétrica em operação no Brasil.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7 da Organização das Nações Unidas busca garantir fontes de energia limpa e acessível para todos.

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