O governador Marconi Perillo conheceu, na semana passada, um estudo encomendado pela Federação das Indústrias (Fieg) sobre investimentos na infraestrutura de transporte no Centro-Oeste. “Essa iniciativa da Confederação Nacional das Indústrias e da Fieg é muito louvável”, elogiou Marconi. “Durante meses, o extenso trabalho diagnosticou todos os gargalos na região, a mais importante no País na produção de alimentos na geração de empregos, na exportação e no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)”. Outra boa notícia é federal: Brasília anunciou a liberação de recursos para construção de silos. O armazenamentos da produção é outro problema enfrentado pela agroindústria em Goiás e no resto do país.

A reação das autoridades é fruto da cobrança das entidades do setor agropecuário. O presidente da Federação da Agricultura (Faeg), José Mario Schreiner, avalia que um dos grandes problemas enfrentados pelos grandes produtores é no transporte de grãos. “O grande desafio que Goiás e o Centro-Oeste enfrentam é a falta de infraestrutura e logística. Goiás tem os produtores mais competentes e profissionais, não só do Brasil, mas do mundo”. Schreiner classifica de “fantástico” o crescimento da produtividade no Estado, mas a falta de modais de transportes eficientes “tira muito a competividade”.

Os números confirmam: “Um produtor americano recebe 95% da sua produção e 5% vão para o custo logístico”, explica Schreiner. “Já no Brasil cai para 78%, só aí são 22% que o produtor brasileiro perde em competitividade em relação aos produtores americanos, nossos grandes concorrentes”. Para ele, a estrutura “é o grande desafio”, pois há cada vez mais gente consumindo e cada vez menos corajosos com audácia de investir na produção. Até os anos 1970, a população no Brasil era predominantemente rural, com agricultura e pecuária de subsistência. A necessidade de conforto e, principalmente, educação para os filhos fez com que 60% dos agricultores migrassem para as cidades.

Bom exemplo de modernidade
Atualmente, 85% da população brasileira é urbana. Com escassez de mão-de-obra, o campo investiu em tecnologia e as máquinas foram incorporadas ao dia-a-dia do produtor. A produção aumentou e as agroindústrias tomaram conta do campo. Em Goiás, a situação não é diferente. Um bom exemplo de modernidade é a Fazenda Jaboticabal, em Hidrolândia, na Grande Goiânia. A propriedade, com milhares de pés de jabuticaba, foi transformada em complexo industrial. Produz vinhos, geleia, cachaça e até cosméticos, tudo da frutinha redonda e preta que é exclusividade nacional.

Um dos sócios da fazenda, Paulo Antonio Silva, conta que a mudança se deu a partir de 1994. “As frutas se perdiam durante a safra e resolvemos aproveitá-las”. Silva reconhece que, se não fosse a fabricação, os negócios da fazenda não teriam como ser sustentados. “Os produtos industrializados são nossa principal fonte de renda e fundamentais para a sobrevivência”. Se fosse vender a fruta, o mercado seria incerto, porque sazonal: “Industrializada, a produção pode acontecer o ano todo”. Migrar? De jeito nenhum: “Não trocaria o campo pela cidade. Nasci aqui [na fazenda] e fui criado aqui. Hoje isso aqui anda muito moderno”.

O bancário Wilton Roberto Guimarães fez o caminho inverso, trocou a cidade pelo campo. Há 12 anos ele planta soja, no município de Niquelândia, no Norte de Goiás. Para Guimarães, é irreversível o processo de modernização e industrialização no campo. “Peço a Deus todos os dias para aumentar mais a produção e enfrentar os altos custos e aumento da produtividade”, roga o fazendeiro. “A informatização está bem atualizada, a tecnologia em todo lugar”. Os produtores fazem a sua parte. Faltam os governos cumprirem a deles. O estudo da Fieg entregue a Marconi receita exatamente isso – se estradas, portos, aeroportos e energia elétrica tivessem a excelência do que o produtor faz da porteira para dentro, o Brasil estaria em outro nível.